"Alguém que se parece comigo na Casa Branca!", exclama uma jovem negra na Times Square, em Nova York, comemorando a eleição de Kamala Harris como a primeira vice-presidente dos Estados Unidos, e também a primeira negra e filha de imigrantes, resumindo o sentimento de muitos democratas em todo país.
Sua eleição, que traz energia e diversidade para o futuro governo do presidente eleito Joe Biden,levantou uma onda de entusiasmo, especialmente entre as mulheres que há quatro anos assistiram com horror ao sonho de ter uma mulher presidente desmoronando quando Hillary Clinton sofreu uma surpreendente derrota para Donald Trump.
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"É incrível, nunca tivemos uma mulher em tão alta posição de poder. Ela representa tanto. Ela pode se tornar nossa próxima presidente!", disse a amiga Devi Kowlessar, uma corretora de imóveis que, como Kamala, é de origem indiana, em referência à idade avançada de Biden, 77, e a possibilidade de Harris, 56, ser a candidata presidencial em 2024.
"Agora, o que queremos é que ela una os americanos novamente. Unir as pessoas, trazer o amor", disse Kowlessar, que descreveu Kamala como uma mãe que pode marcar o país após quatro anos de polarização aguda.
Da ficção à realidade
"'Senhora Vice-Presidente' não é mais uma personagem fictícia", tuitou a atriz Julia Louis-Dreyfus, que interpretou o papel na popular série da HBO "Veep" e foi uma das muitas celebridades a parabenizar o triunfo de Kamala.
Para seu discurso triunfante na noite de sábado em Wilmington, Delaware, Harris usou um terno branco sob medida, uma homenagem às sufragistas e a sua longa luta pelo direito de votar.
Dirigindo-se ao país, ela disse que pensou em sua mãe indiana que imigrou para os Estados Unidos aos 19 anos e "nas gerações de mulheres negras, asiáticas, brancas, latinas e nativas americanas que abriram o caminho".
Robin Brown, que ajuda mulheres democratas pró-aborto a serem eleitas no estado de Nova York como diretora política da organização Eleonor's Legacy, comemorou sua vitória vestindo uma camiseta rosa que dizia "Prezada Sra. Vice-presidente".
"Ainda não consigo acreditar que teremos alguém que se pareça comigo na Casa Branca. É algo que nunca pensei que seria possível, porque estivemos tão perto todas as vezes", sem conseguir, disse essa americana negra de 36 anos à AFP. "Kamala é alguém que posso admirar", completou.
Kelly Dittmar, diretora de pesquisa do Centro para Mulheres e Política da Universidade Rutgers, acredita que Harris trará para a Casa Branca "a perspectiva e a experiência de vida de uma mulher negra do Sudeste Asiático que passou sua vida nos Estados Unidos", uma lente muito diferente da de seus colegas brancos.
Uma perspectiva diferente
"É disso que se trata a representação, trazendo diferentes perspectivas para a mesa, o que produz uma tomada de decisão melhor e mais inclusiva", disse.
Harris, chamada de "monstro" por Trump na campanha, conquistou forte apoio entre as minorias.
Muitos confessaram que não votaram em Biden, mas sim nela, uma advogada com pai jamaicano e mãe indiana, com experiência em cargos eleitos como ex-procuradora-geral e senadora da Califórnia.
"Isso trouxe um certo nível de empolgação e entusiasmo que ajudou" Biden, especialmente porque, depois de um número recorde de mulheres eleitas para o Congresso em 2018 e após a vitória de Biden nas primárias contra um recorde de candidatos presidenciais, havia "preocupação com uma regressão, um retorno à liderança masculina branca", disse Dittmar.
Seus apoiadores estão esperançosos de que seja o início de uma nova era.
"Posso ser a primeira mulher nesta posição, mas não serei a última", disse Harris em seu discurso de vitória.
"Porque cada garota que está olhando para mim esta noite vê que este é um país de possibilidades", completou.