Inaugurada nesta quinta-feira (20) na Filarmônica de Paris, a mostra nasceu com vocação internacional. Vai viajar por cidades como Londres e Roma, além de São Paulo e Rio de Janeiro, da mesma forma que seu grande trabalho anterior, "Gênesis", deu a volta ao mundo para mostrar os lugares mais bonitos e remotos do planeta.
Mas "Amazônia" é, sem dúvida, seu trabalho mais pessoal e reivindicativo. Salgado, de 77 anos, tinha a intenção de convidar à inauguração lideranças indígenas para fazer ouvir suas vozes contra a destruição de seu habitat e suas consequências para o planeta. Ele espera fazer isso assim que a pandemia diminuir.
- Estética imaculada -
Entrar na exposição é empurrar uma porta para a floresta tropical e entrar em uma jornada de fotografias em preto e branco que caminham na penumbra, como uma expedição na selva.
A viagem é acompanhada por música composta para a ocasião pelo compositor francês Jean-Michel Jarre, um dos pioneiros da música eletrônica.
Desde as primeiras vistas aéreas, que fez acompanhando o Exército em missões na Amazônia brasileira, Salgado transforma a natureza exuberante em uma arte cuja força reside numa estética imaculada.
O fotógrafo lembra a cada clichê que esse ecossistema que ocupa quase um terço do continente sul-americano e que engloba nove países, principalmente o Brasil, é a soma de elementos.
A começar pela água, com o Amazonas e seus afluentes que serpenteiam a terra por milhares de quilômetros, os verdadeiros "rios voadores" - enormes torrentes de vapor que se formam sobre a floresta - e as chuvas torrenciais, que nas fotografias de Salgado parecem capazes de encharcar o observador.
"A Amazônia é a pré-história da Humanidade, o paraíso na Terra", afirmou Salgado na apresentação à imprensa da mostra, com a qual quer despertar "consciências".
- O "estudo" na floresta -
Depois do exuberante, chega-se ao coração da selva: Salgado apresenta os dez grupos indígenas com os quais conviveu durante sua jornada de sete anos, além de outras viagens pontuais, a última em fevereiro deste ano.
Indígenas yanonamis, marúbos, yawanawás... o fotógrafo os convida para seu "estudo" entre as árvores: um lençol branco pendurado ao fundo e um plástico no chão pronto para ser enrolado após a irrupção de um chuva.
Alguns se vestem para a ocasião, pintando o corpo e usando um cocar de penas.
Salgado espera que sejam eles que tomem a iniciativa, da mesma forma que só chegou a essas comunidades depois de obter sua autorização e no dia que determinaram, graças à mediação da Fundação Nacional do Índio (Funai).
As 200 fotografias que compõem a exposição imaginada e montada pela esposa do fotógrafo, Lélia Wanick Salgado, são acompanhadas pela música de Jarre, que também fez uso dos arquivos sonoros da Amazônia que estão no Museu de Etnografia de Genebra.
"Nem Salgado nem eu queríamos música ambiente ou exclusivamente étnica. Uma floresta é muito barulhenta, tem sons independentes, não é como uma orquestra". E ainda "é harmoniosa para o ouvido humano", disse o compositor.
Para Jarre, "a exposição poderia ter sido fruto de um documentarista, mas é obra de um artista. Salgado nos convida a um passeio místico, que é o que precisamos agora que começamos a sair desta pandemia".