Jornal Estado de Minas

Entre a pandemia e a eleição, um Halloween arrepiante nos EUA

O Halloween se tornou uma verdadeira indústria para esta área do Vale do Rio Hudson, atraindo mais de 100.000 turistas de todo o mundo todo mês de outubro por causa do conto "The Legend of Sleepy Hollow", sobre um professor supersticioso sendo perseguido por um cavaleiro sem cabeça publicado por Washington Irving, em 1820, e transformado em filme várias vezes, entre outros pela Disney e Tim Burton.





Mas o coronavírus - que tirou a vida de mais de 226 mil americanos - continua em crescimento e forçou o cancelamento de atividades de alto risco na área, como a visita a várias "mansões mal-assombradas", onde palhaços maníacos ou monstros assustam os visitantes no escuro.

Croton-on-Hudson, no entanto, é bastante apegada ao seu grande evento: o "Jack O'Lantern Blaze", que conta com mais de 7.000 abóboras esculpidas à mão que todas as noites ganham vida em meio a um show de luzes e sons nos jardins do mansão fantasmagórica de Van Cortlandt, datada do século 17.

"Estou muito feliz que isso continue este ano. Há tantas coisas que as crianças não puderam fazer, é bom ter uma tradição de Halloween da qual podemos participar", afirma Sarah Nocerino, de 36 anos, mãe de duas meninas, que todos os anos viajam de Connecticut para prestigiar o evento.





- "Halloween é o Natal daqui" -

A capacidade foi reduzida para 33% e alimentos e bebidas não serão vendidos. No entanto, os visitantes ficam perplexos com o que pôde ser feito com as abóboras: desde uma enorme estátua da liberdade a um carrossel com esqueletos de cavalos.

Sem falar no Pumpkin Art Museum (MoPA), com "O Grito" de Munch, La Gioconda e até um Banksy.

Neste ano há menos turistas, e a maioria dos visitantes acabam sendo moradores do próprio local, por causa do vírus e da quarentena imposta por Nova York a visitantes de mais de 40 estados.

"Tomamos todas as precauções para torná-la uma experiência segura. E é ótimo para levantar a moral!", conta Rob Schweitzer, do Historic Hudson Valley, a organização sem fins lucrativos que organiza o evento.

Perto de Croton, no cemitério de Sleepy Hollow, o sacristão da igreja Old Dutch Church termina uma tour com um grupo de adolescentes.





"O Halloween é Natal aqui, provavelmente é a maior comemoração pública", explica John Paine, de 54 anos, em frente ao túmulo de Irving, entre carvalhos e ciprestes que perderam suas folhas ocre com o vento.

A lápide foi substituída várias vezes porque os fãs do autor roubavam as peças com marteladas.

Em 1996, após o fechamento de uma fábrica da General Motors, a cidade de North Tarrytown votou para se tornar Sleepy Hollow, e desde então é Halloween durante todo o ano aqui.

O cavaleiro sem cabeça é onipresente e seu perfil está presente até nas ambulâncias do povoado.Caminhões de bombeiros e placas da rua são laranja e pretas.

A igreja de 1685 apresentada no conto de Irving neste ano cancelou a apresentação teatral da lenda, mas os passeios ao cemitério à luz dos faróis ainda permanecem.

Salem, em Massachusetts, onde os julgamentos das bruxas foram realizados há mais de 300 anos, "é grande o suficiente para fazer isso o ano todo, temos nossa chance todo mês de outubro. Seria realmente uma estação triste se não tivéssemos abóboras, fantasmas, duendes e esqueletos", ressaltou Paine.





- O maior medo? Que as pessoas não votem -

A poucos dias de uma eleição altamente polarizada entre o presidente republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden, este Halloween adquiriu um forte tom eleitoral.

"Você sabe o que é mais assustador do que o Halloween? Que as pessoas não votem", argumentou a procuradora-geral de Michigan, Dana Nessel, em um vídeo em sua conta no Twitter em que ela aparece em uma fantasia assustadora.

Há até fantasias sobre votos pelo correio, e até uma peruca do vice-presidente Mike Pence com uma mosca, como a que estava presa em seu cabelo no debate contra a adversária democrata Kamala Harris.

Em alguns jardins, as decorações são inspiradas na covid-19 e os esqueletos usam máscaras.

Da Califórnia a Massachusetts, vários estados pedem quq as crianças não peçam guloseimas de porta em porta no dia 31 de outubro, como manda a tradição, embora não o tenham proibido.

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) alertam que é arriscado, assim como as festas à fantasia. Recomendam que os doces sejam deixados longe da porta, em sacolas individuais.

Nova York substituiu seu enorme desfile de Halloween no Village, que atrai cerca de 60.000 pessoas todos os anos, por um show de fantoches virtual de artistas desempregados da Broadway.

No entanto, Croton-on-Hudson mantém seu "desfile dos duendes" no dia 31, anunciou o prefeito Brian Pugh à AFP.

"Após sete meses de pandemia, o golpe emocional do distanciamento social afetou o ânimo de muitos", disse ele, antes de desejar a todos "um Halloween assustador, mas seguro".





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