Jornal Estado de Minas

MINNEAPOLIS

Namorada de George Floyd é interrogada pela defesa sobre consumo de drogas

O advogado do ex-policial Derek Chauvin, acusado de ter causado a morte de George Floyd, começou nesta quinta-feira (1º) a construir sua defesa a partir do interrogatório à namorada do falecido, durante o qual a mulher relatou que ambos lutavam contra o vício em opioides.



O processo em Minneapolis é acompanhado com expectativa nos Estados Unidos, no qual muitas emissoras transmitem trechos ao vivo com os depoimentos, depois que a morte do afro-americano Floyd desencadeou uma onda de protestos contra o racismo não vista há décadas.

Floyd morreu depois que Chauvin o imobilizou por vários minutos colocando o joelho em seu pescoço. O ex-policial, que se declarou inocente, pode pegar até 40 anos de prisão se for condenado pela acusação mais grave, homicídio em segundo grau.

Courteney Ross, uma cidadã branca que manteve um relacionamento com o Floyd de 2017 até sua morte, em 25 de maio, é a primeira pessoa próxima ao falecido a testemunhar no julgamento.

Nos dias anteriores, o processo incidiu sobre as pessoas que testemunharam a sua morte, com depoimentos bastante incriminatórios para o ex-policial.

A mulher de 45 anos respondeu às perguntas com dificuldade, chorando e soluçando na maioria das vezes. Em seu relato, ela contou os detalhes do início do seu relacionamento, como Floyd se aproximou dela e a conquistou com sua voz grave e a sugestão de rezarem juntos, num momento em que se viu angustiada.



O promotor Matthew Frank aproveitou o interrogatório para questionar sobre o vício em opiáceos que Floyd e Ross compartilhavam.

"Floyd e eu vivemos a clássica história do vício em opiáceos", contou. "Ficamos viciados e tentamos muito interromper o vício muitas vezes", acrescentou Ross.

Ambos tinham receita para comprimidos opioides sedativos e, após se viciarem, passaram a comprar essas drogas na rua ou no mercado negro.

- "Uma tática fácil" -

Segundo a namorada, apesar do vício, Floyd, um homem que tinha quase dois metros de altura e pesava 100 quilos, mantinha um estilo de vida saudável e praticava exercícios diariamente.

"Ele estava treinando com pesos que eu não conseguia nem levantar", afirmou a mulher, que acha que lidar com vícios é uma luta para toda a vida.

"Não é algo que vem e depois vai, é algo contra o qual você tem que lutar para sempre".

Uma linha importante de defesa do ex-policial é o fato de que, no momento de sua morte, Floyd estava sob efeito de fentanil (um opioide sintético), teria a substância no sangue, que o advogado afirma ter contribuído para sua morte.



O advogado de defesa Eric Nelson entrou em cena tendo como foco de suas perguntas a natureza das drogas usadas, como o casal as obteve e um episódio em março em que Floyd teve uma overdose e teve de ser hospitalizado.

O advogado também destacou que às vezes eles compravam as drogas de duas pessoas que estavam com Floyd no momento de sua morte.

Um deles, Maurice Hall, entrou com um recurso de última hora na quinta-feira para evitar depor.

A estratégia de Nelson gerou indignação na família Floyd, que denunciou "uma tática fácil quando você sabe que tem os fatos contra você".

"Existem dezenas de milhares de americanos que lutam contra a automedicação e o vício em opiáceos e são tratados com dignidade, com respeito e apoio e não com brutalidade", afirmaram os advogados da família da vítima em comunicado no qual afirmavam confiar na capacidade do júri de enxergar mais longe.

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