A França prestou uma homenagem nacional nesta quarta-feira (21), em Paris, a Samuel Paty, professor decapitado na sexta-feira passada em um atentado que foi perpetrado porque ele "incorporou a República Francesa", de acordo com o presidente Emmanuel Macron.
"Vamos continuar, professor. Vamos defender a liberdade que o senhor tão bem ensinou e vamos defender o secularismo, não vamos renunciar às caricaturas", declarou o chefe de Estado na cerimônia que aconteceu na Universidade da Sorbonne.
"Era um daqueles professores de quem não esquecemos", acrescentou Macron, que também denunciou os "covardes" que levaram o professor a ser decapitado pelos "bárbaros".
Antes do início da cerimônia no pátio da Sorbonne, Macron concedeu postumamente a Paty a Legião de Honra, a principal condecoração francesa.
O filho de 5 anos da vítima também será declarado um "pupilo da nação", uma distinção atribuída a crianças cujos pais morreram na guerra ou em um ataque.
O professor foi assassinado em um subúrbio parisiense porque havia mostrado a seus alunos em um curso sobre liberdade de expressão caricaturas de Maomé publicadas pelo semanário satírico Charlie Hebdo, e que motivaram dois ataques islâmicos contra jornalistas da publicação.
Dois menores de 14 e 15 anos foram acusados de terem mostrado ao assassino, Abdullakh Anzorov - um jovem refugiado russo de origem chechena - quem era o professor a quem procurava em troca de "300 a 350 euros", segundo o promotor antiterrorista Jean-François Ricard.
De acordo com promotoria antiterrorista, os adolescentes foram indiciados por "cumplicidade em assassinado relacionado com ato terrorista" e colocados sob "controle judicial", informaram fontes judiciais.
A promotoria pediu a prisão preventiva de pelo menos um dos menores, mas o pedido foi negado pelos juízes de instrução que indiciaram os dois.
Segundo a promotoria, além deles, o pai de uma aluna, Brahim Chnina, e o islamita radical Abdelhakim Sefrioui, foram acusados de "cumplicidade em assassinado terrorista".
Dois amigos do assassino, Naim B. e Azim E., também foram indiciados pelo mesmo crime. Um terceiro, Yussu C., foi acusado de "associação criminosa com vistas a praticar um crime contra as pessoas".
Todos os indiciados estão em prisão preventiva, exceto Chnina, que foi detido à espera de uma debate sobre a situação.
Nove detidos foram inicialmente libertados, incluindo três estudantes, bem como os pais, avô e irmão mais novo do agressor.
- Acusado nas redes sociais -
O pai da aluna indiciado nesta quarta iniciou uma mobilização por meio de vídeos nas redes sociais após a aula sobre liberdade de expressão que o professor ministrou no dia 5 de outubro, quando exibiu as caricaturas.
Dias depois da publicação dos vídeos, Samuel Paty foi decapitado no meio da rua pelo checheno de 18 anos, que mais tarde foi morto a tiros pela polícia.
Nas investigações, o pai, Brahim C., e o militante islâmico Abdelhakim Sefrioui foram acusados de ter "especificamente designado o professor como alvo nas redes sociais".
Os investigadores antiterroristas também estavam interessados nas mensagens trocadas no WhatsApp entre esse pai e o assassino.
Segundo fontes próximas ao caso, o assassino, após publicar nas redes a foto de sua vítima decapitada, enviou uma mensagem de áudio em russo pouco claro na qual dizia ter "vingado o profeta", censurando o professor por ter "mostrado isso de forma insultuosa".
Nesta mensagem, o agressor parece quase sem fôlego e profere frases do Alcorão: "Irmãos, orem para que Alá me aceite como um mártir", diz ele, de acordo com uma tradução da AFP.
- Ofensiva contra o islamismo -
O presidente francês disse na terça-feira que as medidas contra o islamismo radical serão intensificadas.
"Não é uma questão de fazer novas declarações (...) os cidadãos esperam ações. Essas ações vão se intensificar".
Na mira está o coletivo pró-palestino Cheikh Yassine, criado por Abdelhakim Sefrioui e que foi dissolvido nesta quarta-feira no Conselho de Ministros.
Da mesma forma, cerca de cinquenta associações consideradas próximas ao "islamismo radical" poderão ser fechadas.
Após o assassinato, as autoridades francesas prometeram "uma guerra contra os inimigos da República".
A mesquita Pantin, na periferia de Paris, que costuma reunir cerca de 1.300 fiéis, também ficará fechada por seis meses.
Seus responsáveis são acusados de terem divulgado o vídeo do pai da aluna.
As autoridades francesas prometeram "uma guerra contra os inimigos da República".
"Não é mais uma questão de saber se haverá um ataque, mas quando", justificou o ministro do Interior, Gérald Darmanin.
Este último atentado insere-se no "contexto de apelo aos assassinatos", lançado após a republicação das caricaturas de Maomé pelo semanário satírico Charlie Hebdo, no início de setembro, antes do início dos julgamentos pelos atentados contra o semanário e a mesma causa em 2015, segundo o procurador Ricard.
Ele citou o atentado com um facão cometido no dia 25 de setembro, em frente às antigas instalações deste semanário em Paris, e "três comunicações" da Al-Qaeda que pediam o "assassinato" das pessoas que deram origem à retransmissão desses desenhos.