A abertura dos trabalhos da Câmara dos Deputados da Itália nesta terça-feira (20) foi marcada por um tumulto por conta de um vídeo de um dos fundadores do partido populista Movimento 5 Estrelas (M5S), e base de apoio do atual governo, Beppe Grillo.
No vídeo, divulgado nesta segunda-feira (19), o ex-comediante aparece defendendo seu filho, Ciro, que responde a um processo por estupro coletivo de uma jovem de 19 anos ocorrido em 2019. O caso ainda está sendo julgado e não há veredicto sobre a culpa ou não do filho do político.
No entanto, Grillo coloca suspeitas sobre a vítima e diz que "uma pessoa que é estuprada de manhã, à tarde faz kitesurf e faz a denúncia oito dias depois é estranho". A fala gerou revolta tanto em entidades de direitos das mulheres como na defesa da família da jovem que, através de seus advogados, publicou uma nota em que diz que "a tentativa de fazer espetáculo na pele dos outros é uma farsa repugnante".
E, nesta terça-feira, o caso chegou à esfera parlamentar. Na abertura dos trabalhos, a deputada do partido de extrema-direita Irmãos da Itália (FdI), Ilenja Lucaselli, pediu a convocação imediata de uma reunião dos líderes partidários na Casa sobre o assunto.
Se somaram a Lucaselli mais dois deputados da direita, Laura Ravetto (Liga) e Valentino Valentini (Força Itália). Também houve uma manifestação da coalizão de esquerda Livres e Iguais (LeU) criticando a postura de Grillo e também do centro-esquerda Partido Democrático, que disse que "nunca se pode culpar a vítima".
Ainda na esfera política, mas fora da Câmara, a deputada do centrista Itália Viva Maria Elena Boschi usou as redes sociais para atacar a esposa de Grillo, Parvin Tadjik, que comentou em um vídeo dela também tentando culpar a vítima.
"Parvin Tadjik respondeu ao meu vídeo dizendo que seu filho é inocente, que a jovem estava consciente, que há provas. Eu não faço julgamentos nas redes sociais, querida senhora. As sentenças decidem os juízes, não os tweets das mães. Esse modo de conceber a justiça, jogando-a nas redes sociais e não nas audiências dos tribunais, é uma aberração. E é assim que seu marido Beppe sempre fez com seus seguidores. Eu, ao invés disso, espero e respeito as sentenças, como todos os cidadãos", escreveu Boschi.
A deputada ainda lembrou da postura de Grillo em 2015, quando o pai da então ministra de Reformas e Relações com o Parlamento, Pier Luigi, respondia a um processo sobre a falência de um banco local.
"Quando meu pai foi investigado, Grillo e os 'grillini' o massacraram. Nós esperamos as decisões judiciais, respeitando o trabalho deles. E no fim tudo foi arquivado. Espere o processo também você e explique ao seu marido que é melhor acreditar na Justiça do que fomentar o ódio. Para mim, seu filho Ciro é inocente até a sentença confirmada. Seu marido Beppe, ao invés disso, é culpado por criar um clima de ódio vergonhoso", acrescentou.
O caso
Ciro Grillo é acusado por ter estuprado a jovem de 19 anos com três amigos em julho de 2019 em um apartamento em uma praia da Sardenha.
A denúncia da mulher foi registrada no dia 26 de julho contra Ciro, Francesco Consiglia, Vittorio Lauria e Edoardo Capitta. Os acusados alegam que a relação foi consentida pela jovem e que são inocentes.
O processo, segundo fontes judiciais, está em vias de finalização e o veredicto deve ser anunciado em breve. (ANSA).