Quando anunciou formalmente sua entrada na corrida presidencial de 2020, Joe Biden - eleito neste sábado (07/11) presidente dos EUA - afirmou que defendia duas coisas: os trabalhadores que "construíram este país" e valores que possam superar divisões pessoais.
Prestes a assumir um país com grandes desafios, desde a devastação causada pela pandemia do novo coronavírus até a desigualdade racial, ele concorreu (e venceu) com uma plataforma que propunha a criação de novas oportunidades de trabalho e o restabelecimento de salvaguardas ambientais, alianças internacionais e proteções de saúde aos americanos.
Abaixo, mais detalhes de como o presidente eleito se posiciona em 8 questões%u2010chave:
1. Coronavírus: programa nacional de testes e rastreamento
A proposta de Biden para enfrentar o avanço do coronavírus nos EUA é oferecer testes grátis à população e contratar 100 mil colaboradores para criar uma rede nacional de rastreamento de contatos de pessoas potencialmente infectadas.
Ele diz que quer estabelecer ao menos dez centros de testagem em cada Estado, convocar agências federais para alocar recursos para a força-tarefa e usar especialistas das agências federais para dar uma orientação mais firme em âmbito nacional.
Biden defende, por exemplo, que todos os governadores deveriam tornar obrigatório o uso de máscaras.
Os eleitores que tradicionalmente desconfiam das autoridades federais vão ver isso como um abuso, mas a medida está em linha com a visão geral de Biden ou do Partido Democrata sobre o papel do governo.
2. Emprego e renda: reajuste do salário mínimo e investimento em energia renovável
Para fazer frente ao impacto causado pela pandemia de covid-19, Biden se comprometeu a gastar "o que fosse preciso" para estender os programas de concessão de crédito a pequenos negócios e aumentar o pagamento de auxílio emergencial às famílias.
Entre as propostas, está um adicional de US$ 200 (R$ 1.070) no benefício pago pela Seguridade Social, com consequente revogação dos cortes de impostos promovidos por Trump durante seu mandato.
A política econômica encampada pela chapa, batizada de "Build Back Better" ("reconstruir melhor", em tradução livre), tem como foco principal dois grupos que tradicionalmente votam em candidatos democratas: jovens e trabalhadores braçais (os chamados "blue collar workers").
A proposta de aumento do salário mínimo federal para US$ 15 por hora (cerca de R$ 80) ecoou entre os eleitores mais jovens e virou uma espécie de símbolo da sigla em 2020 - uma sinalização de um posicionamento mais à esquerda.
Biden também já mencionou a intenção de investir algo em torno de US$ 2 trilhões (mais de R$ 10 trilhões) em energia renovável e defendeu produção sustentável como um caminho para fortalecer os trabalhadores sindicalizados, bastante presentes nesses setores.
Há ainda a promessa de gastar em torno de US$ 400 bilhões (R$ 2,1 trilhões) em compras governamentais direcionadas a produtos da indústria americana, alinhada ao compromisso mais amplo de fortalecer leis que incentivem a compra de produtos feitos por empresas locais em projetos na área de transportes.
Biden já foi criticado por apoiar o Nafta, acordo de livre comércio da América do Norte, que, para alguns, facilita a transferência de empregos que hoje estão nos Estados Unidos para outros países.
3. Questão racial: reforma do sistema judicial penal
Na esteira dos protestos raciais que atingiram os EUA neste ano, ele disse acreditar que o racismo existe nos EUA e deve ser combatido por meio de amplos programas econômicos e sociais de apoio às minorias. Um dos pilares de seu programa de "reconstrução" é criar suporte empresarial para minorias por meio de um fundo de investimento de US$ 30 bilhões (R$ 160 bilhões).
Na justiça criminal, ele se afastou de sua posição muito criticada, de ser "duro contra o crime", dos anos 1990. Biden agora propôs políticas para reduzir o encarceramento, lidar com disparidades de raça, gênero e de renda no sistema judiciário e reabilitar prisioneiros libertados. Ele criaria agora um programa de doações de US$ 20 bilhões (R$ 107 bilhões) para incentivar os estados a investirem em esforços de redução do encarceramento, eliminar sentenças mínimas obrigatórias, descriminalizar a maconha, e acabar com a pena de morte.
