Jornal Estado de Minas

Revista Vogue recebe críticas por suposto 'branqueamento' de Kamala Harris

A vice-presidente eleita dos Estados Unidos, Kamala Harris, é o rosto que estampa a capa de fevereiro da revista Vogue norte-americana. Harris, de 56 anos, tomará posse do cargo em 20 de janeiro como a primeira mulher, negra e filha de imigrantes a ser eleita para vice-presidência na história do país.




 
O anúncio da revista, feito no domingo (10/1), contudo, foi acompanhado de críticas nas redes sociais que acusam a publicação de "branquear" a vice do democrata Joe Biden. As fotos da versão digital e impressa da publicação foram feitas pelo fotógrafo Tyler Mitchell, que em 2018, aos 23 anos, se tornou o primeiro afro-americano a fotografar uma capa da revista que já possui mais de 125 anos. O perfil da vice-presidente foi assinado pela, também afro-americana, jornalista Alexis Okeowo.

Suposto branqueamento

Em agosto de 2020, a revista Vogue dos EUA se envolveu em uma polêmica e recebeu diversas críticas após ensaio fotográfico feito com a ginasta afro-americana Simone Biles em que, por causa da iluminação, a pele também teria tido o tom clareado.

À época, o editor de fotografia do The New York Times, Morrigan McCarthy, disse que a publicação não se preocupou em contratar um fotógrafo negro e que a tonalização do ensaio era "previsível".





Desta vez, citando fontes da revista, o tabloide americano The New York Post disse que não houve nenhum tipo de edição para branquear a vice-presidente eleita.
 
Segundo o tabloide, a equipe de Harris esteve presente durante todo o processo e teve total controle na escolha das roupas, cabelo e maquiagem usadas no ensaio.

A vice-presidente

Kamala Harris tem uma história de conquistas notáveis durante sua trajetória política, o que fez com que Biden a escolhesse como parceira na difícil disputa contra Donald Trump e Mike Pence nas urnas. A advogada e senadora americana foi essencial para uma maior participação da população negra na votação, um dos fatores decisivos para a vitória dos democratas. 

Com mãe indiana e um pai jamaicano, Kamala nasceu e viveu o início da infância na cidade Oakland, na Califórnia. Após o divórcio do casal, ela se mudou para Montreal, no Canadá, com a irmã mais nova e a matriarca, Shyamala Gopalan, pesquisadora na área oncológica e ativista de direitos civis. Foi por influência da mãe que Kamala optou pela advocacia e pela área de direitos humanos. 





Kamala, que se formou na Universidade Howard, em Washington, um ícone da cultura negra nos Estados Unidos, coleciona outros pioneirismos em sua carreira no direito e na política. Ela foi a primeira procuradora negra na história da Califórnia, onde também ocupou o cargo de procuradora-geral, em 2010. Seu discurso de que foi uma "procuradora progressista" é contestado por críticos, que alegam que ela lutou para manter sentenças injustas e se opôs a reformas na Califórnia, como uma lei que instava o procurador-geral a investigar tiroteios envolvendo a polícia.
 
O mandato como procuradora-geral permitiu que Kamala se aproximasse do filho falecido de Joe Biden, Beau, que ocupava o mesmo cargo que ela em Delaware. Em 2016, Kamala foi a primeira mulher com ascendência sul-asiática e a segunda negra a se tornar senadora. Foi lá que começou a chamar a atenção do partido democrata. As bandeiras progressistas defendidas durante seu mandato foram diversas, como redução de impostos para a classe média, elevação do salário-mínimo e combate ao aquecimento global.
 
Em 2019, ela participou das disputas primárias para se tornar candidata à presidência do partido, mas não venceu. Apesar disso, protagonizou o momento mais marcante da pré-campanha democrata, ao fazer críticas a Joe Biden em relação a questões raciais.





Depois da derrota, Kamala não demorou a se posicionar como uma aliada à campanha do ex vice-presidente. Em março deste ano, declarou a jornais americanos que faria “tudo que estivesse ao seu alcance para ajudar a elegê-lo como próximo presidente dos Estados Unidos”. A escolha de Kamala para compor a chapa democrata era algo esperado por estudiosos da área política, já que os EUA se tornaram palco de acaloradas discussões raciais após a morte de George Floyd. 
 
Como vice-presidente eleita, Harris recebeu a vacina contra a covid-19 ao vivo pela televisão em dezembro e pediu a confiança do público no processo, enquanto a escolha do hospital para receber a imunização chamou atenção para a difícil situação da comunidade afro-americana, muito afetada pela pandemia. Usando máscara, a dirigente recebeu a primeira de duas injeções no United Medical Center, localizado em uma área de Washington com população majoritariamente negra.