Diretora do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Lael Brainard afirmou nesta terça-feira, 2, que tem monitorado a inflação nos Estados Unidos, mas ressaltou que, para haver um aperto monetário, "é importante haver um aumento sustentado" nos preços. Durante evento virtual do Council on Foreign Relations, ela ressaltou: "É importante entender que o Fed reage primariamente a uma elevação sustentada da inflação".
Com direito a voto nas decisões de política monetária, Brainard disse que um aumento transitório da inflação é "mais provável" do que uma alta permanente, no contexto atual, com possíveis pressões "transitórias" sobre os preços. Em termos anualizados, a inflação deve avançar temporariamente acima da meta de 2% do Fed, apontou, explicando que pode haver um salto temporário nos preços de alguns itens, no contexto da retomada econômica. As medidas de expectativas de inflação aumentaram, mas apenas a níveis pré-pandemia, disse ela, notando que a inflação segue baixa, enquanto as expectativas "começam a se aproximar" da meta de 2%.
A diretora do Fed foi questionada sobre o avanço recente dos juros dos Treasuries de vencimento mais longo. Ela disse que está atenta aos movimentos dos mercados e que o movimento dos retornos dos bônus "chamou sua atenção". Seria preocupante se houvesse um quadro de maior dificuldades para se conseguir empréstimos, notou. Ao mesmo tempo, Brainard também ressaltou que há incertezas, como por exemplo o ritmo de vacinação contra a covid-19 e a existência de diferentes cepas do vírus, que podem afetar a eficácia de vacinas. Para a dirigente, não há sinais disseminados de valorizações elevadas dos ativos, no quadro atual.
"Mesmo depois da pandemia, as mudanças na política de juros serão graduais", frisou a diretora do Fed. Ela disse que o BC não apertará sua política monetária em resposta a um mercado de trabalho forte. Ela alertou para a gravidade do quadro atual nesta frente, ao ressaltar que a queda na taxa de participação, se não for revertida, "terá efeitos duradouros". E lembrou que a taxa de desemprego real no país está próxima de 10%, no momento, enquanto a recuperação do mercado de trabalho moderou no final do ano passado.
A autoridade também destacou o papel "vital" das medidas do governo para fornecer renda à população, no contexto da pandemia. Na avaliação dela, essas medidas "renovaram a confiança" no quadro, enquanto as projeções para a atividade econômica no primeiro trimestre tiveram elevação. Após um inverno "difícil", o número de casos da covid-19 recua e o consumo aumenta nos EUA, avaliou.
De qualquer modo, a diretora considerou o país "ainda longe de suas metas" na economia e expressou a intenção de evitar cicatrizes duradouras, sobretudo no mercado de trabalho. Segundo ela, a trajetória americana "melhorou, mas ainda há riscos". Brainard disse também que a economia fora dos EUA deve se fortalecer neste ano, com a vacinação.