"Viva as camaradas viúvas! Viva as crianças órfãs! Viva os camaradas deslocados! Viva os nossos irmãos caídos!", grita Sánchez enquanto avança pelas estradas de terra desta cidade do estado de Guerrero.
Ele é seguido por cerca de trinta crianças com rifles de madeira ou bastões que simulam armas. Cobrindo o rosto com lenços, os menores respondem com vivas às proclamações de Sánchez e de outros líderes da polícia comunitária, órgão legal criado para proteger os moradores.
Há alguns anos, Ayahualtempa, de cerca de 1.000 habitantes, está na mira de uma gangue conhecida como "Los Ardillos" por se encontrar em uma área-chave para a produção e o tráfico de goma de ópio, matéria-prima da heroína.
Os moradores reivindicam proteção para impedir os assassinatos, sequestros e desaparecimentos atribuídos a esse grupo que, segundo eles, busca estender suas atividades. Pelo menos nove moradores foram mortos desde 2019.
"Já se passaram 15 meses desde que o governo veio aqui para se comprometer (...) com o apoio. Até agora não vimos nenhum apoio", disse Sánchez à AFP.
- Violência e pobreza -
A cena dessa manifestação já se repete há um ano, para chamar a atenção do presidente Andrés Manuel López Obrador.
"Queremos que o presidente venha e veja a comunidade", disse Sánchez após um treino de tiro com jovens de 16 e 17 anos, ato que o presidente considerou "vergonhoso", quando as primeiras imagens de crianças armadas viralizaram nas redes em 2020.
Guerrero é o terceiro estado mais violento do México, com 1.434 dos 34.552 homicídios registrados no país em 2020. É também o segundo mais pobre, com 66,5% dos habitantes nessa condição.
O presidente afirma que a violência e o empobrecimento neste país de 126 milhões de habitantes é fruto da corrupção de seus antecessores e que está tentando resolver o problema com um investimento em programas sociais que ultrapassou os 14 bilhões de dólares em 2020.
Embora admita que expor menores seja uma forma de chamar a atenção das autoridades, Sánchez ressalta que sua formação é real e busca ensiná-los a se defenderem dos criminosos.
"Chayo", de 17 anos, ingressou na polícia comunitária aos 15. "Os Ardillos sequestraram meus entes queridos, e se você anda desarmado na estrada, eles te sequestram (...) Se você for para a escola, você desaparece, por isso as crianças não puderam mais estudar", diz ele com um fuzil no ombro.
AYAHUALTEMPA