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Estado de Minas BIBLIOTECA

Primeira biblioteca de livros censurados no mundo abre na Suécia

Acervo reúne também músicas e peças teatrais proibidas, e ampla literatura sobre liberdade de expressão, censura e democracia


15/12/2020 10:39 - atualizado 15/12/2020 10:56

A primeira biblitoeca de obras censuaradas foi aberta na Suécia(foto: Divulgação)
A primeira biblitoeca de obras censuaradas foi aberta na Suécia (foto: Divulgação)
A Suécia inaugurou a primeira biblioteca especializada em livros censurados no mundo. O acervo recebeu o nome do jornalista Dawitt Isaak, nascido na Eritréia e que tem também cidadania sueca. Ele encontra-se preso no país africano, sem julgamento, desde 2001. Em 2003 foi homenagedo com o Prêmio Liberdade de Expressão, do Repórteres Sem Fronteira.

A biblioteca reúne exemplares de obras que são ou já foram censuradas ou queimadas em diferentes países, escritas por autores que enfrentaram a prisão, a censura ou o exílio. Ainda conta com músicas e peças teatrais proibidas, e ampla literatura sobre liberdade de expressão, censura e democracia. Foi inaugurada no complexo do Arquivo Geral da cidade de Malmö, no sul da Suécia.

Entre os escritos à disposição do público estão Versos Satânicos, do anglo-indiano Salman Rushdie, que foi considerada ofensiva ao profeta Maomé por lideranças islâmicas, levando o autor à condenação à morte, em 1989 pelo líder religioso do Irã, aiatolá Khomeini.

Também podem ser encontrados livros menos conhecidos, como o 'O Touro Ferdinando', do americano Munro Leaf, obra proibida na Espanha de Franco, por ser considerada propaganda pacifista e queimada na Alemanha de Hitler.

A nova biblioteca reúne ainda livros de diversos outros autores latino-americanos perseguidos ou censurados, como a chilena Isabel Allende (A Casa dos Espíritos), o cubano Armando Lucas Correa (A Garota Alemã), o guatemalteco Miguel Ángel Asturias (O Senhor Presidente) e a mexicana Lydia Cacho (Los Demonios del Edén).

O Alquimista e outros livros do brasileiro Paulo Coelho foram retirados das prateleiras do Irã em 2011, quando o regime baniu a editora Caravan Books, responsável pelas publicações. O Ministério da Cultura iraniano justificou a medida na época com a afirmação de que o diretor da editora, Arash Hejazi, era um 'contrarrevolucionário fugitivo' – em 2009, o diretor havia sido filmado em um protesto contra os resultados das eleições presidenciais de junho daquele ano. O ministério afirmou, por outro lado, que os livros de Paulo Coelho poderiam ser publicados por outras editoras iranianas.

Cem Anos de Solidão (1967), do colombiano Gabriel García Márquez , foi censurado em países como Rússia, Irã e, recentemente no Kuwait, por conter 'cenas explicitamente sexuais'. O livro chegou a ser proibido na própria Colômbia, onde o veto só foi abolido depois de o autor vencer o Prêmio Nobel de Literatura, em 1982. A rede de streaming Netflix comprou no ano passado os direitos autorais da obra, que está sendo adaptada para o audiovisual e transformada em série.

O romance Lolita (1955), do russo Vladimir Nabokov, foi censurado no Brasil e em vários outros países por sua narrativa centrada na paixão erótica de um professor de meia-idade por sua enteada de 12 anos. 1984, a obra do escritor britânico George Orwell, lançada em 1948, e que é uma crítica aos regimes totalitários, foi imediamente censurada nos Estados Unidos, que a consideraram como literatura pró-comunista. Em meio à Guerra Fria, o livro também foi banido na União Soviética de Stálin.

O best seller Os Cinquenta Tons de Cinza, trilogia erótica assinada pela britânica E.L. James, foi banido de prateleiras de algumas regiões dos Estados Unidos devido ao teor sexual. Em várias partes do mundo, grupos atacaram a obra. Mas também encontram-se no acervo até mesmo livro para público infanto-juvenil como Harry Potter, da autora britânica J.K. Rowling, probidido  em algumas regiões dos Estados Unidos e em escolas particulares dos Emirados Árabes Unidos, sob a alegação de promoverem uma apologia da bruxaria e do ocultismo. Escolas da Inglaterra, do Canadá e da Nova Zelândia também tentaram proibir o livro.

A biblioteca também abriga musicais, como 'Hair', que gerou protestos em países como Estados Unidos, Grã-Bretanha, México e França. Nos Estados Unidos, o Parents Music Resource Center foi um grupo fundado em 1985 pelas 'esposas de Washington', formado por mulheres de políticos para exercer pressão contra letras de música consideradas inapropriadas, de artistas como Prince e Madonna. Uma das integrantes do grupo foi Tipper Gore, casada com o então senador e mais tarde vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore. E o teatro do grupo Belarus Free Theatre que não é tolerado pelo regime de Belarus.

No interior da nova biblioteca de livros censurados está uma cadeira vazia – à espera do dia em que o jornalista e autor Dawit Isaak possa ser libertado da prisão na Eritréia e retornar à Suécia. A Anistia Internacional considera Dawit Isaak como um prisioneiro de consciência, detido de forma arbitrária em função de suas posições políticas, e por isso defende sua libertação imediata e incondicional.

Cada livro da biblioteca contém informações sobre por qual razão foi censurado, quando e onde. A fim de expandir o acervo inicial de 1.600 itens, a Biblioteca Dawit Isaak busca indicações de obras, autores, músicos e artistas em geral que tenham sido banidos ou provocado controvérsias na América Latina e em diferentes regiões do mundo. Sugestões podem ser enviadas para o endereço de email dawitisaakbiblioteket@malmo.se
 
Com informações de Claudia Wallin, correspondente da RFI em Estocolmo


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