Uma agência reguladora dos Estados Unidos expressou "preocupação" com a possibilidade do laboratório AstraZeneca ter incluído dados "desatualizados" nos testes clínicos neste país de sua vacina contra a COVID-19, o que renova as dúvidas sobre a eficácia e segurança do fármaco.
As suspeitas citadas nos Estados Unidos sobre uma das vacinas mais usadas no mundo acontece em um momento de agravamento da pandemia na a Europa e América Latina, com novas restrições anunciadas para a Semana Santa em países como Alemanha e Brasil.
A AstraZeneca anunciou na segunda-feira que testes em mais de 32.000 pessoas nos Estados Unidos mostraram que a vacina tem eficácia de 79% para prevenir a covid-19 sintomática e de 100% para evitar as formas graves da doença e a hospitalização, além de garantir que não aumenta o risco de coágulos no sangue.
Mas em um comunicado divulgado na segunda-feira à noite, o Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (NIAID) americano expressou "preocupação com o fato de que a AstraZeneca pode ter incluído informações desatualizadas no teste, o que pode ter fornecido uma visão incompleta dos dados de eficácia".
"Nós instamos a empresa a trabalhar com o DSMB (Conselho de Monitoramento de Dados e Segurança, um grupo de especialistas independentes que revisa os testes clínicos) para revisar os dados de eficácia e garantir que dados mais precisos e atualizados serão tornados públicos o mais rápido possível", completa a nota.
O laboratório anglo-sueco anunciou nesta terça-feira que publicará "em 48 horas" mais dados sobre os testes clínicos nos Estados Unidos de sua vacina contra a COVID-19.
A empresa farmacêutica afirma em um comunicado que utilizou dados anteriores a 17 de fevereiro para os resultados publicados na segunda-feira dos testes clínicos nos Estados Unidos e indicou que deseja entrar em contato "imediatamente" com as autoridades de saúde para entregar em 48 horas uma "análise com os dados de eficácia mais atualizados possíveis".
A vacina da AstraZeneca contra o coronavírus é mais barata e fácil de armazenar que outras, mas vários países suspenderam temporariamente na semana passada a aplicação do fármaco devido aos casos isolados de coágulos sanguíneos registrados em algumas pessoas que receberam a vacina.
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) a consideram segura e eficaz. A vacina voltou a ser administrada em vários países.
Mas a desconfiança persiste e uma pesquisa do instituto YouGov, realizada entre 12 e 18 de março, mostrou que a maioria dos entrevistados nos principais países europeus têm dúvidas sobre a segurança da vacina da AstraZeneca.
Além disso, as autoridades europeias expressaram irritação porque o laboratório anglo-sueco cumpriu os prazos de entrega prometidos ao Reino Unido, mas não com a União Europeia.
A pressão é ainda maior porque a situação de saúde não melhora na Europa. A Alemanha, que enfrenta uma aceleração de contágios, reforçará o confinamento durante a Semana Santa, anunciou a chanceler Angela Merkel nesta terça-feira (23/03).
Após negociações de quase 12 horas com os estados federados, Merkel disse que a maioria dos estabelecimentos comerciais permanecerão fechados e as cerimônias religiosas serão canceladas na Alemanha de 1 a 5 de abril.
A Alemanha entrou em uma "nova pandemia (...) claramente mais letal, claramente mais infecciosa e contagiosa durante mais tempo", devido à propagação das variantes da covid-19, disse Merkel.
A França, que também tem novas restrições, vai abrir 35 grandes centros de vacinação "nos próximos dias" para acelerar o ritmo da imunização contra a covid-19, anunciou a ministra da Indústria, Agnès Pannier-Runacher, depois que o governo de Emmanuel Macron se tornou alvo de críticas pela lentidão da campanha.
Macron afirmou nesta terça-feira que o país deve vacinar "de manhã, tarde e noite" para vencer a covid-19.
"Não há fins de semana nem feriados para a vacinação, que está no coração da batalha contra o vírus", completou o presidente.
O Reino Unido, país mais afetado da Europa, recorda nesta terça-feira o aniversário do primeiro confinamento com um "Dia Nacional de Reflexão", quando o Parlamento respeitará um minuto de silêncio em homenagem aos 126.000 mortos pela covid-19.
A homenagem também servirá como agradecimento ao trabalho dos profissionais da saúde e a todos os britânicos por seu esforço.
