Jornal Estado de Minas

YANGON

Forças de segurança birmanesas dispersam manifestações após noite de detenções

As forças de segurança dispersaram rapidamente várias manifestações pró-democracia nesta terça-feira (9) em Mianmar, após o cerco durante a noite de centenas de ativistas no centro de Yangon, onde os agentes intensificaram as operações e as detenções.



Protestos foram registrados em vários pontos do país, que foram dispersados com gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral, de acordo com a imprensa local. Mas não foram constatados episódios violentos, ao contrário do que aconteceu na segunda-feira.

Na segunda-feira à noite, centenas de manifestantes, incluindo muitas birmanesas que celebravam o Dia Internacional da Mulher, foram encurralados durante horas no bairro de Sanchaung, cenário de grandes protestos nos últimos dias.

As forças de segurança entraram em várias casas para procurar detratores do regime. Quem esconder manifestantes será punido, advertiu a imprensa estatal.

"A polícia inspecionou todas as casas desta rua. Entraram no nosso apartamento, mas não escondemos ninguém e foram embora", contou um morador.

"Falaram para não olharmos para eles ou atirariam", disse outro, antes de explicar que as casas que tinham em suas janelas e varandas bandeiras da Liga Nacional pela Democracia (LND), partido de Aung San Suu Kyi, foram alvos da operação, que terminou com dezenas de pessoas detidas.



Para apoiar os manifestantes cercados, centenas de habitantes desafiaram o toque de recolher imposto pelas autoridades e saíram às ruas. "Libertem os estudantes", gritaram.

As forças de segurança usaram bombas de efeito moral para tentar dispersar os opositores.

Os manifestantes conseguiram sair do bairro nas primeiras horas do dia.

"A paciência do governo acabou", afirmou a imprensa estatal, após cinco semanas de manifestações pró-democracia diárias.

Uma série de atos que provocaram, novamente, as condenações da comunidade internacional. A ONU pediu "máxima moderação" ao exército.

- Captura -

A junta continua com a repressão para tentar sufocar a insurreição pacífica contra o golpe de Estado que derrubou Aung San Suu Kyi no dia 1º de fevereiro.

Na segunda-feira, a jornada de protestos terminou com três manifestantes mortos e vários feridos.



Nesta terça-feira, um membro do LND ligado ao governo civil, Zaw Myat Linn, morreu durante um interrogatório, anunciou o Associação de Assistência aos Presos Políticos (AAPP), que contabiliza 60 civis mortos desde o golpe de Estado.

Mais de 1.800 pessoas foram presas nas últimas semanas, e cada vez mais ocorrem ataques contra ONGs, mídia e políticos.

Um dia depois de uma operação da polícia na agência de notícias Myanmar Now, nesta terça-feira os agentes compareceram à sede do meio de comunicação independente Mizzima.

O ministério da Informação revogou a licença do Mizzima e de outros meios de comunicação independentes (Myanmar Now, DVB, Khit Thit e 7 Day).

Muitos dirigentes da Liga Nacional para a Democracia também foram detidos e um líder local do partido morreu na repressão.

- Controle dos hospitais -

Os militares confirmaram que assumiram o controle dos hospitais públicos e campi universitários, de acordo com eles "a pedido de cidadãos que não querem ver instabilidade em seu país".



Médicos, professores, advogados e funcionários públicos se declararam em greve desde o golpe de Estado. A convocação de desobediência civil tem um forte impacto em setores como a administração pública, os bancos e o os hospitais.

A junta militar advertiu que os funcionários que não retornassem ao trabalho seriam demitidos.

No âmbito diplomático, o embaixador birmanês no Reino Unido seguiu os passos do seu homólogo na ONU e na segunda-feira distanciou-se da ação do regime militar, exigindo "a libertação de Aung San Suu Kyi", de quem era convocado por seu governo.

Os generais ignoram os protestos da comunidade internacional, dividida sobre o tema.

Reino Unido, Estados Unidos e outros países ocidentais adotaram sanções seletivas, mas China e Rússia, aliados do exército birmanês, não condenaram o golpe de Estado.

O Conselho de Segurança da ONU não alcançou um acordo sobre uma declaração conjunta e prosseguirá com as negociações esta semana.

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