Num cenário internacional "cada vez mais complexo e competitivo", a atitude "predatória" do governo chinês representa "o nosso maior desafio geopolítico", disse o ex-diplomata durante audiência na comissão de inteligência do Senado, que deve aprovar a sua nomeação.
"Superar a China será fundamental para nossa segurança nas próximas décadas", disse ele. "Isso exigirá uma estratégia de longo prazo, bipartidária, lúcida, sustentada por uma renovação doméstica e uma inteligência sólida", afirmou.
Embora Washington possa cooperar com Pequim em questões-chave como mudanças climáticas ou a não proliferação de armas nucleares, o antigo nº 2 do Departamento de Estado (2011-2014) alertou que o regime chinês "fortalece metodicamente suas capacidades de roubar propriedade intelectual, reprime seu povo, perturba seus vizinhos, estende seu poder no mundo e aumenta sua influência na sociedade americana".
Nos últimos anos, a CIA tem sido alvo de operações dos serviços de inteligência chineses, que recrutaram vários agentes e diplomatas americanos.
Há uma década, Pequim conseguiu desmantelar uma rede de informantes da agência dos EUA na China.
Burns afirmou que a batalha pela superioridade tecnológica em inteligência, incluindo o uso de inteligência artificial, será um elemento-chave de sua missão. Ele também defendeu o recrutamento de agentes que falem mandarim.
Além da China, a Rússia, que chamou de "agressiva", e o Irã, que chamou de "hostil", são as outras grandes ameaças aos Estados Unidos, segundo Burns.
Relembrando seus anos como embaixador americano em Moscou, entre 2005 e 2008, o ex-diplomata disse ter aprendido "que é sempre um erro subestimar a Rússia de Vladimir Putin".
"Embora, em muitos aspectos, a Rússia seja uma potência em declínio, pode ser tão perturbadora" quanto potências emergentes como a China, disse ele.
- Um perfil atípico -
Burns, o promotor do diálogo com o Irã que possibilitou o acordo sobre o programa nuclear de 2015, disse que os Estados Unidos deveriam "fazer tudo o possível para impedir o Irã de desenvolver uma arma nuclear".
Se o Senado confirmar sua nomeação, como esperado, Burns, 64 anos, substituirá Gina Haspel, a primeira mulher a liderar a CIA, cuja carreira foi prejudicada por seu polêmico papel em programas de tortura após os atentados de 11 de setembro de 2001.
O candidato de Biden garantiu que estes métodos de interrogatório "nunca serão utilizados pela CIA" sob seu governo, e classificou o afogamento simulado, uma dessas técnicas, como "ato de tortura".
A eleição de Burns busca restaurar a independência da agência, depois que críticos do ex-presidente Donald Trump o acusaram de querer politizar a CIA.
"A política deve parar onde o trabalho de inteligência começa", disse Burns, que lembrou sua longa carreira no Oriente Médio e na Rússia.
"Aprendi que os profissionais de inteligência têm que dizer aos políticos o que eles precisam ouvir, mesmo quando não querem ouvir", acrescentou.
Diplomata há 33 anos, Burns se aposentou em 2014 antes de presidir o Carnegie Endowment for International Peace, um centro de reflexão sobre relações entre países, cujo programa de intercâmbio com uma organização chinesa considerada um órgão de propaganda foi criticado por membros do comitê de inteligência do Senado.
Embora seu perfil seja atípico para o cargo - não é militar nem político e nunca trabalhou nos serviços de inteligência - Burns garantiu ao comitê que conhecia muito bem a CIA, com a qual manteve contato frequente ao longo de sua carreira.
Ele também enfatizou a necessidade de a CIA colaborar com os aliados dos EUA, especialmente para se opor à Rússia, contrário à atitude conciliatória de Trump com Moscou.
"Teremos mais impacto nos cálculos de Putin se virmos respostas firmes não apenas dos Estados Unidos, mas também de nossos aliados europeus e outros", disse ele.