"Hoje me preocupa especialmente a situação no Haiti, onde as fontes informam um forte aumento de casos, hospitalizações e mortes nas últimas semanas", disse Carissa Etienne, diretora da Opas. "Fazemos um apelo aos parceiros e organizações que trabalham no Haiti para que reforcem urgentemente a resposta à covid-19".
"O país vai precisar de mais capacidade de saúde, além de apoio para adotar as medidas preventivas necessárias para interromper a transmissão. Ambos serão decisivos nas próximas semanas. Não há tempo a perder", alertou.
No Haiti, o país mais pobre das Américas, mais de 40 pessoas com teste positivo para covid-19 nos últimos dez dias morreram em hospitais, enquanto, desde março de 2020, menos de 300 mortos foram oficialmente registrados como relativos à epidemia, conforme relatórios da AFP. Isso ocorre em meio a uma onda de crimes, que incluem sequestros, e a desastres naturais recorrentes.
Após a detecção das variantes Alfa e Gama (identificadas respectivamente pela primeira vez no Reino Unido em dezembro de 2020 e no Brasil em janeiro de 2021), o governo haitiano declarou em 24 de maio um primeiro estado de emergência sanitária por oito dias, prorrogado na terça-feira por mais duas semanas por causa do aumento no número de casos.
O toque de recolher foi renovado para o período entre das 22h às 5h, assim como a obrigatoriedade do uso de máscaras em todos os espaços públicos. Essa medida, aplicada em maio de 2020, até agora só foi respeitada por uma minoria de haitianos, mesmo com a superlotação nos transportes públicos e mercados.
- Vacinar o quanto antes -
Carissa Etienne ressaltou que a circulação das duas variantes preocupantes e o não cumprimento das medidas de prevenção por grande parte da população "provavelmente" estão impulsionando a transmissão no Haiti. Ela também alertou sobre a importância de iniciar o quanto antes a vacinação anticovid.
O Haiti, com 11,3 milhões de habitantes, é um dos dez países do mundo que ainda não iniciou sua campanha de vacinação. Espera-se receber 130.000 doses da vacina AstraZeneca "até o final de junho ou início de julho", segundo o Ministério da Saúde.
"Uma prioridade muito alta é oferecer vacinação a todos os profissionais de saúde da linha de frente", disse Carissa, chamando de "encorajador" que o governo haitiano tenha aceitado a vacina AstraZeneca, inicialmente rejeitada por causa de dúvidas sobre seus possíveis efeitos colaterais.
A nação caribenha receberá os imunizantes por meio do Covax, mecanismo global de acesso às vacinas promovido pela OMS, cuja distribuição nas Américas está sob responsabilidade da Opas. O Haiti participa da Covax sem nenhum custo devido à sua condição econômica.
Segundo Carissa, diante da necessidade urgente de se obter mais doses para aquele país, a Opas estuda a possibilidade de doações. Ela destacou a importância do cumprimento das medidas de prevenção e da educação comunitária, para tirar as dúvidas da população sobre as vacinas. A grande maioria dos haitianos é cética quanto ao perigo ou à existência do vírus.
WASHINGTON