Em um discurso de quase 7 minutos na abertura da cúpula do clima, o presidente Jair Bolsonaro procurou desenhar um cenário perfeito da proteção ambiental no Brasil. Exaltou a posição "agroambiental", disse que o País é um dos que menos contribuíram para as emissões de gases de efeito estufa e pediu recursos internacionais.
A retórica foi recebida com total ceticismo. "Bolsonaro passou metade de seu discurso pedindo dinheiro por conta de conquistas ambientais do passado que ele hoje tenta destruir. De forma geral, sai desta reunião da mesma forma que entrou: desacreditado. Seu governo está há 28 meses barbarizando o meio ambiente. Não será um vídeo de t minutos que vai reverter isso", avalia Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.
Ao pedir apoio financeiro internacional, Bolsonaro deixou de explicar por que mantém paralisado, há mais de dois anos, mais de R$ 2,8 bilhões doados por Noruega e Alemanha no âmbito do Fundo Amazônia.
"Qual é a credibilidade que o governo brasileiro tem, depois de bloquear um fundo como esse, para pedir dinheiro internacional? Os instrumentos que estavam de pé e funcionavam no País foram meticulosamente destruídos, sem colocar nada no lugar", disse a ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. "Não é chantageando que se atrai investimento, é com uma agenda positiva, que mostre compromissos, propostas efetivas, caminhos para o controle do desmatamento."
"O presidente coloca o financiamento internacional como condição para a política ambiental dar certo e faz promessas. Fica bastante difícil acreditar que este governo vai levar compromissos nesse sentido adiante", afirmou Suely Araújo, ex-presidente do Ibama e especialista em políticas públicas do Observatório do Clima.
A proposta de orçamento enviada pelo governo ao Congresso (PLOA 21) mostra o completo esvaziamento dessas autarquias. O governo propôs cortar, em 2021, nada menos que R$ 118 milhões do Ibama e R$ 119 milhões do ICMBio.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.