Aos 66 anos, essa nigeriana entra para o restrito círculo de mulheres em altos cargos instituicionais no mundo. É "um momento histórico", resumiu a OMC, após sua nomeação.
"É motivador e intimidador porque assumo as rédeas da OMC em um momento de grandes incertezas e desafios", declarou Okonjo-Iweala, que assumirá em março por um mandato de quatro anos, renovável.
"Os membros da OMC acabam de decidir nomear a doutora Ngozi Okonjo-Iwela como próxima diretora-geral da OMC. A decisão foi tomada por consenso em uma reunião especial do Conselho Geral da organização hoje", anunciou a OMC nesta segunda-feira, cerca de quinze minutos depois da abertura do encontro.
"A doutora Okonjo-Iweala se tornará a primeira mulher e a primeira africana à frente da OMC. Assumirá suas funções em 1o de março e seu mandato, renovável, expirará em 31 de agosto de 2025", acrescentou a organização, de 164 membros e com sede em Genebra.
"Uma OMC forte é essencial se quisermos nos recuperar plena e rapidamente da devastação causada pela pandemia de covid-19", declarou Okonjo-Iweala de 66 anos, após sua nomeação.
"Nossa organização enfrentará inúmeros desafios, mas trabalhando juntos, coletivamente, podemos tornar a OMC mais forte, mais ágil e melhor adaptada às realidades atuais", acrescentou.
Entre sua longa lista de tarefas, ela garantiu que suas três principais prioridades nos próximos 100 dias serão: a resposta à pandemia, subsídios à pesca e o órgão de solução de controvérsias (o tribunal da OMC) que foi atingido pelo governo do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
- "Vontade firme e determinação" -
Sua nomeação foi rapidamente elogiada por outras mulheres, também à frente de poderosas instituições.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que foi "um momento histórico para todo o mundo", e prometeu todo o apoio à nova diretora da instituição.
"Parabéns à minha amiga Ngozi Okonjo-Iweala, que se tornou a primeira mulher diretora-geral da OMC", escreveu Christine Lagarde no Twitter, primeira presidente do Banco Central Europeu e ex-chefe do FMI, elogiando "sua forte vontade e determinação (que) a levará a promover incansavelmente o livre comércio em benefício das populações mundiais".
Okonjo-Iweala, chamada por alguns de Dra. Ngozi, era a única candidata ainda na disputa graças a um amplo consenso e apoio da União Africana e da União Europeia, assim como dos Estados Unidos.
No final de outubro, o governo do ex-presidente americano Donald Trump, que em quatro anos fez todo o possível para enfraquecer a organização, bloqueou o consenso que se delineava em torno da nigeriana.
"Não foi escolhida por ser uma mulher ou porque é da África, mas porque (...) se destacava como a candidata com as melhores qualificações, experiência e qualidades para essa árdua tarefa", afirmou à AFP um diplomata europeu.
Duas vezes ministra das Finanças e chefe da pasta de Relações Exteriores da Nigéria por dois meses, Okonjo-Iweala começou sua carreira no Banco Mundial em 1982, onde trabalhou por 25 anos. Em 2012, não conseguiu se tornar presidente desta instituição financeira e o cargo coube ao americano-coreano Jim Yong Kim.
Agora, ficará à frente de uma instituição que, desde sua criação em 1995, foi dirigida por seis homens: três europeus, um neozelandês, um tailandês e um brasileiro.
"Os Estados Unidos estão ansiosos para trabalhar com o dra. Okonjo-Iweala para garantir que esta instituição atinja todo o seu potencial como entidade que promove o crescimento econômico justo no comércio", declarou o diplomata americano David Bisbee na reunião desta segunda-feira, em Genebra.
Na Nigéria, o presidente Muhammadu Buhari comentou que Okonjo-Iweala está embarcando em uma "árdua tarefa a serviço da humanidade", mas informou estar convencido de que "sua integridade e paixão pelo desenvolvimento continuarão a produzir resultados positivos".
- Crise existencial -
Sua carreira acadêmica e profissional é impressionante, mas a nova diretora da OMC também tem detratores que a criticam por não ter feito mais para erradicar a corrupção quando estava no comando das finanças do país mais populoso da África.
"Mais do que tudo", dirigir a OMC exige "audácia, coragem", disse ela àqueles que a consideram carente de conhecimentos técnicos em um ambiente regido por regras bizantinas.
A coragem será, de fato, essencial para tirar a OMC, a única organização internacional responsável pelas regras que regem o comércio entre países, de sua crise quase existencial.
A pandemia expôs todas as fraturas causadas pela liberalização do comércio mundial, desde a dependência excessiva de cadeias produtivas dispersas, até os excessos da realocação industrial ou a fragilidade do tráfego comercial.
GENEBRA