Uma escola da Flórida está sendo criticada por alterar as fotos do anuário de 80 alunas para cobrir seus peitos e ombros. Nenhuma foto de aluno do sexo masculino foi alterada — mesmo quando eles aparecem sem camisa ou apenas de sunga.
Algumas fotos das alunas foram retocadas digitalmente, com roupas sendo "aumentadas" para cobrir partes do corpo que estavam à mostra. Algumas edições foram tão mal-feitas que geraram piadas que viraram até memes.
As autoridades escolares disse à mídia local que as mudanças foram feitas para garantir que as fotos cumprissem o código de vestimenta, que diz que as camisas das meninas devem ser "recatadas".
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Mas as fotos dos alunos homens não foram editadas, apesar de violarem os mesmos padrões.
As alterações digitais foram feitas sem permissão, dizem as alunas.
A coordenadora do anuário da Bartram Trail High School — uma professora — tomou a decisão de editar as fotos após determinar que elas violavam o código de vestimenta.
Um termo de responsabilidade no site da Bartram Trail alerta os alunos que as fotos do anuário podem ser editadas digitalmente para se enquadrarem no código de vestimenta.
Mas alguns alunos consideram as alterações problemáticas e acusam a escola de machismo.
"Existem padrões distintos [para homens e mulheres] no anuário, em que eles olham para o nosso corpo [feminino] e consideram que um pouco de pele tem uma conotação sexual", disse a estudante Riley O'Keefe, de 15 anos, da Bartram Trail, à televisão WJAX News.
"Mas quando eles olham para os meninos, para as fotos da equipe de natação e outras fotos de esportes, acham que está tudo bem, e isso é realmente perturbador e desconfortável."
Em uma declaração à WJAX News, as autoridades disseram que a política anterior da escola era remover todas as fotos que violassem o código de vestimenta. As alterações nas fotos deste ano foram feitas para garantir que todos os alunos fossem incluídos no anuário.
Após as críticas, a Bartram Trail, uma escola pública de ensino médio perto de Jacksonville com cerca de 2,5 mil alunos, disse que reembolsará os pais chateados com as mudanças. O anuário custa US$ 100 (cerca de R$ 530).
O código de vestimenta do distrito para o ano escolar de 2020-2021 diz que os tops e as camisas das meninas "devem cobrir todo o ombro" e devem ser "recatados e não reveladores". "Maquiagem excessiva" não é permitida e todos os alunos estão proibidos de usar "penteados extremos".
No Twitter, o jornalista Joe McLean escreveu: "Todas essas fotos apareceram no anuário da Bartram Trail High School, mas apenas uma foi digitalmente alterada porque a coordenadora do anuário acreditava que ela violava o código de conduta dos estudantes. No total, 80 fotos foram 'ajustadas' no anuário, todas elas com alunas mulheres"
A aplicação do código de vestimenta difere entre as escolas, de acordo com o distrito.
A aplicação dessas regras pela Bartram Trail gerou polêmica local no início deste ano, quando 31 alunos receberam notificações de que haviam violado o código de vestimenta em um único dia. Várias das alunas — entre 15 e 16 anos — disseram na época que foram solicitadas a abrir o zíper de seus suéteres e jaquetas na frente de professores e outros alunos para averiguar se havia regatas ou sutiãs por baixo.
Em resposta, Riley criou um abaixo-assinado online pedindo mudanças no código de vestimenta que, ela diz, "é claramente baseado na sexualização de mulheres jovens". Com o código voltando às manchetes nacionais novamente, o abaixo-assinado já tem mais de 5 mil assinaturas.
Os códigos de vestimenta de escolas dos EUA têm sido criticados nos últimos anos. Alguns acreditam que esses códigos fazem mulheres jovens e meninas terem vergonha de seus corpos.
Um estudo de 2018 em Washington, DC, do instituto National Women's Law Center, sugere que meninas negras e estudantes com corpos maiores eram desproporcionalmente visadas.
A mãe de Riley, Stephanie Fabre, disse à BBC que o incidente "chamou a atenção para algo que nem deveria ter virado um problema".
"Ninguém teria olhado para aquele anuário e para essas fotos e pensado em qualquer coisa além das lindas jovens do nono ano", diz ela.
"Algumas dessas edições geraram intimidação e estresse emocional em algumas dessas garotas, porque suas fotos foram tão mal feitas no Photoshop que agora estão sendo usadas como memes e circulam no Snapchat, e isso é horrível."
Fabre acrescentou que algumas famílias estão exigindo desculpas da escola, mudanças no código de vestimenta e uma reedição dos anuários com as fotos originais.
Mas nem todos os pais são contra as regras. Uma mãe, Rachel D'aquin, disse à WJAX News que aprovava as edições.
"Se os pais não ensinam em casa como as filhas devem se vestir e se vestir decentemente, a escola tem que agir como pais."
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