A data adia em quase cinco meses a que havia sido estabelecida em um acordo entre a administração do ex-presidente Donald Trump e os talibãs para a retirada das tropas.
A decisão coincide com o anúncio da Turquia de uma conferência internacional de paz sobre o Afeganistão, com a esperança de alcançar um acordo que represente estabilidade a um país que está em guerra há 40 anos. Mas os talibãs, que se consideram em posição de força, anunciaram que não comparecerão à reunião.
Biden, que fará um anúncio formal nas próximas horas, examinou a possibilidade de manter uma força residual para lutar contra a Al-Qaeda ou a nova ameaça do grupo Estado Islâmico. Também estudou condicionar a retirada à situação no país ou às lentas negociações de paz.
Mas decidiu por uma retirada completa, deixando no país apenas um número limitado de funcionários americanos para proteger as instalações dos Estados Unidos, incluindo a embaixada em Cabul, segundo uma fonte do governo.
"O presidente julgou que um enfoque baseado em condições, que tem sido o das últimas duas décadas, significaria permanecer no Afeganistão para sempre", explicou o funcionário, que pediu anonimato.
O secretário de Estado, Antony Blinken, afirmou nesta quarta-feira que chegou o momento de retirar as tropas da Otan do Afeganistão e que Washington trabalhará em uma saída "coordenada" com seus aliados.
Juntos, alcançamos os objetivos que planejamos e agora é hora de trazer nossas forças para casa", disse Blinken antes de reuniões com os aliados da Otan em Bruxelas.
A ministra da Defesa da Alemanha, Annegret Kramp-Karrenbauer, declarou que a Otan provavelmente se unirá aos Estados Unidos na retirada das tropas em setembro. "Sempre afirmamos: fomos juntos, sairemos juntos".
E o jornal The Times informou que o Reino Unido também vai retirar os quase 750 soldados do território afegão. O governo não desmentiu a notícia.
- Combates prosseguem -
O acordo de fevereiro de 2020 da administração Trump com os talibãs estabelecia que todas as tropas americanas deveriam sair do país em maio 2021, em troca da promessa dos insurgentes de não respaldar a Al-Qaeda e outros extremistas estrangeiros, a razão que motivou a invasão americana de 2001.
Há uma década, 100.000 soldados dos Estados Unidos estavam no Afeganistão. Ao final da presidência Trump, o número caiu a 2.500.
De acordo com a fonte do governo, a retirada começará em maio e o adiamento se deve por questões logísticas, mas as tropas possivelmente deixarão o Afeganistão muito antes de 11 de setembro.
O funcionário alertou, no entanto, os talibãs - atualmente em trégua com os Estados Unidos, mas não com as forças afegãs - que haverá uma "resposta enérgica" caso eles ataquem as tropas no momento de saída.
Os combates devem prosseguir e um relatório de avaliação de ameaças divulgado na terça-feira pelo diretor de inteligência americano observa que os talibãs estão "confiantes de que podem alcançar uma vitória militar".
Os civis afegãos pagaram um preço desproporcional pelos combates e o avanço dos talibãs provoca temor, em particular entre as mulheres.
Quando governaram grande parte do Afeganistão entre 1996 e 2001, os talibãs forçaram a visão austera do islamismo sunita, proibiram as mulheres de frequentar escolas e escritórios, assim como shows de música e a maior parte da vida cotidiana.
Duas décadas depois, 40% dos estudantes são meninas.
- Conferência na Turquia -
A decisão de Biden coincide com o anúncio da Turquia sobre uma conferência de paz do Afeganistão, de 24 de abril a 4 de maio, apoiada pelos Estados Unidos e que reuniria o governo afegão, os talibãs e seus aliados internacionais.
A meta é alcançar algum tipo de acordo político e o "fim do conflito", segundo o ministério turco das Relações Exteriores.
Porém, Mohammad Naeem, porta-voz do escritório dos talibãs no Catar, disse que os insurgentes não participarão em nenhuma conferência "antes que todas as forças estrangeiras" deixem o país.
Muitos analistas acreditam que os talibãs consideram que venceram a guerra e que por isto podem esperar até a saída dos Estados Unidos.