Segundo a estimativa média do mercado, a taxa Selic subirá 0,5 ponto percentual, a 2,5%, depois de ser mantida em seu mínimo histórico de 2% desde agosto de 2020. E no fim de 2021, deve chegar a 4,5%, de acordo com a pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo BCB.
Uma situação inversa à da maioria dos países, que preveem um aumento da inflação quando a economia se normalizar, com a população vacinada contra a covid-19.
No Brasil, os preços estão subindo em um momento em que a pandemia mata pela primeira vez mais de 2.000 pessoas por dia, com um balanço total de quase 280.000 mortos, e uma vacinação em câmera lenta.
O aumento dos preços em dose meses chegou em fevereiro a 5,20%, um máximo desde janeiro de 2017.
Esse resultado supera o centro da meta inflacionária do BCB para 2021 (3,75%) e está prestes a estourar seu teto (5,25%). A previsão do mercado, de 4,6%, aumenta há dez semanas.
- Um "choque de juros" -
A inflação em dose meses foi pressionada pelo aumento da gasolina (9%) e sobretudo pela alimentação (15%), com altas absurdas do arroz (70%), do feijão (52%) e da carne (29,5%).
A disparada se deveu à demanda mundial de produtos agrícolas, à forte desvalorização do real frente ao dólar e a piora do quadro fiscal, com uma economia que encolheu 4,1% em 2020.
Para Mauro Rochlin, professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o BCB, formalmente autônomo desde fevereiro, deveria se decidir a aplicar "um choque de juros", aumentando na quarta-feira a Selic a 2,75%, para sufocar a inflação.
Um aumento fraco da Selic "vai levantar especulações sobre a leniência do BC com a inflação mais alta ou com a pressão política", adverte.
O economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato Fonseca, acredita, ao contrário, que "não é o momento" de aumentar os juros, visto que as medidas de confinamento contra a covid vão impactar o consumo.
"A política de aumento de juros é para reduzir a demanda para reduzir a inflação. A gente não vê a necessidade porque estamos em um processo de arrefecimento da demanda" devido às medidas restritivas, disse Fonseca à AFP.
A previsão média de crescimento do PIB em 2021 diminuiu de 3,43% há um mês para 3,23%. O primeiro trimestre poderia, inclusive, registrar uma contração, agravando a situação social do país, que encerrou 2020 com 13,9 milhões de desempregados, 2,3 milhões a mais do que em 2019.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, insiste em que a chave do recuperação, depois da pandemia, estará em seus programas de ajustes e privatizações.
"O aumento de preços que estamos vendo é setorial e transitório", disse Guedes na semana passada em entrevista ao portal Jota.info.
"O Brasil vai ser a maior fronteira de investimentos de 2021", acrescentou.
Um otimismo que parece ignorar que a perspectiva das eleições de 2022 será pouco propícia para executar reformas impopulares.
RIO DE JANEIRO