"Com profundo pesar soube da morte de Carlos Saúl Menem. Sempre eleito na democracia, foi governador de La Rioja, presidente da Nação e Senador Nacional. Na ditadura foi perseguido e preso. Todo o meu carinho para (sua primeira esposa) Zulema, (sua filha) Zulemita e todos os que hoje choram por ele", escreveu no Twitter o presidente Alberto Fernández, de linha peronista assim como o ex-presidente.
O governo decretou três dias de luto pelo falecimento do ex-presidente, que será velado no Congresso.
"Ele estava acompanhado por toda a família e foi embora segurando a mão da mãe", declarou emocionada sua filha Zulemita, ao deixar o hospital.
Menem será sepultado na segunda-feira no cemitério islâmico de Buenos Aires ao lado do túmulo de seu filho Carlos, que morreu em 1995 em um acidente de helicóptero nunca esclarecido.
"Ele vai descansar no cemitério islâmico com meu irmão, embora professasse a religião católica, para ficar com meu irmão", disse Zulemita.
O velório começou na noite deste domingo no Congresso, onde a vice-presidente Cristina Kirchner, também presidente do Senado, recebeu a família e o caixão, coberto com a bandeira argentina.
Algumas centenas de pessoas fizeram fila do lado de fora do Congresso, sob chuva intermitente, para dar adeus ao ex-presidente.
Menem, que era senador desde 2005 do peronismo, foi hospitalizado várias vezes nos últimos meses.
Em 29 de dezembro, ele não conseguiu participar da votação no Senado sobre a lei do aborto na Argentina porque estava internado.
- Neoliberal -
Natural da província de La Rioja, Menem governou a Argentina entre 1989 e 1999, o período mais longo de um presidente democrática no país, com um programa neoliberal.
"Tinha um carisma enorme", disse o presidente Fernández hoje em uma entrevista ao canal C5N.
Menem privatizou a maioria das empresas públicas e implementou uma taxa de câmbio em paridade com o dólar, um esquema que gerou uma súbita abundância, mas que implodiu em 2001, culminando na pior crise econômica da história do país.
"Não conhecíamos o Menem neoliberal na época, porque não foi tema de sua campanha (eleitoral)", lembrou Fernández. "É preciso reconhecer seu valor e seu apoio sempre à democracia. Quando veio a ditadura, ficou preso por anos", destacou o presidente.
O governo brasileiro expressou suas condolências em um comunicado, no qual destacou o papel de Menem como presidente signatário do acordo do Mercosul em 1991.
O presidente chileno, Sebastián Piñera, também o homenageou. "Hoje morreu o presidente Carlos Menem, que marcou a década de 90 na Argentina e foi um bom amigo do Chile", escreveu no Twitter. "Minha solidariedade à sua família e ao povo argentino e que Deus receba sua alma".
Antes de chegar à presidência, Menem conquistou o governo de La Rioja, em duas ocasiões, a primeira em 1973. Destituído do cargo por ocasião do golpe de 1976, foi preso por dois anos.
- Reeleição -
Filho de imigrantes sírios, Menem promoveu a reforma da Constituição em 1994, que introduziu a reeleição presidencial imediata, além de abolir a obrigatoriedade de professar a religião católica para quem detém a chefia de Estado.
Menem também indultou os líderes responsáveis da última ditadura (1976-1983) que haviam sido processados e membros de organizações de guerrilha.
Ficou em prisão domiciliar preventiva em 2001 por um julgamento por contrabando de armas para a Croácia e Equador, mas foi libertado semanas depois por decisão do Tribunal Supremo da Justiça e posteriormente foi absolvido por excesso de prazo em um caso que levou 25 anos.
A jurisdição o esquivou da prisão nos julgamentos que enfrentou, entre eles um por encobrir o atentado contra a associação judaica AMIA em 1994, que causou 85 mortes.
Em 2019, recebeu uma nova condenação a três anos por peculato, sem cumprir a pena devido à sua imunidade como senador.
O ex-presidente se casou e se divorciou duas vezes, a primeira com Zulema Yoma e a segunda com a ex-Miss Universo chilena Cecilia Bolocco.
Com Zulema teve dois filhos: Zulemita e Carlos. Com Bolocco teve Máximo.