Uma corte de Paris pronunciou, nesta quarta-feira (16), penas que vão de quatro anos de detenção à prisão perpétua para os 14 acusados no julgamento pelos atentados contra a revista satírica Charlie Hebdo e contra um supermercado kosher em janeiro de 2015.
Mohamed Belhoucine, que teria sido morto na Síria e foi julgado à revelia, foi condenado à prisão perpétua.
Ali Riza Polat, apresentado como o "braço direito" do responsável pelo ataque ao supermercado Amédy Coulibaly, e a namorada deste último, que também fugiu para a Síria, foram condenados a 30 anos de prisão cada.
A advogada de Ali Riza Polat, o único dos três principais acusados presente no julgamento, anunciou imediatamente que seu cliente recorrerá da decisão.
Os advogados de defesa consideram que as provas não são convincentes e advertiram contra a tentação de querer transformar os acusados em exemplo para atenuar a ausência dos autores materiais dos ataques.
As 14 pessoas julgadas durante mais de três meses foram acusadas de terem fornecido apoio logístico aos autores dos ataques que deixaram 17 mortos entre 7 e 9 de janeiro de 2015.
Os autores materiais dos atentados, os irmãos Said e Chérif Kouachi, que abriram fogo na redação do Charlie Hebdo pela publicação de charges do profeta Maomé, e Amédy Coulibaly, que matou um policial antes de atacar o supermercado kosher, morreram após os crimes.
Interrompido diversas vezes, devido à pandemia de covid-19, este julgamento provocou a recordação do horror dos ataques e do período em que a França se tornou alvo de ataques islamitas.
- "Cúmplices" -
Os promotores pediram prisão perpétua para Ali Riza Polat, um amigo franco-turco de Coulibaly, e Mohamed Belhoucine. Os dois são considerados "cúmplices" dos atentados.
Polat admitiu no tribunal que praticou crimes, incluindo tráfico de drogas, mas negou ter qualquer conhecimento de um complô terrorista.
"Não fiz todas as coisas que dizem que eu fiz", afirmou no tribunal.
A Promotoria antiterrorista também solicitou penas de entre cinco e 20 anos de prisão para os demais acusados, suspeitos de fornecerem armas e equipamentos "com conhecimento do compromisso jihadista" dos autores dos atentados, segundo o procurador-geral.
Durante o julgamento, os sobreviventes dos ataques relataram cenas de horror.
A colunista Sigolene Vinson, que sobreviveu ao massacre do Charlie Hebdo, descreveu o "silêncio mortal" na redação, enquanto os colegas estavam mortos ao seu redor.
Zarie Sibony, ex-caixa do Hyper Cacher, descreveu como caminhou sobre corpos nos corredores do supermercado durante o confronto de quatro horas entre Coulibaly e a polícia.
O massacre do Charlie Hebdo provocou um intenso debate sobre a liberdade de expressão na França.
Para marcar o início do julgamento em 2 de setembro, a revista publicou novamente, em tom de desafio, as charges do profeta que provocaram indignação entre os muçulmanos.
Três semanas depois, um paquistanês feriu duas pessoas diante da antiga redação da revista em um ataque com faca.
No dia 16 de outubro, um jovem checheno decapitou um professor do Ensino Médio que havia exibido algumas charges publicadas no semanário durante uma aula sobre liberdade de expressão.
E, em 29 de outubro, três pessoas foram assassinadas, incluindo uma brasileira, quando um jovem tunisiano que havia chegado recentemente à Europa esfaqueou as vítimas em uma igreja de Nice.
O governo do presidente Emmanuel Macron apresentou recentemente um projeto de lei para lutar contra o "islamismo radical" que pretende endurecer o controle sobre os locais de culto e proibir algumas práticas "incompatíveis" com os valores da República Francesa.