"É uma conquista extraordinária, que demonstra a capacidade da magistratura e dos organismos responsáveis pela aplicação da lei para combater de maneira eficaz o crime organizado e suas ramificações internacionais", afirmou a ministra italiana do Interior, Luciana Lamorgese, em um comunicado.
"É um duro golpe para a 'Ndrangheta (ndr: máfia calabresa). A luta contra as máfias e a ilegalidade é uma prioridade", declarou o ministro da Defesa, Lorenzo Guerini.
Morabito, de 54 anos, era o segundo mafioso italiano mais procurado, atrás apenas do chefe da Cosa Nostra, Matteo Messina Denaro. O líder da 'Ndrangheta foi detido na cidade de João Pessoa, na segunda-feira (24), resultado de "uma investigação conjunta entre Brasil e Itália", informou a Polícia Federal (PF).
Desde domingo (23), "uma equipe de policiais italianos do Escritório Central da Interpol em Roma, que participou da investigação, e dos Carabinieri, seguiu para o Brasil ante a perspectiva da detenção".
A PF afirmou que "há registros da ligação de Rocco Morabito com a organização do tráfico de drogas entre Brasil e Europa desde a década de 1990".
A Polícia Federal anunciou uma entrevista coletiva ainda para esta terça-feira com detalhes sobre a operação de captura.
- A vida normal do corretor de drogas -
Por sua vez, o procurador de Reggio Calabria, Giovanni Bombardieri, em coletiva de imprensa realizada virtualmente, reiterou que Morabito, durante toda a sua longa estadia na América do Sul, agiu como "o 'broker' (agente) internacional da droga".
Conhecido como "rei da cocaína" por suas relações com grupos criminosos da América do Sul, Morabito era procurado desde 1995 pela Justiça italiana, que o acusa de associação criminosa e de tráfico de drogas.
Condenado à revelia a 28 anos de prisão, uma sentença que depois foi ampliada para 30 anos, ele foi detido ao lado de outro membro da 'Ndrangheta, Vincenzo Pasquino, natural de Turim, também incluído na lista de criminosos mais procurados.
"Os dois estavam em um mesmo quarto. Morabito ficou muito surpreso (quando o prenderam, ndr). Não havia notado nada incomum. Vivia uma vida normal. Ia à praia e frequentava os locais públicos. Não tinha a vida de um fugitivo", contou o comandante do segundo setor investigativo do Corpo Especial de Operações (Ros) da Itália, Massimiliano D'Angelantonio.
Morabito foi detido em 2017 em um hotel de Montevidéu, capital do Uruguai, depois de morar por 13 anos com uma identidade falsa no balneário de Punta del Este.
O comandante do corpo especial de operações italiano (ROS), general Pasquale Angelosanto, declarou à emissora RAINews que Morabito "tinha uma segunda identidade no Uruguai, formou inclusive uma nova família e se apresentava como um rico empresário da soja, com contatos com autoridades locais".
A Justiça uruguaia aprovou sua extradição para a Itália em 2018. Em junho de 2019, porém, Morabito protagonizou uma notória fuga pelo telhado da Prisão Central de Montevidéu ao lado de outros três estrangeiros. Estava foragido desde então.
O ministro do Interior uruguaio, Luis Alberto Heber, descreveu a fuga como um episódio que encheu seu país de "vergonha internacional" em entrevista coletiva realizada na terça-feira.
O promotor de justiça, Jorge Díaz, informou que o Uruguai não solicitará a extradição de Morabito para não obstruir o mesmo processo em seu país natal.
"Rocco Morabito vai ser extraditado para a Itália", disse ele.
Para o procurador nacional antimáfia da Itália, Federico Cafiero de Raho, essa foi uma operação "exemplar" pela colaboração e cooperação internacional alcançada, já que envolveu também a Interpol, o FBI e a DEA americanos.
"Foi um trabalho inovador em questão de investigação, o clima de cooperação tem sido um aprendizado para todas as operações futuras", afirmou por sua vez na coletiva de imprensa virtual o procurador de Crimes Econômicos Uruguai, Ricardo Lackner.
ROMA