Jornal Estado de Minas

TELEFÉRICO

'Encontramos os corpos espalhados', diz socorrista de tragédia na Itália

 
A primeira pessoa a chegar no local da queda de um teleférico que deixou 14 mortos na Itália neste domingo (23/5) foi Cristiano L’Altrella, militar do Corpo de Bombeiros de Stresa. Em 27 anos de profissão, essa foi a pior tragédia enfrentada por ele. Ao jornal italiano Corriere dela Sera, o socorrista contou que ficou impressionado com “a cena de uma criança morta sob o corpo de um jovem que ainda respirava”. A criança era Tom Biran, de 2 anos. O irmão dele, Eitan, de 5 anos, foi o único sobrevivente da tragédia e escapou graças a um abraço do pai, que não resistiu.




 

 
Segundo Cristiano, o dia estava correndo normal até que a corporação recebeu a ligação que informava o acidente com o teleférico. No caminho até o local exato da queda, a equipe conseguiu visualizar vários corpos espalhados na encosta da montanha.

“Encontramos um campo de batalha. Tínhamos escalado até o topo, até o terminal do teleférico, onde essas pessoas nunca chegavam. Vimos o teleférico vermelho amassado, ele rolou e parou contra um pinheiro. Antes de chegarmos encontramos dois corpos de dois homens. Eles não respiravam mais. Aí fomos ajudar quem estava dentro do teleférico”, relata ao Corriere dela Sera.

O socorrista ainda disse que foi difícil entrar dentro da cabine porque as ferragens atrapalharam. “Estava muito estreito. Eu que sou magro entrei com dificuldade. Imediatamente pedimos para cortar os ferros porque se havia alguém para tirar, tínhamos que abrir espaço para as macas passarem”, conta.  

Ao entrar na cabine do teleférico, L’Altrella descreve o que viu como “um inferno”. “Havia cinco pessoas, empilhadas umas em cima das outras. Apenas um respirou, o que estava acima dos outros. Tentamos de todas as maneiras salvá-lo”.





“O bebê estava em cima dele. Também não consigo descrever o que vi, forte demais. Sem considerar o risco que se correu naquele momento”, diz. 

O risco citado por Cristiano era o fato do teleférico ter caído em uma área com uma inclinação considerável. Portanto, a cabine poderia se mover a qualquer momento.

“Tentamos prendê-la amarrando-a à árvore com uma corda. Não sabíamos quantas pessoas havia no teleférico. Fiz um cálculo aproximado, pois sei que essas cabines têm capacidade para 40 lugares. Com a redução por causa da COVID-19 poderia haver cerca de vinte pessoas a bordo”, pontua.

Além disso, o bombeiro também relatou ao “Corriere dela Sera” que a maioria das vítimas foram arremessadas para fora da cabine. 

“Foram catapultados para fora da cabine. Esperamos algum sinal de vida. Encontramos quatro mulheres e um homem, o pai da criança. Todos arremessados e mortos. Estava conosco homens do Alpine Rescue, uma enfermeira e uma médica. Depois que o médico apurou as mortes e que finalizamos a contagem das vítimas, tomamos o cuidado de cobrir todos os corpos com mantas de alumínio”, diz.




Local da queda do Teleférico, na Itália (foto: Reprodução/Corriere dela Sera)

O acidente

O acidente aconteceu nesse domingo (23/05), a 100 metros da última estação do teleférico que percorria o trajeto do lago Maior até a montanha de Mottarone, de 1.490 metros de altitude.

De acordo com as equipes de resgate, a tragédia teria sido provocada pela ruptura de um cabo de carga, o que provocou a queda da cabine com 15 pessoas em seu interior.

A cabine desabou de uma altura de 15 metros e depois rolou por uma parte da ladeira, antes de bater em uma árvore. As autoridades descartaram um problema de sobrecarga, pois as cabines podem transportar mais de 35 passageiros.

O acidente aconteceu no dia em que a Itália autorizou a abertura das instalações para turistas em toda a península, após meses de fechamento pelas restrições impostas pela pandemia da COVID-19. O teleférico acidentado ficou fechado entre 2014 e 2016 para trabalhos de reforma e manutenção.

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