A amarga disputa entre a empresa farmacêutica e a UE gerou uma enorme confusão causada por versões incompatíveis, e altos funcionários do bloco aumentaram a pressão sobre o laboratório para que cumpra com os contratos de compra antecipada.
A polêmica começou depois que a AstraZeneca anunciou na sexta-feira que poderia reduzir seu programa de entrega de vacinas para a UE devido a problemas com a linha de produção em uma de suas fábricas em território europeu.
Enquanto isso, o laboratório manteve seu ritmo de abastecimento de vacinas para o Reino Unido, onde possui duas fábricas produtoras.
A comissária europeia da Saúde, Stella Kyriakides, disse em uma coletiva de imprensa que as duas fábricas da AstraZeneca localizadas em território britânico deveriam fornecer vacinas para cumprir com os compromissos na UE.
"Quero que isso fique claro como água: não existe uma hierarquia entre essas fábricas no contrato, não há diferenças entre as fábricas no Reino Unido e as que estão na UE", disse Kyriakides.
Para a funcionária, "as fábricas britânicas fazem parte do contrato de compra antecipada, e é por isso que essas fábricas devem fornecer as vacinas".
Pouco antes, um alto funcionário da UE que pediu anonimato disse à imprensa que as duas fábricas da AstraZeneca situadas no Reino Unido devem compartilhar sua produção para que a empresa cumpra com suas obrigações com a Europa.
"Esperamos que as fábricas do Reino Unido entreguem as doses? A resposta é sim", disse a fonte.
O funcionário lamentou também que a AstraZeneca tenha anunciado um atraso no ritmo de entregas para aproximadamente um quarto do prometido.
Esse cenário, acrescentou, é "inaceitável", e destacou que a UE alocou 336 milhões de euros (cerca de 406 milhões de dólares) para a empresa para a produção da vacina.
- Planos sob pressão -
"Não nos dizem qual é o verdadeiro problema", reclamou a fonte europeia. Como as outras fábricas da AstraZeneca não foram afetadas, a história "é um poco inconsistente", acrescentou uma das fontes.
Em meio a essa polêmica, o governo britânico expressou sua confiança em que a AstraZeneca manterá seu programa de entrega de vacinas.
"A AstraZeneca se comprometeu a entregar dois milhões de doses por semana ao Reino Unido, e não esperamos que isso mude", disse ontem o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.
O governo britânico lançou um plano para vacinar 15 milhões de pessoas até o fim de fevereiro, mas se a AstraZeneca for forçada a abastecer a UE de vacinas com a produção de suas fábricas no Reino Unido, os planos ficam em cheque.
Colocando mais lenha na fogueira, fontes europeias rejeitaram uma versão lançada pelo próprio diretor gerente da AstraZeneca, Pascal Soriot, durante uma entrevista publicada na terça-feira.
Nessa entrevista, o executivo mencionou que a empresa não selou um compromisso fixo com a UE, mas que havia se comprometido a empenhar seus "melhores esforços" para cumprir as metas de entrega.
"A visão de que a empresa não é obrigada a entregar as vacinas porque se comprometeu a fazer seu 'melhor esforço' não é correta e nem aceitável", disse Kyriakides.
"Rejeitamos a lógica de que o primeiro que chega é o primeiro a ser servido. Isso pode funcionar com o açougueiro da esquina, mas não com contratos, e não com nosso acordo de compras antecipadas", acrescentou.
A UE aprovou até agora o uso de duas vacinas - a da e a da Moderna -, apesar de planejar dar o sinal verde para a da AstraZeneca esta semana.
O plano da UE, lançado há uma semana, é vacinar 70% dos adultos no bloco de 27 países até o fim do verão boreal, em agosto.