- Putin vacinado? -
A polêmica a respeito da segurança da vacina não envolve apenas a AstraZeneca. Também afeta a possível autorização da russa Sputnik V na União Europeia, ante o que o presidente Vladimir Putin advertiu: "Não estamos impondo nada a ninguém".
O presidente de 68 anos será vacinado nesta terça-feria, em um ato privado.
A vacina Sputnik V provoca ceticismo no Ocidente, porque foi apresentada no ano passado antes de ser submetida a testes clínicos em larga escala.
A União Europeia também está dividida sobre o endurecimento das condições de exportação das vacinas fabricadas em seu território, uma medida dirigida a AstraZeneca e que alimenta as tensões com o Reino Unido, país mais avançado na campanha de imunização.
Os 27, em conflito com o grupo anglo-sueco por entregas muito inferiores às previstas, terão uma reunião por videoconferência na quinta-feira e sexta-feira.
- Medidas no Rio -
As campanhas de vacinação são vitais na luta para acabar con una pandemia que provocou mais de 2,7 milhões de mortes desde o surgimento, no fim de 2019, na China.
Mais de 430 milhões de doses foram aplicadas em todo o mundo, sobretudo nos países mais ricos, enquanto muitas nações pobres ainda não receberam nenhuma vacina.
A América Latina sofre com a distribuição desigual e as restrições persistem na região.
No Brasil, que com 295.425 mortes e mais de 12 milhões de casos é o segundo país mais afetado do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, o Rio de Janeiro anunciou 10 dias seguidos de feriado - de 26 de março a 4 de abril - para restringir ao máximo os deslocamentos, com toque de recolher noturno.
As disputas políticas pela pandemia não param no país. O governador de São Paulo, João Doria, chamou de "psicopata" o presidente Jair Bolsonaro, que minimizou a pandemia, promoveu aglomerações, criticou as restrições e espalhou dúvidas sobre as vacinas.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ordenou a prorrogação do confinamento durante a Semana Santa para frear o avanço da variante brasileira.
A luta contra a covid-19 não se limita às vacinas. O grupo farmacêutico suíço Roche revelou nesta terça-feira resultados promissores de testes clínicos para o coquetel experimental anticovid de tratamentos que combinam os medicamentos casirivimab e imdevimab, no qual colabora o laboratório americano Regeneron, para os pacientes não hospitalizados.
As suspeitas citadas nos Estados Unidos sobre uma das vacinas mais usadas no mundo acontece em um momento de agravamento da pandemia na a Europa e América Latina, com novas restrições anunciadas para a Semana Santa em países como Alemanha e Brasil.
A AstraZeneca anunciou na segunda-feira que testes em mais de 32.000 pessoas nos Estados Unidos mostraram que a vacina tem eficácia de 79% para prevenir a covid-19 sintomática e de 100% para evitar as formas graves da doença e a hospitalização, além de garantir que não aumenta o risco de coágulos no sangue.
Mas em um comunicado divulgado na segunda-feira à noite, o Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (NIAID) americano expressou "preocupação com o fato de que a AstraZeneca pode ter incluído informações desatualizadas no teste, o que pode ter fornecido uma visão incompleta dos dados de eficácia".
"Nós instamos a empresa a trabalhar com o DSMB (Conselho de Monitoramento de Dados e Segurança, um grupo de especialistas independentes que revisa os testes clínicos) para revisar os dados de eficácia e garantir que dados mais precisos e atualizados serão tornados públicos o mais rápido possível", completa a nota.
O laboratório anglo-sueco anunciou nesta terça-feira que publicará "em 48 horas" mais dados sobre os testes clínicos nos Estados Unidos de sua vacina contra a COVID-19.
A empresa farmacêutica afirma em um comunicado que utilizou dados anteriores a 17 de fevereiro para os resultados publicados na segunda-feira dos testes clínicos nos Estados Unidos e indicou que deseja entrar em contato "imediatamente" com as autoridades de saúde para entregar em 48 horas uma "análise com os dados de eficácia mais atualizados possíveis".
A vacina da AstraZeneca contra o coronavírus é mais barata e fácil de armazenar que outras, mas vários países suspenderam temporariamente na semana passada a aplicação do fármaco devido aos casos isolados de coágulos sanguíneos registrados em algumas pessoas que receberam a vacina.
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) a consideram segura e eficaz. A vacina voltou a ser administrada em vários países.
