"Determinei que nossa neutralidade climática seja alcançada até 2050, antecipando em dez anos a sinalização anterior", disse Bolsonaro no primeiro dia da cúpula organizada pelo presidente americano Joe Biden.
Ele também se comprometeu a "eliminar o desmatamento ilegal no Brasil até 2030", enquanto as zonas desmatadas na Amazônia aumentaram consideravelmente desde sua chegada ao poder, em janeiro de 2019.
Bolsonaro ponderou que "diante da magnitude dos obstáculos, inclusive financeiros, é fundamental poder contar com a contribuição de países, empresas, entidades e pessoas dispostos a atuar de maneira imediata, real e construtiva na solução desses problemas".
Ele destacou particularmente a importância dos mercados de carbono, "cruciais como fonte de recursos e investimentos para impulsionar a ação climática, tanto na área florestal quanto em outros relevantes setores da economia, como indústria, geração de energia e manejo de resíduos".
Em entrevista à AFP, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse na semana passada que, se o Brasil recebesse US$ 1 bilhão em ajuda da comunidade internacional, poderia reduzir o desmatamento ilegal da floresta amazônica em até 40%.
O presidente de extrema direita mudou claramente o tom em relação aos seus discursos anteriores nas principais cúpulas internacionais.
Em setembro de 2020, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, ele afirmou que seu país era "vítima de uma das mais brutais campanhas de desinformação" sobre os incêndios que assolaram a Amazônia e o Pantanal.
Mas os ambientalistas não se convenceram com esse novo tom.
"O Brasil saiu desta cúpula como entrou: desacreditado. Bolsonaro passou metade do discurso pedindo dinheiro para avanços ambientais já conquistados no passado, mas que seu governo tenta destruir há dois anos", reagiu no Twitter Marcio Astrini, do coletivo Observatório do Clima.
Em 2019 e 2020, o desmatamento na Amazônia foi de 10.700 km2 e 9.800 km2 respectivamente, seus maiores níveis desde 2008, de acordo com dados oficiais.
Os incêndios florestais, tanto na Amazônia quanto no Pantanal, também atingiram níveis extremamente preocupantes.
Os ambientalistas estão particularmente preocupados com cortes drásticos no orçamento e no pessoal das agências de proteção ambiental.
Bolsonaro prometeu em seu discurso "dobrar os recursos" destinados à repressão aos crimes ambientais, embora Salles tenha dito pouco depois que ainda não há um valor definido, visto que o Orçamento deste ano tem sido objeto de discussões até agora e deve ser definido esta semana.
Essa decisão "pode ser vista como um bom começo, mas o Brasil será pressionado a mostrar não só boa vontade, mas números", disse à AFP Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
"Não acho que realmente consiga convencer muitas pessoas com esse discurso", acrescentou.
O presidente Bolsonaro já havia se comprometido a erradicar o desmatamento ilegal até 2030 em uma carta a Joe Biden na semana passada.
O enviado especial do presidente americano para a diplomacia climática, John Kerry, saudou este compromisso, mas pediu "medidas imediatas e diálogo com as populações indígenas e a sociedade civil para garantir que este anúncio se traduza em resultados concretos".