Um permanecerá e outro voltará. O centrista Bruno Covas foi reeleito neste domingo (29) prefeito de São Paulo, enquanto o ex-prefeito Eduardo Paes voltará a ocupar o cargo, após derrotar o pastor evangélico licenciado Marcelo Crivella.
- Covas, um político discreto que luta contra o câncer -
Bruno Covas (PSDB, centro), de 40 anos, governa São Paulo, capital financeira do país, desde 2018, quando o então prefeito, João Doria, renunciou para se candidatar ao governo do estado, sendo substituído por seu discreto vice.
Desde então, Covas conseguiu construir uma imagem de administrador moderado em plena pandemia do novo coronavírus e venceu o segundo turno com 59,38% dos votos o candidato do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL, esquerda), Guilherme Boulos, com 40,6%.
Neto do ex-governador Mário Covas (1930-2001), um dos fundadores do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso), o advogado Bruno Covas iniciou sua carreira política aos 26 anos como deputado na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Foi secretário do Meio Ambiente do governo de São Paulo (2011-2015) e deputado federal em Brasília (2015-2017).
Ao contrário do governador João Doria, um "outsider" do PSDB que surfou na onda antissistema dos últimos anos, Covas representa uma face mais tradicional do partido.
Em 2020, o desafio da reeleição foi acompanhado por duas outras duras batalhas: a pandemia do coronavírus (que matou 14 mil pessoas na cidade e o infectou) e o tratamento de um câncer no aparelho digestivo, diagnosticado em 2019, que também afetou seu fígado e gânglios linfáticos.
Apesar da magreza aparente e da queda de cabelo por causa da quimioterapia, Covas continuou trabalhando e instalou, no auge da pandemia que já matou mais de 172 mil pessoas no Brasil, uma cama e uma mesa de cabeceira no gabinete da Prefeitura para cuidar da cidade e de sua saúde sem interrupções.
Com exames regulares e sessões de imunoterapia, os médicos afirmam que sua doença está sob controle.
- Eduardo Paes, o retorno de um velho conhecido -
"Sou o homem mais feliz do mundo porque sou o prefeito do Rio", dizia Eduardo Paes, que passou oito anos à frente da Cidade Maravilhosa (2009-2016) em seu período de maior esplendor dos últimos tempos.
Entusiasta do carnaval e com um estilo descontraído que combina com a essência carioca, Paes voltará à Prefeitura, fortalecido pelos altos índices de rejeição do prefeito evangélico Marcelo Crivella, a quem venceu por quase 30 pontos (64,1% contra 35,9%).
"Crivella não tem compreensão da cidade", disse Paes em entrevista recente, promovendo-se como o bom administrador que vai "resgatar" o Rio de Janeiro do abandono da atual gestão.
Filho de família carioca de classe média, formou-se em Direito e ocupou diversos cargos públicos desde os 23 anos: foi subprefeito da Zona Oeste do Rio, vereador mais votado da cidade, secretário municipal do Meio Ambiente e deputado federal.
Depois de passar por vários partidos (PV, PFL, PTB, PSDB), em 2008 chegou à Prefeitura do Rio pelo MDB, grupo heterogêneo de centro e centro direita, com o qual governou por dois mandatos.
Seus mandatos foram marcados pelo otimismo e pelas reformas para fazer do Rio a sede dos Jogos Olímpicos de 2016, evento que permitiu a modernização do sistema de transporte e de algumas infraestruturas, mas que deixou vários "elefantes brancos" e promessas não cumpridas, como a despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Após o megaevento esportivo e com a crise econômica instalada em todo Brasil, a cidade entrou em declínio e passou por uma sucessão de escândalos de corrupção (que não afetaram Paes diretamente), além do colapso da segurança pública e da deterioração dos serviços de saúde, agravada este ano pela pandemia do coronavírus.
Aos 51 anos e filiado ao DEM (centro-direita), Paes promete colocar a casa em ordem e manter relações pacíficas com o governo do Estado do Rio (atualmente interino) e com o governo federal de Jair Bolsonaro.