Mas a desconfiança persiste e uma pesquisa do instituto YouGov, realizada entre 12 e 18 de março, mostrou que a maioria dos entrevistados nos principais países europeus têm dúvidas sobre a segurança da vacina da AstraZeneca.
Além disso, as autoridades europeias expressaram irritação porque o laboratório anglo-sueco cumpriu os prazos de entrega prometidos ao Reino Unido, mas não com a União Europeia.
"Uma nova pandemia"
A pressão é ainda maior porque a situação de saúde não melhora na Europa. A Alemanha, que enfrenta uma aceleração de contágios, reforçará o confinamento durante a Semana Santa, anunciou a chanceler Angela Merkel nesta terça-feira (23/03).
Após negociações de quase 12 horas com os estados federados, Merkel disse que a maioria dos estabelecimentos comerciais permanecerão fechados e as cerimônias religiosas serão canceladas na Alemanha de 1 a 5 de abril.
A Alemanha entrou em uma "nova pandemia (...) claramente mais letal, claramente mais infecciosa e contagiosa durante mais tempo", devido à propagação das variantes da covid-19, disse Merkel.
A França, que também tem novas restrições, vai abrir 35 grandes centros de vacinação "nos próximos dias" para acelerar o ritmo da imunização contra a covid-19, anunciou a ministra da Indústria, Agnès Pannier-Runacher, depois que o governo de Emmanuel Macron se tornou alvo de críticas pela lentidão da campanha.
Macron afirmou nesta terça-feira que o país deve vacinar "de manhã, tarde e noite" para vencer a covid-19.
"Não há fins de semana nem feriados para a vacinação, que está no coração da batalha contra o vírus", completou o presidente.
O Reino Unido, país mais afetado da Europa, recorda nesta terça-feira o aniversário do primeiro confinamento com um "Dia Nacional de Reflexão", quando o Parlamento respeitará um minuto de silêncio em homenagem aos 126.000 mortos pela covid-19.
A homenagem também servirá como agradecimento ao trabalho dos profissionais da saúde e a todos os britânicos por seu esforço.
- Putin vacinado? -
A polêmica a respeito da segurança da vacina não envolve apenas a AstraZeneca. Também afeta a possível autorização da russa Sputnik V na União Europeia, ante o que o presidente Vladimir Putin advertiu: "Não estamos impondo nada a ninguém".
O presidente de 68 anos será vacinado nesta terça-feria, em um ato privado.
A vacina Sputnik V provoca ceticismo no Ocidente, porque foi apresentada no ano passado antes de ser submetida a testes clínicos em larga escala.
A União Europeia também está dividida sobre o endurecimento das condições de exportação das vacinas fabricadas em seu território, uma medida dirigida a AstraZeneca e que alimenta as tensões com o Reino Unido, país mais avançado na campanha de imunização.
Os 27, em conflito com o grupo anglo-sueco por entregas muito inferiores às previstas, terão uma reunião por videoconferência na quinta-feira e sexta-feira.
- Medidas no Rio -
As campanhas de vacinação são vitais na luta para acabar con una pandemia que provocou mais de 2,7 milhões de mortes desde o surgimento, no fim de 2019, na China.
Mais de 430 milhões de doses foram aplicadas em todo o mundo, sobretudo nos países mais ricos, enquanto muitas nações pobres ainda não receberam nenhuma vacina.
A América Latina sofre com a distribuição desigual e as restrições persistem na região.
No Brasil, que com 295.425 mortes e mais de 12 milhões de casos é o segundo país mais afetado do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, o Rio de Janeiro anunciou 10 dias seguidos de feriado - de 26 de março a 4 de abril - para restringir ao máximo os deslocamentos, com toque de recolher noturno.
As disputas políticas pela pandemia não param no país. O governador de São Paulo, João Doria, chamou de "psicopata" o presidente Jair Bolsonaro, que minimizou a pandemia, promoveu aglomerações, criticou as restrições e espalhou dúvidas sobre as vacinas.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ordenou a prorrogação do confinamento durante a Semana Santa para frear o avanço da variante brasileira.
A luta contra a covid-19 não se limita às vacinas. O grupo farmacêutico suíço Roche revelou nesta terça-feira resultados promissores de testes clínicos para o coquetel experimental anticovid de tratamentos que combinam os medicamentos casirivimab e imdevimab, no qual colabora o laboratório americano Regeneron, para os pacientes não hospitalizados.