Uma agência reguladora dos Estados Unidos expressou "preocupação" com a possibilidade do laboratório AstraZeneca ter incluído dados "desatualizados" nos testes clínicos neste país de sua vacina contra a COVID-19, o que renova as dúvidas sobre a eficácia e segurança do fármaco.
Leia Mais
Incêndio em campo de refugiados rohingyas em Bangladesh deixa 15 mortos e 400 desaparecidosAstraZeneca entregará mais dados de sua vacina à agência americana em 48 horasLíder escocesa Nicola Sturgeon 'enganou' Parlamento, diz CPIA AstraZeneca anunciou na segunda-feira que testes em mais de 32.000 pessoas nos Estados Unidos mostraram que a vacina tem eficácia de 79% para prevenir a covid-19 sintomática e de 100% para evitar as formas graves da doença e a hospitalização, além de garantir que não aumenta o risco de coágulos no sangue.
Mas em um comunicado divulgado na segunda-feira à noite, o Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (NIAID) americano expressou "preocupação com o fato de que a AstraZeneca pode ter incluído informações desatualizadas no teste, o que pode ter fornecido uma visão incompleta dos dados de eficácia".
"Nós instamos a empresa a trabalhar com o DSMB (Conselho de Monitoramento de Dados e Segurança, um grupo de especialistas independentes que revisa os testes clínicos) para revisar os dados de eficácia e garantir que dados mais precisos e atualizados serão tornados públicos o mais rápido possível", completa a nota.
O laboratório anglo-sueco anunciou nesta terça-feira que publicará "em 48 horas" mais dados sobre os testes clínicos nos Estados Unidos de sua vacina contra a COVID-19.
A empresa farmacêutica afirma em um comunicado que utilizou dados anteriores a 17 de fevereiro para os resultados publicados na segunda-feira dos testes clínicos nos Estados Unidos e indicou que deseja entrar em contato "imediatamente" com as autoridades de saúde para entregar em 48 horas uma "análise com os dados de eficácia mais atualizados possíveis".
A vacina da AstraZeneca contra o coronavírus é mais barata e fácil de armazenar que outras, mas vários países suspenderam temporariamente na semana passada a aplicação do fármaco devido aos casos isolados de coágulos sanguíneos registrados em algumas pessoas que receberam a vacina.
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) a consideram segura e eficaz. A vacina voltou a ser administrada em vários países.
Mas a desconfiança persiste e uma pesquisa do instituto YouGov, realizada entre 12 e 18 de março, mostrou que a maioria dos entrevistados nos principais países europeus têm dúvidas sobre a segurança da vacina da AstraZeneca.
Além disso, as autoridades europeias expressaram irritação porque o laboratório anglo-sueco cumpriu os prazos de entrega prometidos ao Reino Unido, mas não com a União Europeia.
"Uma nova pandemia"
A pressão é ainda maior porque a situação de saúde não melhora na Europa. A Alemanha, que enfrenta uma aceleração de contágios, reforçará o confinamento durante a Semana Santa, anunciou a chanceler Angela Merkel nesta terça-feira (23/03).
Após negociações de quase 12 horas com os estados federados, Merkel disse que a maioria dos estabelecimentos comerciais permanecerão fechados e as cerimônias religiosas serão canceladas na Alemanha de 1 a 5 de abril.
A Alemanha entrou em uma "nova pandemia (...) claramente mais letal, claramente mais infecciosa e contagiosa durante mais tempo", devido à propagação das variantes da covid-19, disse Merkel.
A França, que também tem novas restrições, vai abrir 35 grandes centros de vacinação "nos próximos dias" para acelerar o ritmo da imunização contra a covid-19, anunciou a ministra da Indústria, Agnès Pannier-Runacher, depois que o governo de Emmanuel Macron se tornou alvo de críticas pela lentidão da campanha.
Macron afirmou nesta terça-feira que o país deve vacinar "de manhã, tarde e noite" para vencer a covid-19.
"Não há fins de semana nem feriados para a vacinação, que está no coração da batalha contra o vírus", completou o presidente.
O Reino Unido, país mais afetado da Europa, recorda nesta terça-feira o aniversário do primeiro confinamento com um "Dia Nacional de Reflexão", quando o Parlamento respeitará um minuto de silêncio em homenagem aos 126.000 mortos pela covid-19.
A homenagem também servirá como agradecimento ao trabalho dos profissionais da saúde e a todos os britânicos por seu esforço.
- Putin vacinado? -
A polêmica a respeito da segurança da vacina não envolve apenas a AstraZeneca. Também afeta a possível autorização da russa Sputnik V na União Europeia, ante o que o presidente Vladimir Putin advertiu: "Não estamos impondo nada a ninguém".
O presidente de 68 anos será vacinado nesta terça-feria, em um ato privado.
A vacina Sputnik V provoca ceticismo no Ocidente, porque foi apresentada no ano passado antes de ser submetida a testes clínicos em larga escala.
A União Europeia também está dividida sobre o endurecimento das condições de exportação das vacinas fabricadas em seu território, uma medida dirigida a AstraZeneca e que alimenta as tensões com o Reino Unido, país mais avançado na campanha de imunização.
Os 27, em conflito com o grupo anglo-sueco por entregas muito inferiores às previstas, terão uma reunião por videoconferência na quinta-feira e sexta-feira.
- Medidas no Rio -
As campanhas de vacinação são vitais na luta para acabar con una pandemia que provocou mais de 2,7 milhões de mortes desde o surgimento, no fim de 2019, na China.
Mais de 430 milhões de doses foram aplicadas em todo o mundo, sobretudo nos países mais ricos, enquanto muitas nações pobres ainda não receberam nenhuma vacina.
A América Latina sofre com a distribuição desigual e as restrições persistem na região.
No Brasil, que com 295.425 mortes e mais de 12 milhões de casos é o segundo país mais afetado do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, o Rio de Janeiro anunciou 10 dias seguidos de feriado - de 26 de março a 4 de abril - para restringir ao máximo os deslocamentos, com toque de recolher noturno.
As disputas políticas pela pandemia não param no país. O governador de São Paulo, João Doria, chamou de "psicopata" o presidente Jair Bolsonaro, que minimizou a pandemia, promoveu aglomerações, criticou as restrições e espalhou dúvidas sobre as vacinas.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ordenou a prorrogação do confinamento durante a Semana Santa para frear o avanço da variante brasileira.
A luta contra a covid-19 não se limita às vacinas. O grupo farmacêutico suíço Roche revelou nesta terça-feira resultados promissores de testes clínicos para o coquetel experimental anticovid de tratamentos que combinam os medicamentos casirivimab e imdevimab, no qual colabora o laboratório americano Regeneron, para os pacientes não hospitalizados.