Uma década depois do grande maremoto provocado por um dos terremotos mais potentes da história, a lição para muitas cidades costeiras é: construir proteções maiores.
Esta política deixou um legado de cimento ao longo de centenas de quilômetros na costa norte-leste do Japão, com exceção de algumas comunidades que rejeitaram as barreiras ao mar.
Antes de 2011, os habitantes de Taro acreditavam que os muros suportariam qualquer coisa.
"Taro havia construído uma cidade perfeita para prevenir desastres", afirmou à AFP Kumiko Motoda, uma guia local.
A cidade começou a construir diques em 1934, depois que foi arrasada pelos maremotos de 1896 e 1933.
Estas barreiras de 10 metros de altura, de 2,4 quilômetros de extensão, conhecidas como "A Grande Muralha", tinham 44 saídas de evacuação e eram equipadas com painéis solares para manter as luzes acesas.
As estradas de evacuação eram sinalizadas e os moradores tinham quase 10 minutos para chegar em uma área segura, explica Motoda.
Mas os 16 metros de altura da onda de 11 de março de 2011 passou por cima dos diques e os destruiu, ao mesmo tempo que arrastou casas e veículos.
Em Taro, 140 residentes morreram e 41 são considerados desparecidos.
Depois do desastre, o governo do Japão pediu às regiões costeiras que contemplassem a construção ou reconstrução dos muros, para os quais destinou 1,3 trilhão de ienes (12 bilhões de dólares).
No total, o país tem 430 quilômetros de barreiras, 80% concluídos.
- "Propenso aos desastres" -
As estruturas modificaram a paisagem da costa, impedindo a observação do mar em alguns trechos.
Em Taro, as muralhas medem 14,7 metros de altura e dois quilômetros de comprimento.
Para observar o mar, os moradores precisam subir uma escada que parece seguir diretamente ao céu.
Os especialistas consideram que os diques cumprem duas funções: atuam como quebra-mar e reduzem os danos, além de economizar tempo para a retirada das pessoas.
Poucos minutos podem mudar tudo, afirma Tomoya Shibayama, professor de Engenharia Civil e Meio Ambiente da Universidade de Waseda.
"Aconteceram muitos momentos (em 2011) em que estes poucos minutos mudaram o destino das pessoas", conta à AFP.
As novas construções têm bases mais largas e muros internos reforçados para absorver com mais eficiência a força das ondas.
Também foram adaptados à altura das maiores ondas dos tsunamis mais potentes, que acontecem uma vez a cada 100 anos.
Os sistemas de alarme foram reforçados, assim como as simulações por computador para rastrear as rotas de fuga e o deslocamento de comunidades.
Embora as barreiras por si só não sejam suficientes, são necessárias, explica Shibayama.
"Sempre há um risco de desastre natural, mesmo que as comunidades sejam realocadas. O Japão é um arquipélago propenso a desastres", recorda.
A experiência de Taro em 2011 mostrou que os diques não são uma solução à prova de falhas.
"Algumas pessoas não procuraram locais seguros porque pensaram que o tsunami não as atingiria", disse Motoda.
- "Esta é minha casa" -
Um grande terremoto que aconteceu dois dias antes havia provocado uma pequena onda, o que provavelmente deu uma falsa sensação de segurança.
"Os diques estão aqui para permitir ganhar tempo, para que as pessoas possam sair, não para conseguir parar um tsunami", explica Motoda, cuja mãe é uma das pessoas consideradas desaparecidas após o tsunami.
Para ela, os muros têm como objetivo final que o mar não arraste os corpos das vítimas.
Mas os diques não escapam da polêmica e algumas comunidades rejeitaram a ideia do isolamento em relação ao mar, independente dos riscos.
O pequeno vilarejo pesqueiro de Mone, em Miyagi, perdeu 42 das 55 casas que tinha no tsunami de 2011, mas ao invés de construir um dique preferiu mudar de lugar.
"A única forma de proteger nossas vidas de um tsunami é mudar para lugares mais elevados. Não importa se existe um dique", afirmou o produtor de ostras Makoto Hatakeyama.
A localidade, que perdeu quatro moradores no tsunami, se mudou para 40 metros acima do nível do mar.
Hatakeyama, como muitos pescadores, se dirigiu ao mar para tentar proteger seu barco. Ele sobreviveu ao nadar até uma ilha próxima.
Ele acredita que os diques dão uma falsa sensação de segurança.
"Não se pode fazer nada com um tsunami... As pessoas precisam entender que vivem em um local onde acontecem tsunamis e terremotos".
E perder a conexão direta com o oceano é um sacrifício que não está disposto a fazer.
"Esta vista, a brisa, a atmosfera. Não há praticamente nada igual no Japão", disse o homem de 42 anos.
O mar "é minha identidade, me acalma", afirma. "É minha casa".