Desde terça-feira, 3, o Pennsylvania Convention Center, onde é feita a apuração dos votos no Estado, tem um apelido: é a "fábrica de votos". É dali, um centro de eventos com quase um milhão de metros quadrados, que os democratas esperam que saiam os votos que levarão Joe Biden à presidência - a Pensilvânia tem 20 votos no colégio eleitoral, mais do que ele precisa para chegar à Casa Branca.
Por ser decisivo, o local tem recebido manifestantes democratas e republicanos. A esquina entre N12 St e Arch St foi fechada na tarde de quinta-feira, 5. De um lado, em frente ao centro de convenções, apoiadores do presidente Donald Trump hastearam bandeiras da campanha e cartazes com o imperativo "Pare de roubar!". Barricadas e um cordão de policiais de bicicleta separavam aproximadamente 50 republicanos dos apoiadores de Joe Biden, que somavam pelo menos 100. Um helicóptero da polícia sobrevoava o local e cerca de 50 agentes estavam alertas em um parque próximo.
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As manifestações na Pensilvânia tiveram o incentivo do presidente. Na manhã de quarta-feira, 4, um dos filhos de Trump, Erik, e o advogado e ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani foram à Filadélfia anunciar que estavam acionando a Justiça para interromper a apuração. A campanha republicana repetiu a estratégia em outros Estados onde a vantagem do presidente diminuiu com o avanço da contagem dos votos à distância, contabilizados só depois das cédulas depositadas no dia da eleição.
"Eu precisava vir aqui apoiar o presidente, ele está isolado na Casa Branca. O povo precisa mostrar que sabe da fraude que está acontecendo nesse país", afirmou Ken Cooper, de 26 anos. A lealdade dos apoiadores de Trump é proporcional ao entusiasmo dos democratas. Victor Torres, de 45 anos, participa de protestos antirracismo desde a metade do ano. Agora está na frente da "fábrica". "O presidente Trump faz pouco para condenar o ódio nesse país e agora tenta suprimir o direito do voto dos negros. Ele quer que as nossas cédulas não sejam contadas", disse Torres.
Espelho do país
Uma vitória de Biden na Pensilvânia deve servir de laboratório para que os democratas conduzam uma nova gestão com o objetivo de anular os efeitos do trumpismo, segundo o professor de ciência política da Universidade Hamline, David Schultz.
O Estado, afirmou ele, pode ser considerado quase um espelho do país com duas zonas urbanas expressivas, extensos subúrbios, população rural relevante e um parque industrial atingido com força pela globalização, que levou as indústrias a deixarem os Estados Unidos para produzir com mão de obra mais barata no exterior.
Schultz disse que uma derrota de Trump nas urnas é diferente de uma derrota do movimento criado por ele. "Trump é somente a persona do trumpismo, da mesma maneira que Juan Perón era o personagem do peronismo. Existem muitas forças que criaram Donald Trump que não vão desaparecer", disse.
De acordo com o professor da Universidade Hamline, "o que alimenta o trumpismo é a ansiedade e o medo. Medo de mudanças demográficas e raciais e desconforto econômico incomodam muita gente", disse. "A administração Biden e os democratas têm de fazer com que essas pessoas se sintam confortáveis e seguras com essas mudanças. O quão bem-sucedidos eles vão ser, eu não sei."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.