A promotoria buscou mostrar que o policial branco Derek Chauvin não tinha justificativa para sua ação de nove minutos que acabou asfixiando o afro-americano Floyd, que ele havia detido por uma contravenção.
A defesa de Chauvin alegou que pode provar que Floyd estava drogado, o que teria forçado os policiais a serem mais duros, e que sua morte se deve mais às drogas e a seus problemas de saúde do que à asfixia.
"Nove minutos e 29 segundos. Esse foi o tempo que durou", disse o promotor Jerry Blackwell, sobre o tempo que Chauvin manteve o joelho pressionado sobre o pescoço de Floyd.
No vídeo, o júri ouviu Floyd, algemado e com o corpo estendido de bruços na calçada, tentando recuperar o fôlego enquanto os pedestres pediam ao policial para não usar tanta força.
"Não consigo respirar", implorou Floyd, antes de desmaiar.
Com 19 anos na polícia, Chauvin é acusado de assassinato e homicídio culposo e enfrenta até 40 anos de prisão se for declarado culpado da acusação mais grave: assassinato em segundo grau. O veredicto deve sair no final de abril ou início de maio.
O vídeo da morte de Floyd, gravado e transmitido ao vivo nas redes sociais por um pedestre, gerou protestos antirracistas e confrontos pelos abusos policiais contra os negros em todo os Estados Unidos e inclusive em outros países.
O presidente Joe Biden "certamente estará observando de perto, assim como os americanos de todo o país", afirmou sua porta-voz, Jen Psaki, mencionando a "ferida" que este caso deixou no país.
- "Força excessiva e irracional" -
Blackwell disse em sua declaração que o ex-policial de 45 anos não seguiu os procedimentos policiais e agiu de forma insensível ao continuar pressionando o corpo imóvel de Floyd contra o chão.
"O senhor Derek Chauvin traiu seu distintivo policial quando usou uma força excessiva e irracional sobre o corpo do senhor George Floyd", disse Blackwell.
"Ele colocou seus joelhos sobre o pescoço e as costas, machucando-o e esmagando-o, até que sua respiração - não, senhoras e senhores, até que a própria vida - lhe fosse arrancada", continuou.
O advogado de Chauvin, Eric Nelson, afirmou ao júri que Floyd estava sob a influência de drogas ao ser detido e resistiu à prisão.
"Derek Chauvin fez exatamente o que foi treinado a fazer", afirmou Nelson. Ele pediu ao júri para ignorar a política e os movimentos sociais que rondam o caso. "Não existe nenhuma causa política ou social nesta sala", acrescentou.
"As evidências mostrarão que Floyd morreu de arritmia cardíaca por causa da hipertensão, sua doença coronariana, a ingestão de metanfetamina e fentanil e a adrenalina que fluía em seu corpo. Tudo isso comprometeu ainda mais partes do corpo que já estavam comprometidas", argumentou.
O julgamento de Chauvin, transmitido ao vivo, se tornou o centro das atenções para o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) e uma prova sobre o exercício da justiça no âmbito policial.
O advogado e os membros da família Floyd se ajoelharam durante o tempo em que Chauvin pressionou o joelho sobre o pescoço de Floyd no vídeo.
- "Achei que a imagem tinha congelado" -
Blackwell deixou claro que não pretende julgar todos os policiais, somente Chauvin, que foi demitido do departamento de polícia de Minneapolis após o incidente.
Ben Crump, advogado dos direitos civis que representa a família da vítima, disse que o advogado de defesa de Chauvin "vai tentar assassinar o caráter de George Floyd".
"Mas este é o julgamento de Derek Chauvin, vamos ver seu histórico", afirmou. "Os fatos são simples. O que matou George Floyd foi uma overdose de força excessiva".
Para mostrar que a atitude do agente foi equivocada, o promotor chamou como primeira testemunha a operadora que enviou a polícia para onde Floyd estava.
Jena Scurry disse que os viu em uma câmera de segurança enquanto atendia outras ligações. "Achei que a imagem tinha congelado", porque eles ficaram muito parados por muito tempo, "meu instinto me dizia que algo estava errado", afirmou ela.
Então, Scurry decidiu chamar outro policial para relatar o incidente.
Donald Williams, um instrutor de artes marciais que estava no local do assassinato, afirmou ter dito a Chauvin que sua maneira de imobilizar Floyd pelo pescoço era equivalente a uma manobra perigosa usada em combates chamada de "blood choke", ou "sufocamento de sangue".
O julgamento acontece em uma sala de Minneapolis fortemente vigiada. O processo deve durar aproximadamente um mês.
O júri de 14 membros é racialmente misto: seis mulheres brancas, três homens negros, dois homens brancos e três mulheres negras.
Os policiais raramente são condenados nos Estados Unidos e a sentença por qualquer uma das acusações contra Chauvin exigirá que o júri emita um veredito unânime.
MINNEAPOLIS