No domingo passado, dois terços dos franceses com direito a voto, ou seja mais de 30 milhões de pessoas, não compareceram às urnas e preferiram aproveitar o início do verão e a suspensão das restrições pela covid, um recorde para uma eleição desde a instauração da V República (1958).
"Fazer com que a abstenção vença é provocar uma derrota da democracia. Devemos todos, coletivamente, combatê-la (...). Hoje faço um apelo solene a todos os nossos compatriotas, a todas e todos: no próximo domingo, votem!", tuitou o primeiro-ministro Jean Castex.
O presidente Emmanuel Macron, que permaneceu em silêncio durante vários dias, abriu na quarta-feira a reunião semanal de gabinete afirmando que "a abstenção é um alerta democrático que deve se respondido", afirmou o porta-voz do governo, Gabriel Attal.
A taxa de abstenção recorde, a apenas 10 meses das eleições presidenciais, soou como um alerta para todos os partidos. O governo organizou uma campanha relâmpago nas redes sociais para estimular os franceses a votar e algumas pessoas defenderam a adoção do voto eletrônico.
Para a analista Céline Braconnier, do Instituto Science Po, "entraram em jogo os motores tradicionais da abstenção: a desconfiança nos governantes eleitos, a sensação de que estão desconectados e afastados dos cidadãos e de que votar não muda realmente nada".
"É um novo momento de desencanto democrático", resume.
- Primeira região para a ultradireita? -
Porém, o que está em jogo nestas eleições é importante: as 13 regiões francesas têm competência em algumas áreas, especialmente transporte público, ensino médio e planejamento territorial.
Além da questão da participação, as eleições de domingo têm uma parcela de incerteza em várias regiões.
No domingo passado, o partido de extrema-direita de Marine Le Pen (Reagrupamento Nacional, RN) conseguiu vencer apenas em uma região, Provença-Alpes-Costa Azul (sudeste), um resultado decepcionante porque todas as pesquisas apontavam a formação na liderança em vários territórios.
Nesta região, seu candidato Thierry Mariani, que foi ministro do ex-presidente Nicolas Sarkozy e desertou do partido de direita Os Republicanos em 2019, terá uma disputa acirrada com o rival de direita Renaud Muselier, que deve ser beneficiado pela retirada da lista de esquerda.
Esta é a única região em que o RN poderia vencer, mas um triunfo seria histórico porque seria a primeira vez que a extrema-direita conseguiria governar uma região.
Para a maioria presidencial, o resultado foi ainda menos brilhante. Apesar de ter vários ministros na disputa, muitas listas não conseguiram sequer alcançar os 10% necessários para passar ao segundo turno e, exceto em caso de surpresas, o partido de Emmanuel Macron, A República Em Marcha (LREM), não conseguirá nenhum governo regional.
O resultado é atribuído à falta de presença local do jovem partido presidencial, criado há quatro anos, mas como ressalta Jessica Sainty, professora de Ciências Políticas da Universidade de Avignon, "isto não o impediu de vencer as eleições presidenciais e legislativas em 2017.
Os partidos "tradicionais", que haviam desaparecido do panorama da imprensa nos últimos anos, sacudidos pela surpreendente eleição do jovem centrista Macron, avançam com boas probabilidades de confirmar a vitória do primeiro turno.
A direita está em boa posição para manter as seis regiões que já governa, mas deve ter duelos apertados em algumas delas, incluindo 'Île-de-France' (região de Paris). As alianças entre ecologistas, socialistas e a esquerda radical devem permitir à esquerda a vitória em seis regiões.
PARIS