No entanto, ele rejeitou pedidos para reduzir recursos à polícia, dizendo que os recursos deveriam ser vinculados à manutenção de padrões. Ele argumenta que parte do financiamento para a polícia deve ser redirecionado para serviços sociais, como saúde mental, e fala em um investimento de US$ 300 milhões (R$ 1,6 bi) em programa de policiamento comunitário.
4. Mudança climática: reingressar no acordo global
Biden classificou a mudança climática como ameaça existencial e diz que vai reunir o resto do mundo para agir mais rapidamente na redução das emissões, ingressando novamente no Acordo de Paris. O acordo, do qual Donald Trump se retirou, previa comprometimento dos EUA com a redução dos gases de efeito estufa em até 28% até 2025, com base nos níveis de 2005.
Embora ele não adote o Green New Deal (pacote de clima e empregos apresentado pela ala esquerda de seu partido), Biden está propondo um investimento federal de US$ 1,7 trilhão em pesquisas de tecnologias verdes (alguns dos quais se sobrepõem ao financiamento de seu plano econômico, a ser gasto nos próximos 10 anos) e quer que os EUA atinjam emissões líquidas zero até 2050 - um compromisso que foi feito por mais de 60 outros países no ano passado. China e Índia, os outros dois maiores emissores de carbono, ainda não aderiram ao compromisso.
Os investimentos se encaixam em seu plano econômico de criar empregos na fabricação de produtos de "energia verde".
5. Política externa: restaurar a reputação da América... e lidar com a China
Biden escreveu que, como presidente, ele se concentraria primeiro nas questões nacionais. Dito isso, pouco sugere que os valores de Biden na política externa se afastaram do multilateralismo e do engajamento no cenário mundial, em oposição aos valores claramente isolacionistas de Trump.
Ele também prometeu consertar relações com os aliados dos EUA, especialmente com a aliança da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que Trump repetidamente ameaçou minar com cortes de recursos.
O ex-vice-presidente disse que a China deveria ser responsabilizada por práticas comerciais e ambientais injustas, mas em vez de tarifas unilaterais, ele propôs uma coalizão internacional com outras democracias que a China "não pode ignorar", embora tenha sido vago sobre o que isso significa.
6. Saúde: expandir o Obamacare
Biden diz que vai expandir o Obamacare, sistema que ampliou a cobertura de saúde para pessoas que nunca tiveram seguro no país, criado quando ele era vice do presidente Barack Obama, e implementar um plano para segurar cerca de 97% dos americanos.
Biden promete dar a todos os americanos a opção de se inscrever em um seguro de saúde público semelhante ao Medicare, que oferece benefícios médicos para os idosos, e para diminuir a idade de elegibilidade para o próprio Medicare de 65 para 60 anos. O Comitê para um Orçamento Federal Responsável, um grupo apartidário, estima que o plano Biden custaria um total de US$ 2,25 trilhões (R$ 12 trilhões) em 10 anos.
7. Imigração: desfazer as políticas de Trump
Em seus primeiros 100 dias no cargo, Biden promete reverter as políticas de Trump que separam pais dos próprios filhos na fronteira EUA-México, cancelar os limites do número de pedidos de asilo e acabar com as proibições de viagens de vários países de maioria muçulmana. Ele também promete proteger os "Dreamers" (Sonhadores), pessoas levadas ilegalmente para os Estados Unidos quando crianças e que foram autorizadas a permanecer devido a uma política da era Obama, bem como garantir que sejam elegíveis para auxílio federal a estudantes.
8. Educação: pré-escola universal e expandir faculdade gratuita
Em uma mudança notável para a esquerda, Biden endossou vários pontos de política educacional que se tornaram populares dentro do partido: perdão de dívidas de financiamento estudantil, expansão de faculdades gratuitas e acesso universal à pré-escola. Estes seriam financiados com o dinheiro ganho com a retirada dos cortes de impostos da era Trump.
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