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Estado de Minas INTERNACIONAL

Era Castro acaba, mas mudanças não decolam em Cuba

Qual o impacto prático da saída de Raul Castro do comando do Partido Comunista?


18/04/2021 07:45 - atualizado 18/04/2021 08:07

(foto: AFP PHOTO / ACN / ARIEL LEY ROYERO)
(foto: AFP PHOTO / ACN / ARIEL LEY ROYERO)
A partir desta segunda-feira, Cuba terá pela primeira vez desde a revolução uma cúpula do poder formalmente sem o sobrenome Castro. Raúl deixou a presidência em 2016, mas no comando do Partido Comunista ainda dava as diretrizes seguidas pela presidência.

Durante o 8.º Congresso do Partido Comunista, que começou na sexta-feira e terminará amanhã, Raúl dá lugar a uma nova geração. "O congresso dita as diretrizes do partido e, portanto, do governo cubano. O partido é uma instância maior que o governo. O birô político, por exemplo, tem mais peso que o conselho de ministros, que cuida da administração de Cuba", explica Frei Betto, autor de Fidel e a Religião e Paraíso Perdido - Viagens ao Mundo Socialista.

Raúl anunciou a saída do comando do partido logo na abertura do congresso e pediu um diálogo respeitoso com os EUA, após quatro anos de turbulência com o ex-presidente Donald Trump. "Ratifico a vontade de edificar um novo tipo de relação com os EUA, sem renunciar aos princípios da revolução e do socialismo", disse.

O impacto prático do fim da era Castro ainda é uma incógnita. O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, de 60 anos, costuma dizer que faz um governo de continuidade e essa foi a propaganda do congresso espalhada em cartazes por Havana.

A diminuição no número de cubanos que participaram da revolução pode começar a mudar as características do governo, que já vê uma rotatividade nas linhas de poder. "A saída tem uma força simbólica, porque Raúl é um dos raros heróis de Sierra Maestra. A revolução tem mais de 60 anos. Acho que nenhum líder no mundo sobreviveu tanto quanto os irmãos Castro. Agora, teremos um processo de rotatividade e valorização da geração mais jovem", avalia Frei Betto.

Além de Raúl, outros nomes importantes da geração que fez a revolução de 1959 devem se aposentar, entre eles o número dois do partido, José Ramón Machado Ventura, de 90 anos, e o comandante Ramiro Valdés, de 88 anos. No entanto, é cedo para falar de mudanças de diretrizes. Isso deixará o Politburo pela primeira vez sem nenhum veterano da insurgência.

Para William LeoGrande, especialista em Cuba da American University, de Washington, o vácuo deixado pelos revolucionários pode aumentar a capacidade de Díaz-Canel de promover as reformas econômicas. Já Frei Betto, que era amigo de Fidel, não acredita em qualquer passo dado sem o aval de Raúl. "A renúncia é meramente formal. Nenhuma medida importante será tomada sem consultá-lo. Ele está lúcido e ativo", afirma.

O economista cubano Pavel Vidal Alejandro, professor na Universidade Javeriana de Cali, na Colômbia, também não acredita em grandes mudanças. "O rígido esquema político com base em partido único, organizações de massa e instituições controladas foi rejeitado pelas demandas sociais. Ele requer uma renovação, tanto quanto o modelo econômico. Mas não parece que o congresso vá tratar desses temas", afirma.

Novo rumo. Os 300 delegados do Partido Comunista, de diferentes províncias, estão reunidos no Palácio das Convenções de Havana no ano que marca os 60 anos da proclamação do caráter socialista da revolução liderada por Fidel e debatem questões cruciais.

Cuba vive sua pior crise econômica em 30 anos. Em 2020, o PIB caiu 11% e a pandemia paralisou seu motor econômico, o turismo. As ruas de Havana continuam vazias e, em diferentes partes do país, os cubanos passam longas horas nas filas dos mercados.

Além disso, a chegada da internet à ilha mudou a forma de cobrança do governo e permitiu aos cubanos expor seu dia a dia e suas demandas, além de ajudar em mobilizações de rua. Por isso, como parte da programação do congresso, o partido quer abordar formas de ser mais eficaz contra a "subversão político-ideológica" nas redes sociais.

"A equipe do governo tem tido dificuldade em aceitar e abrir um diálogo com essas novas formas de participação. A agenda política e suas normativas continuam sem levar em conta as exigências de todos os setores sociais, em particular das gerações mais jovens", diz Vidal Alejandro.


As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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