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Estado de Minas BAGDÁ

O grande aiatolá Ali Sistani, a bússola do Iraque em todos os sentidos


05/03/2021 15:49

O grande aiatolá Ali Sistani, a principal autoridade religiosa de muitos xiitas no Iraque e em todo o mundo, redefiniu radicalmente seu papel em três décadas para se tornar uma bússola religiosa e política, muitas vezes em meio ao caos.

No sábado, este nonagenário, que nunca aparece em público e cujos representantes leem seus sermões, receberá o papa Francisco em Najaf, uma cidade sagrada no sul do Iraque.

Este grande evento inter-religioso confirma o espírito do dignitário xiita que, desde a invasão do Iraque pelos Estados Unidos em 2003, convenceu milhões de iraquianos a irem às ruas, às urnas e até ao combate.

"Se ao redor do mundo muitas pessoas estão se afastando da religião, Sistani sempre manteve a mesma autoridade moral", disse à AFP Marsin AlShamary, pesquisador do Instituto Brookings.

No Iraque, depois de Saddam Hussein, durante a ocupação dos Estados Unidos e após sua partida, ele conquistou o respeito dos xiitas, mas também dos sunitas e curdos, principalmente sunitas.

O grande aiatolá sempre pediu aos xiitas que respeitassem as minorias e protegessem os cristãos e suas igrejas.

- Equilíbrio ancestral -

E tudo isso sem nunca quebrar o equilíbrio ancestral de seu status.

"Sistani não é alguém que defende uma retirada total, mas também não é um revolucionário", disse AlShamary.

O homem, que usa o turbante preto dos descendentes do profeta, nasceu em Mashhad, no Irã, há mais de 90 anos. Formado em Qom (Irã), ele se estabeleceu em Najaf em 1952, onde sucedeu o grande aiatolá Abul Qasem al Khoei em 1992.

Em prisão domiciliar durante o regime Saddam Hussein, ele estava na linha de frente quando foi detido, defendendo constantemente a moderação.

Em 2004, ele instou os americanos a organizarem eleições democráticas e, mais tarde, pressionou Moqtada Sadr a abandonar a resistência armada. No pior momento da guerra (2006-2007), ele lembrou a proibição de um muçulmano matar outro muçulmano.

Em 2014, Sistani convocou os iraquianos a se oporem ao grupo ultrarradical sunita Estado Islâmico (EI) e criou o que se tornaria a Hashd al Shaabi.

Mas essa coalizão, que deveria reunir civis dispostos a pegar em armas, acabou sendo engolida pelos paramilitares pró-iranianos, organizados em milícias e apoiadores, entre deles, de seu rival religioso, o líder supremo iraniano Ali Khamenei.

- Dúvidas de aiatolá -

Ao longo dos anos, o grande aiatolá Sistani também pediu aos políticos iraquianos que acabassem com a corrupção e a má gestão.

Mas, em 2015, disse à AFP por escrito - a única forma de responder aos fiéis e aos jornalistas - que "infelizmente as coisas correram de forma diferente" do que esperava.

No final de 2019, quando uma revolta sem precedentes atingiu o sistema político instalado em 2003 em Bagdá e no sul xiita, ele foi forçado a destituir o primeiro-ministro que apoiava.

Então, veio o coronavírus e o dignatário, que proibiu as orações das sextas-feiras, refugiou-se no silêncio.

O grande aiatolá, bloqueado entre políticos e cidadãos, também debate sua relação com o Irã, seu país natal e grande vizinho que busca estender sua influência no Iraque.

"Ele nunca negou ser iraniano e, no entanto, em muitos aspectos, é mais iraquiano do que os próprios líderes iraquianos", disse Hayder al Khoei, pesquisador que se encontrou com Sistani em sua modesta casa em Najaf.

- "Ditados" -

No único vídeo em que sua voz é ouvida, ele fala em persa e até rejeitou a nacionalidade iraquiana em duas ocasiões.

Mas "ele sempre manteve distância do Irã, a cujos ditames nunca quis se submeter", disse Kenneth Katzman, do Serviço de Pesquisa do Congresso.

Formado na escola teológica dos xiitas iraquianos, Sistani se opõe à teoria "Wilayat Faqih" do aiatolá iraniano Ruhollah Khomeini, segundo a qual a religião prevalece sobre a política.

Para a escola teológica de Najaf, os religiosos devem se limitar a aconselhar sem se intrometer nos assuntos públicos.

Isso torna Sistani "relutante" em assinar o documento "sobre a fraternidade humana" que o papa já assinou com o grande imã sunita de Al Azhar no Egito, segundo AlShamary.

De qualquer forma, "ninguém mais vai ocupar aquele lugar", acrescenta a pesquisadora. "Ele liderou o Iraque em todos os seus tempos difíceis como um pastor".


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