Jornal Estado de Minas

NOVA YORK

Trump será indiciado após o julgamento de impeachment no Senado?

Embora seja improvável que ele seja considerado culpado de encorajar uma insurreição, os problemas jurídicos de Donald Trump não vão desaparecer após seu julgamento no Senado: o ex-presidente dos Estados Unidos poderá em breve ser indiciado na justiça criminal e também enfrenta vários processos civis.



O ex-magnata do mercado imobiliário de Nova York, instalado em sua luxuosa residência na Flórida, há muito é alvo de inúmeros processos civis e tem um exército de advogados prontos para defendê-lo ou atacar seus adversários.

Como um simples cidadão, ele corre o risco de pelo menos uma acusação criminal, conduzida pelo promotor democrata de Manhattan, Cyrus Vance, que vem lutando há meses para obter suas declarações tributárias e extratos bancários.

A investigação, que inicialmente se concentrou em pagamentos feitos a duas supostas amantes de Trump antes da eleição presidencial de 2016, agora está apurando possíveis fraudes fiscais, bancárias e de seguros.

Em julho, a Suprema Corte ordenou que Trump entregasse os documentos exigidos ao promotor, mas seus advogados questionaram a amplitude do pedido na mais alta corte, que não voltou a pronunciar-se sobre o caso.

Trump classificou a investigação de "a pior caça às bruxas da história americana".

- Fraude fiscal e bancária -

O dossiê, instruído a portas fechadas perante um grande júri, parece avançar apesar de tudo.

De acordo com a imprensa americana, os investigadores de Vance questionaram recentemente funcionários de sua seguradora, Aon, e do Deutsche Bank, financiador de Trump e sua holding, a Trump Organization.



Eles também interrogaram novamente o ex-advogado de Trump, Michael Cohen, preso depois de admitir que comprou o silêncio de duas supostas amantes do ex-presidente.

Cohen disse em uma audiência no Congresso que Trump e sua empresa aumentaram e reduziram artificialmente o valor de suas ações para obter empréstimos bancários e reduzir seus impostos.

A promotora democrata do estado de Nova York, Letitia James, também está investigando essas alegações.

Ela já confrontou com sucesso os advogados da Organização Trump para poder interrogar Eric, filho de Trump, e obter documentos sobre algumas propriedades da família.

Sua investigação é civil, mas "se descobrirmos fatos criminais, isso mudará sua natureza", disse James recentemente.

Se as alegações forem confirmadas, o ex-presidente pode enfrentar uma pena de prisão. E ao contrário dos crimes federais, as violações das leis estaduais não podem ser perdoadas pelo presidente americano, mesmo que Joe Biden quisesse fazê-lo em nome da reconciliação.



Alguns críticos de Trump comemoram com antecedência, como os militantes de "Rise and Resist" (Levante-se e Resista), que se manifestaram no início de janeiro em Nova York para exigir sua prisão.

Mas os promotores, cientes do clima político extremamente tenso, vão pensar duas vezes antes de responsabilizá-lo, disseram vários juristas à AFP.

"Ninguém tem pressa", disse Daniel Richman, ex-promotor e professor de direito da Universidade de Columbia.

"A última coisa que queremos é que o processo (judicial) seja usado, ou percebido como sendo usado, como um instrumento político", frisou.

"Existem duas escolas", disse Roberta Kaplan, advogada responsável por três processos civis contra o ex-presidente. "Eu sou da escola que pensa que não devemos proibir que se faça justiça por medo de jogar gasolina no fogo: se não agirmos para dizer claramente que os pilares sobre os quais baseia-se o país valem para todos, presidentes ou não, Acho que corremos perigos muito maiores."



- "Espetáculo à Al Capone" -

Para Gloria Browne-Marshall, professora de Direito da City University of New York (CUNY), Trump no banco dos réus seria "um resultado lógico", "um cenário à Al Capone", em referência ao lendário gangster dos anos 1920 finalmente condenado em 1931 por evasão fiscal.

Mas, embora acredite que sua acusação provavelmente ocorrerá antes do fim do atual mandato do promotor Cyrus Vance em novembro, não aposta que haverá um julgamento ou condenação.

Com milhões de apoiadores potencialmente dispostos a financiar sua defesa, Trump poderia contra-atacar em seus próprios processos e fazê-los se arrastarem "por anos", disse ele.

Isso forçaria os promotores - autoridades eleitas que dependem do dinheiro do contribuinte - a mobilizar recursos consideráveis para a batalha, acrescentou.

Bennett Gershman, ex-promotor e professor da Pace University, também aposta que Vance indiciará Trump.

"Se ele estivesse diante de um júri novamente, seria um verdadeiro circo, seria incrível", disse ele. "Nunca vimos algo assim."

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