O coronel Assimi Goïta, instigador do que parece ter sido um segundo golpe de Estado em nove meses, "assegura até nova ordem o cargo de presidente da transição", disse nesta quinta-feira (27) à AFP um alto encarregado militar que pediu para ter a identidade preservada.
Ao libertar discretamente na madrugada de quarta para quinta-feira o presidente Bah Ndaw e o premier Moctar Ouane, o coronel Goïta e os outros golpistas cumprem um pedido feito pelo Conselho de Segurança da ONU na quarta-feira.
Mas parecem muito distantes da "retomada imediata" de uma transição civil liderada por civis, também exigida pelo Conselho de Segurança.
O Conselho de Segurança havia solicitado "a libertação segura, imediata e incondicional de todos os funcionários detidos e pediu aos elementos de defesa e forças de segurança que retornem a seus quartéis sem demora".
O coronel Goïta afirmou à missão internacional enviada na terça-feira a Bamako que esperava liderar a transição e nomear o primeiro-ministro, informaram diplomatas que pediram anonimato.
Esta nova tomada de poder, que a comunidade internacional criticou após o golpe concretizado pelos mesmos coronéis em agosto de 2020 contra o presidente eleito Ibrahim Boubacar Keïta, prejudica novamente o futuro do país, crucial para a estabilidade na região do Sahel.
A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), França e Estados Unidos mencionaram a ameaça de sanções.
Os militares ainda não falaram até o momento sobre seus planos.
- "Renúncias forçadas?" -
Na madrugada de quarta para quinta, libertaram o presidente e o primeiro-ministro e, segundo eles, teriam renunciado.
Membros das famílias confirmaram sua libertação. Os dois retornaram para suas casas em Bamako, informaram pessoas próximas.
Desde sua detenção, o presidente e o primeiro-ministro de transição estiveram retidos no acampamento militar de Kati, a 15 km de Bamako.
O presidente Keïta, reeleito um ano antes, foi levado ao mesmo lugar pelos coronéis e obrigado a renunciar.
"Estou bem. Fui libertado ontem à noite. Estou em casa", disse nesta quinta à AFP Moctar Ouane, pelo telefone de uma pessoa próxima. Os telefones confiscados pelos militares quando foram detidos lhes foram devolvidos.
Ele não mencionou nesta rápida entrevista sua situação política nem o anúncio na terça-feira sobre sua renúncia pelos militares. As condições da renúncia de Ndaw e Ouane são desconhecidas, mas a suspeita é que tenha sido forçada.
Os Estados Unidos suspenderam a assistência às forças de segurança e de defesa malienses, anunciou o Departamento de Estado, e destacou que Washington estuda "medidas específicas contra os encarregados políticos e militares que puseram entraves à transição civil para um governo democrático".
Além da Cedeao e da França, os países europeus também estão dispostos a aplicar sanções, declarou na terça o presidente francês, Emmanuel Macron, que se referiu a um "golpe dentro do golpe de Estado".