A octogenária Marie Thomas, que corre para comprar cartões de Natal em uma loja de departamentos no centro de Londres decorada com luzes e guirlandas de Natal cintilantes, está "farta" do novo coronavírus, às vésperas do segundo confinamento na Inglaterra.
Assim como ela, um punhado de clientes compra artigos e acessórios de Natal dois dias antes do fechamento de quatro semanas de lojas não essenciais, no âmbito do novo confinamento decretado pelo governo conservador de Boris Johnson para deter a segunda onda de contágios no território.
"Quando acabarmos o confinamento, o vírus continuará aí. Para onde isso nos leva?", questiona Marie, de 84 anos, que usa máscara.
"Estou fazendo as compras de Natal", acrescenta, apontando para os cartões de Natal em sua cesta, "porque (as lojas) estão fechando, e não poderemos ir a lugar algum a partir de quarta-feira".
"Espero que possamos celebrar o Natal" com toda família, incluindo seus bisnetos, acrescenta ela.
"Falei para minha filha: Papai Noel tem que vir pelas crianças, certo? Temos que seguir vivendo nossas vidas", completou.
Outro cliente, Andrew, manifesta o mesmo ceticismo sobre a eficácia do confinamento, enquanto olha para as decorações natalinas.
"Sinceramente, sou totalmente contra. Acho que esta situação foi inflada além da compreensão", lamenta. "Na realidade, isso destrói toda economia do país", completou.
A partir desta quinta-feira (5) e até dia 2 de dezembro, as lojas não essenciais terão de fechar as portas. Restaurantes, "pubs" e cafés poderão vender apenas para levar, ou fazer entrega em domicílio.
Os habitantes da Inglaterra deverão trabalhar remotamente, quando possível, e poderão sair de casa apenas por motivos específicos, como fazer exercícios, ou ir ao médico.
Ao contrário do primeiro confinamento em março, que foi sendo desmantelado gradualmente ao longo do verão, as escolas permanecerão abertas.
Na segunda-feira (2), a organização patronal CBI alertou que o confinamento da Inglaterra, que pode mergulhar o país de volta na recessão, será "verdadeiramente devastador" para a economia britânica, já de joelhos pela pandemia.
A federação de comerciantes britânicos, o BRC (British Retail Consortium), fala de um "pesadelo antes do Natal" na The Night Time Industries Association, que representa em particular bares, "pubs" e discotecas, e alertou para um "apocalipse financeiro".
- Natal menos consumista -
Na Oxford Street, a artéria mais comercial do centro de Londres, as luzes de Natal foram acesas na segunda-feira apesar de tudo, embora sem o alvoroço habitual. A cada semana, eles exibirão o nome de um "herói", escolhido pelo público, que ajudou outras pessoas durante a pandemia.
Perto dali, na Regent Street, a enorme loja de brinquedos Hamleys, com mais de dois séculos de história, toca a música de um filme da Disney, enquanto funcionários vestidos de vermelho recebem os clientes dançando.
Com uma sacola cheia de presentes para sua filha de oito anos, Amanda Crook, uma reflexologista de 48 anos que visitou Londres durante o dia, expressa sua surpresa com a quantidade de clientes.
"É muito triste ver as lojas tão vazias. Faz muito tempo que não venho a Londres. Nunca a via tão tranquila", lamentou.
Ela diz, porém, que concorda com o confinamento, "se isso salvar vidas".
A advogada Lucy James, de 35 anos, que fotografa sua filha de três anos do lado de fora da loja de luxo Liberty, acredita que o Natal será menos consumista este ano, já que o vírus afetou o bolso de muita gente.
"Acho que este ano o Natal será menor", com "menos despesas", já que "todos passaram por momentos difíceis", antecipa.
"É o que devemos fazer. Desacelerar tudo e esperar entrar em um mundo muito melhor com o novo ano", afirmou.