"Quero que a justiça prevaleça", diz Jones, tio materno do homem negro que morreu sufocado sob o joelho do agente branco de Minneapolis Derek Chauvin. Sua morte gerou protestos indignados em todo o mundo.
"Obviamente, quero uma condenação", declarou Jones à AFP. Mas ele garante que "o sistema" o preocupa.
Chauvin, que pressionou o joelho contra o pescoço de um Floyd imobilizado por quase nove minutos em 25 de maio de 2020, enfrenta acusações de homicídio no tribunal distrital do condado de Hennepin, onde a escolha do júri começa nesta segunda.
Jones, de 55 anos, vive na pequena cidade de Gettysburg, em Dakota do Sul, centenas de quilômetros a oeste de Minneapolis. Espera poder comparecer ao julgamento, mas as restrições de distanciamento social impostas para lidar com a covid-19 permitem que apenas um membro da família compareça por vez.
Para ele, o vídeo do episódio fatídico, filmado por um transeunte e visto por milhões de pessoas em todo o mundo, não deixa margem para dúvidas: Chauvin é "o mais culpado possível".
Quando Jones viu o vídeo pela primeira vez na televisão, não sabia quem era o homem deitado de bruços, sufocado pelo joelho de um policial. "Droga", pensou na época, "isso vai matá-lo!"
Logo depois, sua irmã, angustiada, ligou para ele para dar a notícia. Foi como se alguém "tivesse colocado as mãos no meu peito e arrancado meu coração", conta.
Ele garante que nunca esquecerá as imagens de seu sobrinho ofegante e implorando por sua vida.
Quanto a Chauvin, "agiu como se não houvesse ninguém ao seu redor", mesmo quando uma multidão implorara para que deixasse Floyd respirar.
Jones diz que foi como se Chauvin dissesse a si mesmo: "Posso fazer o que quiser, porque sou um policial, sou um homem branco e nós governamos o mundo".
- "Manipular o sistema" -
Apesar do vídeo chocante, Jones não está otimista sobre o resultado do julgamento, que deve durar várias semanas.
Acredita que "tecnicalidades" - incluindo leis que concedem aos policiais uma considerável imunidade legal - podem ser usadas "para manipular o sistema".
"Coisas assim foram vistas ao longo do tempo e nunca funcionaram como deveriam".
O exemplo mais notório, diz ele, foi o espancamento de um homem negro, Rodney King, pela polícia de Los Angeles em 1992, após uma perseguição em alta velocidade. Embora o espancamento prolongado tenha sido gravado em vídeo, o júri absolveu três dos agentes envolvidos e não chegou a um veredicto sobre o quarto.
O resultado levou a seis dias de tumultos sangrentos em bairros afro-americanos e latinos que deixaram 63 mortos.
Jones teme que o cenário se repita se Chauvin não for condenado à prisão.
"Se houver uma absolvição, o mundo inteiro será dilacerado", aposta. "Eu odeio distúrbios, mas às vezes é a única maneira de as pessoas entenderem".
As circunstâncias que envolveram a morte de seu sobrinho e os enormes protestos que gerou dão a Jones alguma esperança.
"Por acaso, a morte do meu sobrinho aconteceu no meio de uma pandemia, com todos (tendo) a oportunidade de ver como é o racismo", sentencia.
"Porque é disso que se trata: racismo, poder e controle. A mesma coisa que foi infligida aos negros por centenas de anos".
"A única razão" que levou Chauvin à detenção, diz Jones, "é porque as pessoas estavam fartas e cansadas de estar fartas e cansadas".
Novos protestos estão planejados em torno da área onde o julgamento acontece. As argumentações de abertura estão marcadas para 29 de março e grande atenção da mídia é garantida.
Com "tanta pressão neste caso pode ser que algo aconteça", conclui Jones, com um pouco de esperança.
MINNEAPOLIS