A vencedora do Nobel da Paz em 1991, que está bem mas perdeu bastante peso, de acordo com seus advogados, não é vista em público desde sua detenção em 1º de fevereiro.
Ao pressentir o que os militares pretendiam, Suu Kyi, 75 anos, pediu à população para "não aceitar" o golpe. E seu apelo foi ouvido.
Há três meses e apesar da repressão violenta da junta militar, as manifestações acontecem em todo o país: uma grande campanha de desobediência civil, com milhares de trabalhadores em greve, paralisa setores inteiros da economia. Ao mesmo tempo, os opositores, agora na clandestinidade, formaram um governo de resistência.
Neste sábado, pequenos grupos de manifestantes saíram novamente às ruas, mas os protestos não demoraram muito devido ao medo de represálias. Em Yangon, eles exibiram uma faixa com a frase "Apenas a verdade triunfará".
Vários explosivos de fabricação caseira foram detonados na cidade. Os ataques, que não são reivindicados, aumentam o sentimento de insegurança em Yangon.
"Eles (os militares) fazem com que a população viva com medo, é bom pressioná-los também", declarou à AFP, sob anonimato, um morador do bairro de Yankin, onde aconteceu uma das explosões.
Também foram registrados protestos em outros pontos do país, como em Monywa (centro) e Dawei (sul).
- Milhares de refugiados na Tailândia -
Os confrontos entre militares e grupos étnicos nas regiões de fronteira também não dão trégua.
De acordo com a ONU, na região leste do país os confrontos entre as Forças Armadas e a facção rebelde Karen deixaram mais de 30.000 deslocados.
"Soldados birmaneses executaram um bombardeio aéreo, sobretudo com foguetes", afirmaram em um comunicado as autoridades da província tailandesa de Mae Hong Son. Mais de 2.300 birmaneses atravessaram o rio que estabelece a fronteira para procurar refúgio na Tailândia.
Também foram ouvidos tiros de artilharia neste sábado perto de Bhamo, no estado de Kachin (norte), informou à AFP um trabalhador do serviço humanitário. Nos últimos dias, o exército atuou nesta região contra os combatentes do Exército pela Independência Kachin (KIA).
- Suu Kyi sem informações -
Mas atrás dos muros da residência da capital birmanesa Naypyidaw, onde Suu Kyi está detida, a ex-líder do governo permanece à margem da violência e dos distúrbios.
"Ela provavelmente não tem acesso às informações nem à televisão. Não acredito que está a par da atual situação", disse Min Min Soe, uma de suas advogadas, à AFP.
Quase 760 civis, incluindo menores de idade e mulheres, foram mortos a tiros pelas forças de segurança nos últimos três meses e 3.500 estão detidas, segundo uma ONG local.
Os generais, que enfrentam críticas internacionais, aproveitam as divisões dentro do Conselho de Segurança da ONU.
O Conselho aprovou na sexta-feira uma declaração por unanimidade com o pedido para a aplicação imediata do plano de "fim imediato da violência" da Asean (Associação de Nações do Sudeste da Ásia).
Mas China e Rússia, aliados dos militares birmaneses, não devem ir mais longe.
A ONU também voltou a pedir a libertação de todos os detidos, mas a junta segue intensificando a ofensiva judicial contra Aung San Suu Kyi, acusada sobretudo por ter violado uma lei sobre os segredos de Estado. Ela pode perder os direitos políticos ou ser condenada a uma longa pena de prisão.
Aung San Suu Kyi já passou 15 anos em prisão domiciliar após a revolta popular de 1988. Ela foi liberada em definitivo em 2010 e venceu as eleições cinco anos depois.
A imagem internacional da líder birmanesa foi muito abalada quando centenas de milhares de muçulmanos rohingyas fugiram em 2017 para Bangladesh após os abusos do exército.
A líder birmanesa não condenou a situação e negou qualquer "tentativa de genocídio" por parte dos militares.
Alguns a criticam por ter cedido muito, o que permitiu aos generais conservar um grande controle do país e de seus recursos, como as minas de jade e rubis, assim como as reservas de gás e petróleo.
E as concessões não foram suficientes para os militares. Em 1º de fevereiro eles derrubaram Aung San Suu Kyi, alegando fraudes nas legislativas de 2020, que o partido dela, a Liga Nacional para a Democracia (LND), venceu com grande folga.
YANGON