Atrás das grades, a uma rua de distância, fumaça ainda sai do edifício Champlain Towers, que colapsou parcialmente. Ouve-se o som de guindastes que limpam os escombros do prédio que veio abaixo na madrugada de quinta-feira, deixando ao menos cinco mortos e 156 desaparecidos.
Debaixo da foto de Alfredo, o pai, e seu filho adolescente, Lorenzo, lê-se a palavra "FALTA" e uma mensagem: "Um amigo da família me diz que estavam no apartamento 512".
Também é possível ver as fotos de um casal de idosos sentados na mesa de um restaurante, a de um jovem de terno e gravata borboleta, ou a de um casal abraçado na praia: Ilan Naibryf e Deborah Berezdivin.
Houve quem reproduzisse passagens da Bíblia e as colasse com papéis adesivos. Ao redor das fotos foram colocados buquês de flores e no chão, velas.
"Vemos a fumaça à distância e aqui os rostos dos desaparecidos agora são inesquecíveis", disse à AFP Olivia Ostrow, uma francesa que mora há 20 anos nesta pequena localidade ao norte de Miami.
"Damos rostos a estes desaparecidos, estes pais, estes filhos. São pessoas como nós", explica, com lágrimas nos olhos.
Gina Berlin, que mora no bairro há quase 30 anos, veio rezar pelos desaparecidos. "Ainda estou em choque", disse a mulher de 54 anos, que tem dois amigos na parte intacta do prédio que conseguiram escapar.
- Paz e meditação -
Em meio ao barulho dos geradores elétricos e dos veículos de emergência que entram e saem do acampamento base, recolher-se é muito difícil. A polícia inclusive proibiu por um tempo que as pessoas ficassem em frente ao monumento.
Ruas depois, a calma de um parque também transformado em local de memória contrasta com o barulho dos guindastes.
Na esquina de uma rua de casas pequenas, os moradores montaram um pequeno monumento na entrada de um espaço para cães.
Nas grades foram colocados buquês de flores, mensagens de apoio e os nomes de vários desaparecidos com os números de seus apartamentos.
Dana Culvin, de 53 anos, teve a ideia na sexta-feira. "Só quero transmitir minhas orações e meu amor pela comunidade e especialmente a quem está esperando respostas", disse, referindo-se às famílias das pessoas desaparecidas.
"Aqui pode-se encontrar paz", diz Daniel Calzadilla, sentada no banco de um parque. "Conheço muitas famílias que morreram, a meditação é uma coisa boa para sentir calma no corpo e na mente", explica.
Ao passar em frente ao parque, Raphael Amar para em frente ao monumento.
Este membro da comunidade judaica, de 63 anos, nascido no Marrocos e residente em Surfside há 20 anos, volta da sinagoga, onde o clima estava muito pesado neste dia de Shabat "por toda essa gente que falta".
Muitos judeus estão entre os desaparecidos do prédio, mas este pequeno monumento "mostra que somos uma comunidade neste pequeno povoado. Todos somos vizinhos, e isso cria um extraordinário sentimento de unidade".
audima