Derek Chauvin, de 45 anos, é acusado de assassinato e homicídio culposo pela morte de Floyd em 25 de maio de 2020, durante sua prisão que foi registrada em vídeo e gerou protestos contra a injustiça racial e a brutalidade policial em todo o mundo.
"Devem ser absolutamente justos", disse-lhes o juiz Peter Cahill, pedindo-lhes que "avaliem, considerem as provas e apliquem a lei".
Chauvin foi filmado ajoelhado sob o pescoço de Floyd, que ficou imobilizado com o rosto para baixo e algemado ao chão por mais de nove minutos, suplicando: "Não consigo respirar".
Em seus argumentos finais para o júri, que examinará o caso a portas fechadas, o procurador Steve Schleicher mostrou e mencionou o vídeo gravado por um espectador que testemunhou a prisão de Floyd por supostamente usar uma nota de 20 dólares falsificada para comprar um maço de cigarros.
"Podem acreditar no que viram", disse. "Não se tratou de vigilância policial, mas de assassinato", observou Schleicher. "Nove minutos e 29 segundos de chocante abuso de autoridade".
"O réu é culpado de todas as três acusações. E não há desculpa", ressaltou.
Segundo o procurador, Floyd "pediu ajuda com seu último suspiro", mas Chauvin não o atendeu. "George Floyd não era uma ameaça para ninguém", disse Schleicher. "Ele não estava tentando machucar ninguém".
- "Não foi estrangulamento" -
Por sua vez, o advogado de defesa Eric Nelson garantiu ao júri que Chauvin "não usou força ilegal de propósito".
"Não foi um estrangulamento", afirmou ele, e justificou as ações de Chauvin e dos outros policiais que mantiveram Floyd no chão. De acordo com Nelson, a doença cardíaca de Floyd e o uso de drogas foram fatores decisivos.
"Eles estão tentando convencê-los de que a doença cardíaca do Sr. Floyd não desempenhou nenhum papel", disse ele. "Não estou sugerindo que foi uma morte por overdose, (...) mas é absurdo dizer que isso não influenciou."
Nelson pediu aos jurados que declarassem Chauvin inocente: "O estado não foi capaz de provar seu caso para além de qualquer dúvida razoável", argumentou.
- Tensão em Minneapolis -
O julgamento de Chauvin coincidiu com o aumento da tensão devido a duas outras mortes de pessoas negras por policiais brancos, que tiveram uma grande repercussão.
Daunte Wright, um jovem negro de 20 anos, foi morto em um subúrbio de Minneapolis em 11 de abril nas mãos de uma policial branca que aparentemente confundiu sua pistola com seu taser; e um menino de 13 anos foi morto pela polícia em Chicago.
A morte de Wright gerou várias noites de protestos em Minneapolis e, antes do veredicto no caso Chauvin, tropas da Guarda Nacional foram enviadas para esta cidade, onde muitas vitrines e prédios foram tapados por precaução.
A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, foi questionada sobre a preparação do governo federal antes do veredicto.
"Estamos em contato com as autoridades locais, com os estados, com os governadores, com os prefeitos", afirmou. "Continuaremos a incentivar protestos pacíficos, mas não vamos nos antecipar ao veredicto", acrescentou.
Nelson pediu ao juiz que declarasse a anulação do julgamento depois que uma congressista democrata negra da Califórnia, Maxine Waters, compareceu a um protesto em Minnesota.
"Espero que obtenhamos um veredicto que diga: culpado, culpado, culpado", disse Waters. "Temos que ficar nas ruas e exigir justiça."
Visivelmente frustrado, o juiz Cahill negou a solicitação de anulação, mas declarou: "Gostaria que os legisladores parassem de falar sobre este caso."
- Razoável ou excessivo? -
Chauvin, vestido com um terno cinza claro, camisa azul escura e gravata azul, tirou sua máscara para ouvir os argumentos finais.
Entre as 38 testemunhas de acusação, Darnella Frazier, a adolescente que filmou o vídeo que viralizou, afirmou que Floyd estava "assustado" e "implorando por sua vida".
Genevieve Hansen, de 27 anos, um bombeiro de folga, relatou que Chauvin e outros oficiais presentes recusaram sua oferta de prestar cuidados médicos a Floyd.
Grande parte da fase de evidências do julgamento girou em torno de se o ex-policial havia feito um uso razoável ou excessivo da força.
Um médico forense aposentado chamado a depor pela defesa indicou que Floyd morreu de parada cardíaca causada por uma doença cardíaca e pelas drogas ilegais fentanil e metanfetamina encontradas em seu corpo.
Já os especialistas médicos chamados pela acusação disseram que Floyd morreu de hipóxia, ou falta de oxigênio, causada pela pressão do joelho de Chauvin em seu pescoço, e que as drogas não foram um fator decisivo.
A defesa também chamou um policial aposentado que afirmou que o uso da força de Chauvin contra Floyd era "justificado".
Por outro lado, segundo os agentes que testemunharam pela acusação, incluindo o chefe da polícia de Minneapolis, o uso da força foi excessivo e desnecessário.
Uma condenação por qualquer uma dessas acusações exigirá do júri um veredicto unânime.
Chauvin pode pegar até 40 anos de prisão se for condenado pela acusação mais grave: assassinato em segundo grau.
Três outros ex-policiais envolvidos na prisão de Floyd, Tou Thao, Thomas Lane e J. Alexander Kueng, também enfrentam acusações e serão julgados separadamente até o fim do ano.
MINNEAPOLIS