No centro do Rio de Janeiro, cerca de 10.000 pessoas protegidas com máscaras compareceram à manifestação convocada por várias organizações de esquerda e movimentos estudantis e desfilaram aos gritos de "Fora Bolsonaro", "Bolsonaro genocida", "Vacina já" ou "Fora Bolsovírus".
À tarde, após uma chuva forte, outros milhares - 80.000 segundo os organizadores - lotaram a Avenida Paulista, icônica via da capital econômica da América Latina.
"Ninguém queria testar na rua no meio de uma pandemia. Bolsonaro não deixa outra alternativa. Estamos na rua para defender vidas. Nós não vamos esperar sentados [pelas eleições presidenciais de] 2022. É só o começo", disse Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), ex-candidato do PSOL à Presidência em 2018 e à prefeitura de São Paulo em 2020.
Desde o início da pandemia, que chegou a classificar de "gripezinha", o presidente criticou as medidas de quarentena, promoveu medicamentos sem eficácia comprovada, gerou aglomerações e questionou a eficácia das vacinas.
De fato, a ideia de que muitas mortes poderiam ter sido evitadas se o governo tivesse começado mais cedo a campanha de vacinação, que avança lentamente e com interrupções por falta de insumos, estava entre as críticas.
"Nós precisamos deter esse governo, precisamos dar uma basta. Esse Bolsonaro é um genocida. Ele é um assassino, ele é um psicopata, ele não tem sentimentos, ele não sente como a gente. Ele não é capaz de perceber o desastre que ele esta fazendo", disse à AFP o empresário Omar Silveira.
Os manifestantes também fizeram outras críticas ao presidente, a quem acusam de promover o desmatamento da Amazônia, a violência dos invasores de terras indígenas e o racismo.
- Incidentes -
Manifestações semelhantes, que vêm ocorrendo em diferentes formatos com força crescente há meses.
Os protestos se repetiram em dezenas de cidades brasileiras, como Salvador, Brasília ou Belo Horizonte, onde um manifestante se fantasiou de esqueleto levando em uma mão uma foice e na outra, um frasco de cloroquina - sugerida por Bolsonaro apesar de sua ineficácia para tratar a covid -, constatou a AFP.
A capital federal teve o maior protesto de rua contra o Bolsonaro desde o início da pandemia. Os manifestantes caminharam em direção ao Congresso, onde uma CPI do Senado investiga há semanas possíveis "omissões" de Bolsonaro na pandemia.
No Legislativo acumulam-se, também, dezenas de pedidos de impeachment contra o presidente.
Os organizadores das passeatas pediram aos presentes que respeitassem as medidas de proteção contra o coronavírus, e até distribuíram máscaras e álcool gel em várias delas.
Apesar de uma jornada pacífica, a manifestação em Recife foi dispersada com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, sem que tenha sido informado o motivo.
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, ordenou investigações contra os policiais envolvidos, que foram afastados de suas funções durante o procedimento.
As passeatas aconteceram após dois fins de semana com manifestações de apoio ao governo convocadas pelo próprio Bolsonaro, em resposta à sua perda de popularidade, que caiu para o mínimo histórico de 24%, de acordo com a última pesquisa do Datafolha.
A pesquisa revela, ainda, que 49% dos brasileiros são a favor do impeachment, enquanto 46% são contra, e aponta o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, grande rival de Bolsonaro, como o favorito para vencer as eleições de 2022.
RIO DE JANEIRO