Suas declarações em videochamada eram o momento mais esperado deste processo que ocorre na sede de San Fernando de Henares (região de Madri) da Audiência Nacional, uma alta jurisdição encarregada de questões econômicas complexas.
Os dois ex-presidentes desmentiram novamente o suposto financiamento irregular do partido.
"Eu não soube de nenhuma contabilidade paralela, não soube de nada além da contabilidade oficial do PP", disse José María Aznar, presidente do governo entre 1996 e 2004.
"Não houve caixa B do Partido Popular", concordou na declaração posterior Mariano Rajoy, seu herdeiro na liderança do partido e chefe do Executivo espanhol entre 2011 e 2018.
O principal acusado do julgamento é Luis Bárcenas, personagem-chave do chamada "caixa B" do partido conservador, um fundo não declarado que durante duas décadas foi alimentado por doações de empresários e que serviu para pagar bônus aos líderes e colaboradores do partido.
A Promotoria pede cinco anos de prisão para este ex-gerente (1990-2008) e ex-tesoureiro (2008-2009) do PP, que já cumpre uma pena de 29 anos de prisão devido a um julgamento que em 2018 creditou a existência da contabilidade irregular do partido.
Essa sentença impulsionou uma moção de censura que tirou Rajoy e o PP do poder em junho de 2018, substituídos pelos socialistas liderados por Pedro Sánchez.
Os depoimentos de Aznar e de Rajoy, precedidos no dia anterior por outros ex-altos cargos conservadores, geraram muita expectativa, especialmente depois que Bárcenas afirmou no início do julgamento que Rajoy recebeu os bônus.
"Eu entreguei a eles o bônus com a quantidade que lhes correspondia", disse Bárcenas, referindo-se a Rajoy e a outros sete políticos que ocuparam cargos de dirigentes no PP e também cargos ministeriais, primeiro com Aznar e depois com Rajoy.
Segundo explicou Bárcenas, os bônus salariais buscavam garantir o mesmo nivel de remuneração para Rajoy e a cúpula do PP quando se tornaram ministros nos anos 1990, já que por lei não podiam receber o dinheiro de representação do PP quando eram deputados na oposição.
Essas acusações "são absolutamente falsas", enfatizou várias vezes Rajoy, que garante nunca ter cobrado bônus salariais do partido.
"É um delírio", insistiu o ex-líder conservador, já aposentado da política.
Aznar também afirmou que "nunca recebi nenhum complemento salarial".