O presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, denunciou nesta quinta-feira (19) a "incrível irresponsabilidade" do presidente Donald Trump, que ainda se recusa a aceitar a derrota nas eleições de 3 de novembro.
O atual morador da Casa Branca alega, sem qualquer prova tangível, que é vítima de fraude em vários estados e lançou uma batalha judicial liderada por seu advogado pessoal, o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani.
"Acho que [os americanos] estão testemunhando uma irresponsabilidade incrível, mensagens incrivelmente prejudiciais sendo enviadas ao resto do mundo sobre como a democracia funciona", disse Biden a repórteres em seu reduto em Wilmington, Delaware.
"É difícil entender como esse homem raciocina", continuou. "Tenho certeza que ele sabe que não venceu, que não vai poder vencer e que vou tomar posse no dia 20 de janeiro", acrescentou. "É realmente ultrajante o que ele está fazendo."
Em âmbito nacional, o ex-vice-presidente democrata Biden venceu as eleições de 3 de novembro com quase 80 milhões de votos, em comparação com pouco menos de 74 milhões de votos recebidos pelo bilionário republicano.
Mas, nos Estados Unidos, o presidente é eleito por um colégio eleitoral em que cada estado contribui com um certo número de delegados e, em alguns, Biden venceu por margem ínfima.
Na Geórgia, Biden estava apenas 14.000 votos à frente de Trump, uma vantagem tão estreita que exigia uma recontagem manual.
As autoridades locais da Geórgia anunciaram na noite desta quinta-feira que a recontagem confirmou Biden como vencedor da eleição no estado, com vantagem de cerca de 12.000 votos.
Como a diferença entre os candidatos é inferior a 0,5% dos votos, Trump tem o direito de pedir uma nova recontagem explicou em comunicado o gabinete do secretário de estado local, Gabriel Sterling, encarregado da organização da eleição.
- "Confusão" -
Sem esperar pelo resultado oficial, Trump, que denuncia eleições "fraudadas", reforçou as críticas à operação eleitoral no estado do sul dos Estados Unidos. Em uma série de tuítes matinais, o presidente discorreu sobre a descoberta de quase 6.000 votos em dois condados de maioria republicana.
Alguns haviam sido contados, mas não foram validados no sistema, enquanto outros parecem ter sido esquecidos em uma caixa, de acordo com as autoridades locais, que atribuíram os problemas a erro humano.
"Isso criou confusão e entendemos que as pessoas estão preocupadas", mas "a boa notícia é que a contagem serviu ao seu propósito" corrigindo esses erros, disse Sterling.
"Esperemos que o presidente Trump aceite o resultado", acrescentou, lamentando que "questionar" a eleição "enfraquece os fundamentos da democracia".
- "Vamos nos tornar uma Venezuela" -
Além da Geórgia, o presidente e seus aliados entraram com uma série de recursos na justiça da Pensilvânia, Michigan, Arizona e Nevada.
Alguns já foram negados pelos tribunais, outros retirados pelas partes interessadas, enquanto Giuliani segue na luta para manter vivos os recursos que ainda estão sob análise da justiça. Esta semana, o ex-prefeito de Nova York testemunhou perante um juiz federal sem fornecer provas materiais.
Nesta quinta-feira, em coletiva de imprensa, Giuliani mencionou várias teorias da conspiração, com referências à Venezuela e ao filantropo George Soros por supostamente ter participado de uma fraude organizada por "líderes democratas" com a cumplicidade do próprio Biden.
"Vamos nos tornar uma Venezuela. Não podemos permitir que isso aconteça conosco. Não podemos permitir que esses criminosos, porque é isso que eles são, roubem a eleição do povo americano", disse Giuliani, referindo-se às urnas usadas na eleição.
Enquanto Giuliani discursava, Trump tuitou: "Meus advogados agora estão na @newsmax, @OAMM e talvez na @Fox", em referência a três emissoras de televisão conservadoras. "Um caso aberto e encerrado de fraude eleitoral. Em números massivos!", continuou.
- Ligação do presidente -
Outra polêmica surgiu no Michigan depois que uma membro do partido republicano e integrante do conselho de análise da eleição, que se recusou a certificar o resultado da votação em um condado fortemente democrata e depois reverteu sua decisão, disse na quinta-feira que Trump havia lhe telefonado.
"Recebi um telefonema do presidente Trump na terça à noite após a reunião", explicou ao The Washington Post. "Ele queria ter certeza de que eu estava bem", acrescentou ela, observando que não se sentiu pressionada a mudar seu voto.
Trump não tinha eventos em sua programação oficial nesta quinta-feira.
Biden continua a se preparar para assumir a presidência, com a posse marcada para 20 de janeiro.
Nesta quinta-feira, o democrata planejou encontrar-se com os governadores para discutir as medidas de resposta à pandemia de covid-19, que já deixou mais de 250.000 mortos nos Estados Unidos.