Jornal Estado de Minas

LISBOA

Chefe da diplomacia da UE cogita duras sanções contra exportações cruciais de Belarus

A União Europeia (UE) pode afetar Belarus duramente com sanções às exportações de potássio e ao trânsito de gás por seu território, como punição pelo desvio de um avião civil - disse à AFP o chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell.



Em uma reunião de cúpula celebrada na segunda-feira em Bruxelas, os líderes dos países europeus "pediram propostas de sanções por setor (...) E há algumas que me vêm à cabeça", afirmou Borrell em uma entrevista exclusiva.

"Belarus é um importante exportador de potássio, 2,5 bilhões de dólares. Tudo passa pelos países bálticos. É fácil de controlar, se você realmente deseja", comentou Borrell antes de uma reunião informal de chanceleres europeus em Lisboa.

"Também podemos imaginar que o gás que chega à Europa através de Belarus poderia passar por outro gasoduto. E Belarus perderia as taxas de trânsito, o que não é desprezível", completou.

No domingo, o governo de Belarus provocou um escândalo internacional ao forçar o pouso de um avião civil que viajava da Grécia para a Lituânia, com o objetivo de prender um ativista opositor do presidente Alexander Lukashenko.

Em resposta, a UE decidiu fechar o espaço aéreo do bloco para aeronaves de Belarus. Agora, a equipe de Borrell deve apresentar um plano de sanções econômicas setoriais.

As sanções que a UE já adotou são exclusivamente contra funcionários do governo bielorrusso, incluindo o presidente Lukashenko. As declarações de Borrell indicam, no entanto, que Bruxelas também pretende mirar em aspectos centrais da economia do país.



"Sequestrar um avião europeu para deter um passageiro provocou uma forte reação. Tomamos decisões sobre o transporte aéreo, que serão dolorosas. Mas os líderes europeus pediram mais", afirmou o diplomata espanhol.

- Relações com Moscou e Pequim -

A resposta ao difícil relacionamento com a Rússia apresenta mais problemas. "Nem tudo funciona com sanções. Com a dinâmica de 'eu te sanciono e tu me sancionas', entramos em uma espiral", advertiu.

"O Conselho Europeu nos pediu um relatório para junho para analisar em que ponto estamos com a Rússia e o que pode ser feito. Mas insisto: não solicitaram sanções", disse.

Para Borrell, "as relações com a Rússia são muito ruins, e agora estamos em um ponto em que temos que decidir qual será o próximo passo".

O presidente russo, Vladimir Putin, tem "uma abordagem de confronto conosco e está se tornando cada vez mais autoritário internamente. Mas precisamos ter cuidado. Diante da Rússia, precisamos da unidade da UE para conseguir detê-la quando viola o direito internacional, mas também devemos poder falar com ela".



"Lamentavelmente, a UE nem sempre consegue encontrar a unidade. Cada Estado-membro tem seus próprios interesses, e a tentação de alguns é agir sozinho, com a ideia de que será melhor", lamentou.

A relação com os Estados Unidos também ilustra o dilema.

"Aqui também estamos muito divididos. Há países que sempre ficarão alinhados com as posições americanas e outros que têm uma visão mais autônoma. Cada vez que digo a palavra autonomia estratégica, há Estados-membros que dizem que querem nos distanciar dos Estados Unidos, querem enfraquecer a Otan. Mas isso não tem nada a ver", disse.

Ele acrescentou, no entanto, que "não há escolha. Não há alternativa à Otan para a defesa territorial da Europa. Mas há problemas para os quais nós, europeus, devemos ser capazes de oferecer uma solução 'pan-europeia', porque nem a Otan nem os Estados Unidos vão lidar com eles".



"A forma como a China se encaixa na governança global será decisiva no mundo em que vivemos. Se a Europa deseja ser um ator global, deve poder defender seus interesses econômicos com a China sem precisar do patrocínio dos Estados Unidos", afirmou Borrell.

- Pessimismo com o Afeganistão -

O Afeganistão é outro exemplo da difícil relação com os Estados Unidos. "O presidente (americano, Joe) Biden decidiu sair. Esta história terminou", disse.

"Não sou muito otimista sobre o que vai acontecer. Quando você perde uma guerra, perde uma guerra", comentou.

"Para nós, os europeus, surge a pergunta de como administrar nossa presença. Temos que assegurar um hospital e um aeroporto em funcionamento, se quisermos manter uma presença mínima, mas não com recursos militares. Isto está descartado", expressou.

Borrell reconhece que seu trabalho não é fácil. "Este não é um trabalho para alguém que se desanima rapidamente. É mais para o teimoso que acredita que a história tem um significado e que devemos avançar nesta direção, mesmo com pequenos passos. E eu acredito nisso".

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