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Estado de Minas INTERNACIONAL

Legado de Luther King supera a sua famosa frase


19/01/2021 13:00

Autor de um livro sobre Martin Luther King, o escritor e professor Michael Eric Dyson diz que o legado do ícone da luta antirracista vai muito além daquele lembrado no discurso "I have a dream", em 1963. Em I May Not Get There with You: The True Martin Luther King, Jr. (Eu posso não chegar lá com você: O verdadeiro Martin Luther King, em tradução livre), lançado em 2001, Dyson destaca que as ideias originais do líder foram tiradas de contexto e distorcidas.

Em entrevista ao Estadão por ocasião do Dia de Luther King, Dyson, professor de sociologia em Georgetown, explica com quais temas o pacifista estaria hoje preocupado, fala sobre a polarização atual e a dos anos 60, e lembra das dificuldades enfrentadas pelo líder reconhecido com o Nobel da Paz em 1964.

O senhor escreveu um livro destacando o "verdadeiro" Martin Luther King. Quem é essa figura?

Muitos confundiram o legado de Martin Luther King com o discurso do "I have a dream". Por mais importante que esse discurso tenha sido e interprete muito do que King simbolizava, algumas pessoas tentaram isolar esse momento em particular como a expressão ideal do significado das ideias dele. Usaram as palavras de que King queria uma nação que "não julgaria os filhos pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo do caráter", enquanto ele fez muitos outros discursos mais desafiadores.

Que exemplos citaria de falas que se perderam no tempo?

King disse que os EUA não eram apenas um sonho, mas para muitos um pesadelo. Muitos conservadores tentaram manipular a retórica e as ideias de King. São ideias como: "não vamos focar na raça", "não vamos falar sobre ação afirmativa", "não vamos falar sobre a injustiça racial como um problema contínuo, mas como um que deve ser resolvido não focando na raça". Isso é uma distorção dos sonhos de Martin Luther King Jr. Por isso, quis recuperar o verdadeiro King, aquele que abraçou a revolução social.

King enfrentou forte oposição dentro dos EUA. Como foi isso?

Ele era um homem famoso, um líder extraordinário, recebeu um Nobel da Paz aos 34 anos e foi assassinado antes dos 40, mas às vezes você não é compreendido enquanto você vive. Não enxergam seu valor real. Com a morte de King, veio a martirização e o reconhecimento de que ele era um grande americano. Muita gente era contra ele nos EUA. O FBI fez coisas horríveis para impedir que King fosse bem-sucedido. Disse que ele era o líder negro mais perigoso do país. Estavam espionando King e não o avisaram de todas as ameaças críticas à sua vida. Muitas organizações e grupos o viam como uma ameaça. Então, se o governo vê você como problema, é de fato muito mais difícil ter sucesso.

A que motivos podemos atribuir o fato de Luther King ter se tornado um símbolo mundial?

Ele era um verdadeiro lutador pela liberdade global. Ele não acreditava só na liberdade dos EUA, mas para as pessoas de todo o planeta. No fim da vida, começou a falar também sobre a necessidade de os latinos se unirem na luta com os negros e superarem as barreiras que dificultavam seu desenvolvimento. E também começou a falar de lutas por liberdade em todo o mundo, como em várias regiões da África. No entanto, hoje muitos dizem que os EUA são mais polarizados do que nunca.

Qual a diferença desses dois períodos?

Esse é um ótimo ponto. Lá atrás, líderes eram assassinados. Agora, são as massas de pessoas negras que são maltratadas. Não que não fossem naquela época, mas havia um esforço para mudar o mundo que a gente vivia, para desafiar a história da desigualdade nos EUA, da supremacia branca, do apartheid que dividia dramaticamente brancos e negros. Hoje em dia não temos o assassinato de lideranças da mesma forma como nos anos 60, mas há um ataque aos americanos comuns quando você vê a brutalidade da polícia.

Olhando para a sociedade americana em 2021, quanto do sonho de Luther King foi realizado?

Hoje em dia, King estaria falando sobre saúde universal, que ele defendia naquela época como um direito que não pode ser negado. Faria uma luta contra o racismo sistêmico, contra a desigualdade econômica, combateria Donald Trump e o ódio que ele representa. King estaria na linha de frente na luta por justiça racial, em busca de uma educação melhor, para reduzir a desigualdade, e mostrando como as crianças negras ainda ficam atrás em termos de obter boas escolas e bons empregos. E também criticaria a forma como o sistema prisional continua a encarcerar negros em um número desproporcional.

QUEM É

Michael Eric Dyson, de 62 anos, é professor, escritor e pastor. Ele escreveu ou editou mais de 20 livros sobre personalidades negras, como Martin Luther King, Malcom X, Barack Obama e Marvin Gaye.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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