As autoridades francesas iniciaram nesta segunda-feira (19) uma vasta operação policial contra movimentos islâmicos após a decapitação, na sexta-feira, de um professor que foi vítima de uma fatwa, segundo o ministro do Interior, por mostrar a seus alunos caricaturas de Maomé.
Os alvos da operação são "dezenas de indivíduos que não têm necessariamente um vínculo com a investigação", mas para quem o governo "obviamente quer enviar uma mensagem".
Quinze pessoas foram detidas hoje devido à investigaçãpo antiterrorista, entre eles quatro estudantes, informou uma fonte judicial.
Foi detida uma pessoa que "já foi condenada por terrorismo e declarou estar relacionada ao assassino muito antes do ocorrido". Segundo uma fonte próxima ao caso, o professor decapitado foi "apontado" para o assassino, Abdullakh Anzarov, "por um ou vários estudantes do colégio, a priori em troca de um pagamento".
Não existe "dar um minuto de trégua aos inimigos da República", afirmou o ministro, Gérald Darmanin, à rádio Europa 1.
Segundo uma fonte próxima ao caso, tratam-se de pessoas fichadas pelos serviços de inteligência por suas pregações radicais e mensagens de ódio nas redes sociais.
Desde o assassinato de Samuel Paty, que ensinava História e Geografia em uma escola do ensino médio em Conflans Sainte-Honorine, oeste de Paris, "mais de 80 investigações" foram abertas contra "todos aqueles que, de forma apologética, disseram de uma forma ou de outra que esse professor tinha buscado (o assassinato)", disse Darmanin, que citou várias detenções.
O assassinato de Samuel Paty chocou a França. Milhares de pessoas se manifestaram no país no domingo em defesa da liberdade de expressão e para dizer não ao "obscurantismo", enquanto o presidente Emmanuel Macron convocou um conselho de defesa à noite.
Macron disse que "o medo mudará de lado".
"Os islamitas não devem poder dormir em paz em nosso país", disse o Eliseu.
No final de uma reunião de duas horas e meia com o primeiro-ministro, Jean Castex, cinco ministros e o procurador antiterrorista Jean-François Richard, Macron anunciou um "plano de ação" contra "estruturas, associações ou pessoas próximas a círculos radicalizados" que propagam convocações ao ódio.
Segundo o ministro do Interior, Gérald Darmanin, 51 associações "vão receber várias visitas dos serviços do Estado ao longo da semana e várias delas (...) serão dissolvidas pelo Conselho de Ministros".
O ministro quer, em particular, dissolver o Coletivo contra a Islamofobia na França (CCIF) - "um certo número de elementos nos levam a crer que é um inimigo da República" - assim como a associação humanitária Baraka City, fundada por muçulmanos da linha salafista.
- "Fatwa" -
O ministro da Justiça, Eric Dupond-Moretti, convocou com urgência os procuradores na manhã desta segunda-feira para, segundo o seu entorno, garantir "uma colaboração perfeita com os prefeitos e as forças de segurança interna na aplicação e seguimento das medidas exigidas pela situação".
O ministro do Interior também acusou o pai de uma estudante de Conflans Saint-Honorine e d militante islâmico radical Abdelhakim Sefrioui de terem "claramente emitido uma fatwa" contra Paty por ter mostrado caricaturas de Maomé nas aulas.
Os dois homens, que lançaram uma campanha de mobilização para denunciar a iniciativa do professor, estão entre 11 pessoas presas.
O assassinato do professor foi cometido por Abdullakh Anzorov, um russo da Chechênia de 18 anos, nascido em Moscou, que foi morto por nove tiros da polícia pouco depois.
Investigadores tentam descobrir se ele foi "liderado" por alguém ou se decidiu sozinho atacar o professor.
O Parlamento Europeu fez um minuto de silêncio em sua sessão plenária desta segunda-feira, em homenagem a Samuel Paty.
"Nossos pensamentos estão com a família de Samuel Paty e seus entes queridos, e com todos os funcionários de educação na França e em todos os lugares", disse o presidente do Parlamento, David Sassoli, que acrescentou que "o terror se enfrenta com a educação, através da educação".