Jornal Estado de Minas

TEERÃ

Irã começa a produzir urânio enriquecido a 60% e cresce tensão por seu programa nuclear

O Irã anunciou nesta sexta-feira (16) que começou a produzir urânio enriquecido a 60%, em uma nova e grande violação dos compromissos assumidos com a comunidade internacional, preocupada com as ambições nucleares do país.



"Agora conseguimos obter 9 gramas por hora de urânio enriquecido a 60%", declarou o presidente da Organização de Energia Atômica do Irã (OEAI), Ali Akbar Salehi.

Algumas horas antes, a agência Tasnim informou que a instalação de enriquecimento de Natanz, no centro do Irã, havia começado a produzir o material, que aproximaria a República Islâmica da barreira de refinamento a 90%, que permite o uso nuclear.

Os cientistas de Natanz continuam "trabalhando para instalar as (duas) cascatas de centrífugas" destinadas a produzir urânio enriquecido a 60%, completou Salehi em uma entrevista à televisão estatal.

"Desta maneira, nossa produção (de urânio a) 60% diminuirá: pode passar de 9 gramas (por hora) atualmente para 6 gramas, mas, ao mesmo tempo, produziremos (urânio enriquecido a) 20% com as duas cascatas", disse.

Após a explosão registrada no domingo na central de enriquecimento de Natanz, que o Irã atribuiu a Israel, a República Islâmica anunciou na terça-feira que elevaria suas atividades de enriquecimento de urânio 235 A 60%, muito acima dos 20% praticados desde janeiro e do limite máximo de 3,67% estabelecido pelo acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano assinado em 2015 em Viena.



O anúncio do início da produção de urânio a 60% coincide com as negociações para tentar salvar o acordo internacional, do qual o governo dos Estados Unidos se retirou unilateralmente em 2018, durante a presidência de Donald Trump.

- "Impressão geral positiva" -

O anúncio, que vários analistas consideram uma "provocação", é a etapa mais recente, e também a mais impactantes, da República Islâmica até o momento para tomar distância dos compromissos assumidos no acordo de Viena.

Em represália à saída dos Estados Unidos do acordo e ao retorno das sanções americanas contra o Irã, Teerã começou a não cumprir os compromissos a partir de maio de 2019.

Uma nova sessão de negociações, com o objetivo de levar Washington de volta ao acordo e anular as sanções contra Teerã, aconteceu na quinta-feira em Viena.

O encontro deixou uma "impressão geral positiva", segundo o embaixador russo na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mikhail Ulianov. Ele disse que o trabalho deve continuar nesta sexta-feira.

Na quarta-feira, Alemanha, França e Reino Unido, que ao lado da Rússia, China e Irã assinaram o acordo de Viena, afirmaram que o anúncio do enriquecimento de urânio a 60% provocava uma "grande preocupação".

O presidente iraniano, Hassan Rohani, considerou as preocupações infundadas.

"Hoje inclusive podemos enriquecer a 90% se assim desejarmos", declarou o presidente na quinta-feira. "Mas afirmamos desde o primeiro dia e cumprimos nossa palavra: nossas atividades nucleares são pacíficas, não queremos produzir a bomba atômica".



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