Agora, pela primeira vez em mais de 300 anos, os visitantes do Rijksmuseum, em Amsterdã, podem ver a pintura em sua forma original, graças à impressionante reconstrução das partes perdidas.
Com base em uma pequena cópia do século 17 de "A Ronda Noturna", os cientistas usaram inteligência artificial para recriar as partes que faltavam, que foram impressas e montadas em torno da famosa obra de arte.
"É muito emocionante ver isso", disse o diretor do Rijksmuseum, Taco Dibbits, à AFP. "Porque você conhece a pintura desde criança e sente que, de repente, voltou no tempo uns 300 anos", continuou.
A reconstrução revelou o verdadeiro dinamismo da composição original de Rembrandt, com o capitão Frans Banninck Cocq e o tenente Willem van Ruytenburch, no centro da pintura.
As partes perdidas com dois homens e um menino foram recuperadas do lado esquerdo da tela, onde foi cortada uma tira de 60 centímetros da pintura, que mesmo em suas menores dimensões mede 3,79 metros por 4,36 metros.
O Rijksmuseum, que recentemente reabriu após a flexibilização das medidas contra o coronavírus, exibirá a obra por três meses, como parte de uma grande restauração da tela lançada em 2019.
- 'IA na escola de arte' -
Rembrandt pintou "A Ronda Noturna" em 1642, encomendado por Cocq, o prefeito e líder da guarda cívica de Amsterdã, para representar os oficiais e outros membros.
Depois de ficar pendurada no clube da guarda cívica por 73 anos, a pintura foi transferida para a Prefeitura da capital holandesa, onde deveria ser colocada entre duas portas, mas não "coube", diz Dibbits.
"As pessoas que a transportaram decidiram cortá-la e, na verdade, pegaram a tesoura e cortaram os quatro lados", continua.
As tiras cortadas nunca foram encontradas. Foi o primeiro de muitos ataques sofridos por "A Ronda Noturna".
Um homem esfaqueou a pintura em 1911. Mais tarde, ela foi escondida em um bunker quando a Alemanha nazista invadiu a Holanda e danificada por um doente mental em 1975 além de ser encharcada com ácido em 1990.
A reconstrução das peças que faltavam foi possibilitada por uma pequena cópia realizada no século XVII pelo artista Gerrit Lundens. A réplica tinha estilo e cor diferentes, assim como sua perspectiva.
A solução foi "enviar inteligência artificial para a escola de arte", disse Robert Erdmann, especialista do Rijksmuseum responsável pelo projeto.
- 'Um prazer' -
"Se apenas expandíssemos tudo e colocássemos ao lado de 'A Ronda Noturna', não coincidiria de forma alguma", disse Erdmann à AFP.
"Então, para ajudar a combiná-lo, formei três redes neurais separadas para ajudar neste processo, então é um tipo de inteligência artificial que você pode ensinar ao computador fornecendo modelos", acrescentou.
O programa comparou o original de Rembrandt com a cópia e, depois de dominar seu estilo, Erdmann começou a trabalhar recriando as peças perdidas.
Tamanho mimetismo permitiu até copiar as pequenas rachaduras na superfície da tela existente, contou Erdmann.
A imagem foi finalmente impressa em tela, envernizada e, em seguida, colocada em quatro armações de metal localizadas ao redor da pintura.
"Foi realmente um prazer" ver a pintura restaurada. Isso realmente muda toda a composição ", enfatizou Erdmann.
Especialistas em arte agora podem observar o capitão vestido de preto e seu tenente de uniforme branco que se afastam dos militares em movimento, enquanto outras figuras à esquerda adicionam profundidade e perspectiva.
"O importante é que Rembrandt continua a nos surpreender, continua a fazer coisas que você não esperaria que ele fizesse", conclui Dibbits.
AMSTERDÃ