Jornal Estado de Minas

JERUSALÉM

Cessar-fogo entre Israel e Hamas entra em vigor

Depois de intensas negociações diplomáticas, um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, movimento islamita no poder na Faixa de Gaza, entrou em vigor na madrugada desta sexta-feira (20) para pôr um fim a mais de 10 dias de confrontos violentos, os mais sangrentos em anos.



Uma hora antes da entrada em vigor da trégua, às 02h00 desta sexta-feira no horário local (20h00 desta quinta-feira em Brasília), os habitantes da Faixa de Gaza garantiam que ainda estavam sendo bombardeados, enquanto as sirenes de alerta para lançamento de foguetes soavam no sul de Israel.

Mas, assim que entrou em vigor, os palestinos celebraram o cessar-fogo nas ruas do centro da cidade de Gaza.

"É a euforia da vitória", declarou Jalil al Haya, número dois do escritório político do Hamas na Faixa de Gaza, durante um discurso diante de manifestantes animados. Ele também prometeu "reconstruir" as casas destruídas pelos bombardeios israelenses.

Também houve manifestações de alegria nas cidades da Cisjordânia ocupada e o exército israelense não acionou os alarmes de foguetes.

Este acordo foi possível graças à mediação do Egito, potência regional que mantém relações tanto com Israel quanto com o Hamas, movimento considerado "terrorista" pelo Estado hebreu, União Europeia e Estados Unidos.



O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, aplaudiu o papel do Egito no cessar-fogo, chamando-o de uma "oportunidade genuína de seguir em frente", enquanto o Reino Unido pediu a todas as partes para trabalhar para torná-lo "durável".

"Acredito que os palestinos e os israelenses merecem viver com segurança e desfrutar do mesmo nível de liberdade, prosperidade e democracia", declarou Biden da Casa Branca.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, visitará "nos próximos dias" o Oriente Médio, onde se reunirá com os homólogos "israelense, palestino e regionais" para "trabalhar juntos para construir um futuro melhor para israelenses e palestinos", informou o Departamento de Estado.

O Reino Unido pediu a todas as partes que trabalhem para tornar o cessar-fogo "duradouro" e o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, fez um chamado à "reconstrução".

Durante o dia surgiram rumores de trégua que finalmente terminaram em um acordo de fim de hostilidades para acabar com dez dias de confrontos que deixaram pelo menos 232 mortos do lado palestino e 12 em Israel.



A decisão foi anunciada após uma reunião do gabinete de segurança israelense, do qual fazem parte o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, o Estado-Maior das forças armadas e os serviços de inteligência do país.

"O gabinete (de segurança) aceitou por unanimidade a recomendação dos funcionários de segurança (...) de aceitar a iniciativa egípcia de cessar-fogo bilateral sem condições", informou Netanyahu.

Na Faixa de Gaza, o Hamas e a Jihad Islâmica, segundo grupo armado o enclave, confirmaram a entrada em vigor da trégua.

"Os irmãos egípcios nos informaram que um acordo foi concluído para um cessar-fogo bilateral e simultâneo na Faixa de Gaza, a partir das 2h00", disse o gabinete político do Hamas em um comunicado.

"A resistência palestina respeitará este acordo enquanto a ocupação (como o Hamas chama Israel) o respeitar", continuou.

- Fragilizar o Hamas -

O anúncio foi feito após mais de 10 dias de confrontos sangrentos entre Israel e o Hamas, que iniciou a hostilidade em 10 de maio, com o lançamento de foguetes contra o território israelense, em solidariedade a centenas de palestinos feridos em confrontos com a polícia de Israel na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém.



Após esse primeiro disparo de foguetes, Israel lançou uma operação para reduzir a capacidade militar do Hamas, que consistiu em ataques aéreos ao pequeno território sob bloqueio israelense, de 2 milhões de habitantes.

Já o Hamas e a Jihad Islâmica lançaram mais de 4.300 foguetes conta o território de Israel, uma quantidade e em uma intensidade nunca vistas antes. O escudo antimíssil israelense interceptou cerca de 90% dos projéteis.

Os confrontos causaram mais de 230 mortes do lado palestino, incluindo cerca de 60 crianças e muitos combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica, e 12 mortes em Israel, entre eles uma criança de seis anos, uma adolescente de 16 anos e um soldado.

- Catar, Egito -

Após três guerras em uma década, Hamas e Israel entraram em acordo em 2018 para respeitar uma trégua para estabilizar e desenvolver Gaza, um território com infraestrutura precária e muito desemprego, graças à mediação da ONU, do Egito e do Catar, um emirado do Golfo próximo ao movimento das Irmandades Muçulmanas, dos quais o Hamas é oriundo.

Nos bastidores, estes três atores intensificaram as negociações nesta quinta-feira para alcançar um acordo de cessar-fogo.

O enviado da ONU para o Oriente Médio, Tor Wennesland, viajou ao Catar para se encontrar com o chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, enquanto os egípcios conversaram com altos funcionários de segurança de Israel para pressionar as partes.



Em virtude do acordo, "duas delegações egípcias serão enviadas a Tel Aviv e aos Territórios Palestinos para monitorar a implementação (do cessar-fogo) e o processo para manter as condições estáveis permanentemente", informaram fontes diplomáticas egípcias à AFP no Cairo.

- Choques antes da trégua -

Horas antes do anúncio do cessar-fogo, os ataques israelenses se intensificaram no enclave palestino, de onde nuvens de fumaça se ergueram em meio à agitação das ambulâncias, informaram jornalistas da AFP.

No final da tarde, diversos lançamentos de foguetes atingiram o sul de Israel, forçando os residentes a buscarem abrigo.

Apesar deste acordo de trégua, existem preocupações sobre o que pode acontecer na Cisjordânia, mas também em Israel.

Desde o início das hostilidades armadas, tumultos e confrontos com forças israelenses estouraram em muitas cidades e campos palestinos na Cisjordânia, resultando em mais de 25 mortes, o pior número de óbitos em anos neste território.

E árabes israelenses, descendentes de palestinos que permaneceram em suas terras após a criação de Israel em 1948, se manifestaram, fecharam seus negócios ou participaram de tumultos alegando sofrer "discriminação".

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